Autor: Domingos Leonelli
Hoje, 22 de abril, é comemorado o Dia Mundial da Criatividade e da Inovação dando início à quarta edição do World Creativty Day , um evento que reúne participantes de 18 países em 1.480 atividades. O WCD é considerado, portanto, o maior festival colaborativo do mundo.
A Organização das Nações Unidas criou esse evento porque este setor já gerou quase 30 milhões de empregos nos 18 países representados no Festival, inclusive o Brasil.
Embora, desde a invenção da roda, a criatividade e a inovação sempre tenham sido os fatores determinantes do grandes avanços econômicos e sociais da humanidade, no século XXI esses fatores conquistam uma centralidade historicamente inédita no desenvolvimento das forças produtivas.
A geração de valor, antes determinada pelos bens de investimentos em capital fixo (terra, maquinas, estruturas físicas) está crescentemente sendo substituída pelos investimentos em inovação e criatividade. E mesmo na produção de bens tangíveis, os fatores mais determinantes do preço final das mercadorias é determinado pela quantidade de inteligência embarcada como no caso de telefones celulares, televisores, computadores. O que conta principalmente nesses investimento, são os softwares, o design, a marca, que somados aos processos produtivos, à digitalização, à inteligência artificial, às máquinas comandando maquinas, tornaram-se os fatores mais dinâmicos da economia.
E as lendárias fabricas, a poderosa indústria manufatureira que protagonizou os processos econômicos durante mais de dois séculos, perdem a posição de vanguarda. Não é mais a quantidade de trabalho físico, de aço, de circuitos elétricos, de insumos e matérias primas físicas, que determinam o principal fator no valor das mercadorias. Mas sim, os componentes da inovação tecnológica, os softwares oriundos da pesquisa cientifica e da criatividade.
Surge uma nova economia, a Economia Criativa cujos componentes básicos são a inovação e a criatividade.
E as maiores empresas do mundo já não são as que fabricam carros, sapatos, geladeiras ou combustíveis. São a Google, a Aple, o Facebook, a Amazon, a Teslen, para as quais as fabricas e lojas físicas são absolutamente secundárias. Elas produzem e vendem, fundamentalmente, informação, processos, cultura, os chamados intangíveis da nova Era do Conhecimento.
As tecnologias digitais de comunicação, por sua vez, possibilitaram à cultura um espaço econômico e social, nunca antes imaginado. Hoje as grandes orquestras do mundo transmitem Bach, Tchaiscovski, Bethoven pelos celulares de bilhões de pessoas em todo o mundo. Espetáculos de dança, teatro, exposições dos maiores museus, convivem com rodas de samba, apresentações de tango, salsa ou forró, pelas televisões ou celulares. Trilhas sonoras antes feitas apenas para filmes, hoje se multiplicam em milhares de produtos tecnológicos como, por exemplo, os games.
Poderosos computadores ajudam a pesquisa cientifica e a produção de vacinas numa inimaginável velocidade, como aconteceu com as vacinas contra a Covid 19.
Se tudo isso estivesse acontecendo num mundo sem fome e sem doenças causadas pela subnutrição, sem barracos e favelas, sem violência, sem a humilhação do desemprego, sem pessoas morando nas ruas, sem crianças se prostituindo, sem jovens vivendo do tráfico e morrendo pelas drogas pesadas, sem a destruição da natureza, estaríamos num lugar ainda melhor que o “maravilhoso mundo novo” de Aldous Huxley.
Mas apesar dos grandes avanços sociais verificados nos países capitalistas, as desigualdades entre pobres e ricos, entre regiões, entre raças e entre homens e mulheres, permanece. E, em muitos casos, aprofunda-se em razão mesmo da inovação tecnológica.
A poderosa e a quase onipresente criatividade ainda não conseguiu servir ao que deveria ser o seu principal papel: combater e reduzir substancialmente a desigualdades no mundo.
Permitam-me, portanto, concluir esse texto que já se alonga demais, com a citação de duas teses propostas para o novo programa do Partido Socialista Brasileiro e contida no livro 4 da Autorreforma do PSB. A primeira é a tese 510, afirmando que “nos últimos cem anos o capitalismo demonstrou sua criatividade desenvolvendo produtos de valor universal, exportando cultura e até mesmo modos de vida. O socialismo, supostamente, o seu sucedâneo histórico, precisará demonstrar um potencial criativo pelo menos igual. O capitalismo moderno, sem dúvida, só será efetivamente superado por um Socialismo Criativo.”
A segunda, a tese513, nos fala da felicidade: “se a criatividade capitalista tem como objetivo principal a ampliação do mercado e o lucro, a criatividade socialista deve ter como objetivos a ampliação, na sociedade, dos espaços de liberdade, o atendimento das necessidades básicas e fundamentais, o bem estar e a felicidade das pessoas”.
Para isso precisamos realizar uma grande revolução criativa para uma nova era.
Domingos Leonelli – Presidente do Instituto Pensar e coordenador do site Socialismo Criativo