Carlos Siqueira, Presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro
A primeira reação à cassação do mandato do Ex-Deputado Eduardo Cunha foi a de comemorar, celebrar, algo que é muito justo, inclusive pelas cansativas protelações de que ele se valeu para fugir ao julgamento, que finalmente veio e de forma contundente, com um placar substantivo.
Passada essa euforia ? o que deve ocorrer rapidamente ? impõe-se aos agentes políticos extrair as consequências, e elas são inequívocas. Em um intervalo inferior a um mês perderam seus mandatos em caráter definitivo a Ex-Presidente Dilma Rousseff e o Ex-Presidente da Câmara dos Deputados.
O que esses fatos têm a nos dizer? Em primeiro lugar que vivemos a mais absoluta e consolidada normalidade democrática. Dentro desse contexto, o que é óbvio ao regime democrático: ninguém, absolutamente ninguém, está acima da lei. A superação de certa tolerância com o mandonismo e com líderes pouco afeitos às práticas republicanas é, portanto, o saldo mais relevante do conjunto de eventos recentes.
Os democratas têm a comemorar, em complemento, a postura vigilante da sociedade civil, que em sua maioria foi intransigente com os dois lados que se colocaram em luta no Parlamento. Nem Dilma, nem Cunha foram poupados, porque a sociedade recusou em bloco um período em que o Brasil foi lançado a uma das maiores crises de sua história, marcado por inauditos três anos seguidos de recessão ? na percepção popular, apesar de oponentes, ambos têm responsabilidades pelo quadro, ainda que o Governo fosse obviamente assunto da Presidente e de seu Partido.
Nessa fase que estamos fechando, os descaminhos da política trouxeram problemas severos e práticos para a população, com destaque para o desemprego cavalar, que é um indicador síntese de desapreço pelo povo. É simples, claro e evidente: a maioria pode não ir às ruas, talvez não se manifeste de forma ostensiva, mas não aceitou esse descaso.
Vale celebrar também um ator que veio para ficar e que talvez tenha como seu maior poder a “desconstrução” ? as redes sociais. Todos sabem como é difícil reunir gente em favor de uma causa, de uma candidatura, de um tema, em uma perspectiva positiva. São muitos os interesses e as pautas e, portanto, para construir há muita diversidade e competição. Quando se trata, contudo, de negar algo, de demonstrar inconformidade, a história é completamente outra.
O placar não deixa dúvidas quanto a isso. 450 votos a favor, 10 contrários e 9 abstenções representam uma vitória inquestionável dos votos futuros, manifestados essencialmente por meio das redes, sobre aqueles que levaram aos mandatos atuais. Como se diz por aí, a “internet não esquece”. Os políticos aprendem rapidamente como sempre e, portanto, se adaptam a essa condição.
Como essa verdadeira onda de participação via redes sociais parece ter vindo para ficar, todos temos a esperar que continuará a não haver clemência com os que desrespeitam ou desrespeitaram a coisa pública. Encerramos uma fase política aguda, o que habilita o Brasil a pensar outras agendas e, muitos especialmente, a arrumação da casa que precisa ser feita e com urgência. Sem isso, não voltaremos a crescer. É certo, contudo, que a história não terminou sua faxina e, portanto, há mais por vir.