O Partido Socialista (PS) de Portugal conseguiu, neste domingo (7), uma expressiva vitória nas urnas, o que permite dar continuidade ao seu processo de mudanças no país por mais quatro anos.
Os socialistas obtiveram 36,6% dos votos, garantindo 106 cadeiras, 20 a mais do que as 86 que detêm atualmente, do total de 230 existentes na Assembleia da República, o Parlamento do país.
Distante apenas seis votos da maioria na Casa, o premier português António Costa já começou a fazer contato com outros partidos de esquerda para formar maioria no Parlamento, como fez no último mandato com a Coligação Democrática Unitária (CDU), formada pelo Partido Comunista Português e Verdes, e com o radical Bloco de Esquerda.
“Os portugueses gostaram da geringonça, então o PS buscará renovar essa solução política”, disse o presidente na manhã desta segunda-feira, depois da divulgação dos resultados.
A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, já declarou disposição para renovar o acordo com o PS, seja ele formal ou apenas para votações pontuais.
O desempenho confirma o favoritismo do governo socialista, que foi capaz de acertar as contas, retomar o crescimento e a geração de emprego, e melhorar a qualidade de vida da população.
Em nota, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, cumprimentou o PS português pela conquista.
“O sucesso eleitoral reflete o fato de que nós, socialistas, temos a obrigação de seguirmos nossas convicções ideológicas e representarmos de forma absolutamente fiel os segmentos populares, as classes médias, o pequeno empresariado”, disse Siqueira.
“Somente assim seremos, como ocorre em Portugal, uma alternativa concreta à ameaça que o avanço da extrema-direita tem imposto a muitos países no mundo, como ocorre neste momento ao Brasil”, completou.
Segundo ele, a autorreforma proposta pelo PSB tem por objetivo produzir este mesmo efeito que se observa em Portugal, ou seja, “contribuir de forma determinante para organizar um campo democrático capaz de dar um basta ao atraso, ao autoritarismo e ao obscurantismo que insiste em levantar a cabeça, para atacar a cultura e a civilização”.
No último mês, Siqueira esteve reunido em Lisboa com socialistas do PS, acompanhado do secretário de Relações Internacionais do PSB, deputado Alessandro Molon.
Avanços
Em quatro anos de governo socialista em Portugal, o desemprego caiu de 12,4% para 6,3%, a mais baixa taxa dos últimos 17 anos. Há pouco mais de 300 mil desempregados — em uma população de 10,3 milhões —, a menor quantidade em 28 anos e cerca de 40 mil a menos que no mesmo período de 2018.
O prêmio de risco, que estava 200 pontos acima do espanhol, hoje está um ponto. Os títulos do Estado, que eram títulos podres para as três principais agências de classificação de risco, subiram dois níveis e o país se financia hoje em melhores condições do que a Espanha.
Portugal começou a se recuperar em 2015 dos estragos de 2008, quando teve que pedir ajuda financeira à troika formada por FMI , Banco Central Europeu e Comissão Europeia . Em 2016, o governo de Costa reverteu cortes nas aposentadorias e salários impostos no auge da crise, adotando medidas de incentivo ao consumo, aos investimentos e ao turismo.
Os resultados das medidas adotadas contrariaram as previsões dos principais organismos internacionais.
Em junho de 2016, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) rebaixava a previsão de crescimento português para 1,2%, o Fundo Monetário Internacional (FMI) para 1,4% e Bruxelas para 1,5%. Nenhum acertou: o crescimento foi de 2%. A OCDE aumentava a previsão de déficit para 2,9% e Bruxelas, para 2,7%. Também estavam errados: foi de 2%.
Direita decepciona
A direita portuguesa, que nos últimos quatro anos centrou fogo no discurso do “quanto pior, melhor”, tentando antecipar um caos que não se confirmou em realidade, teve um desempenho decepcionante.
Nestas eleições legislativas, atrás dos socialistas está o centrista (PSD), com 27,9% e 77 assentos. A terceira força foi o Bloco de Esquerda, como ocorreu há quatro anos, com 9,7% e 19 deputados (10,2% e 19 cadeiras em 2015); o PC vem em seguida (em coalizão com Os Verdes), com 6,7% e 12 assentos (8,3% e 17); o CDS, de direita, obteve 4,2% e cinco lugares. A sexta força foi a sigla ambientalista PAN, com 3,3% e quatro cadeiras (1,4% e 1 em 2015).
A maior queda ocorreu no direitista CDS. Após o resultado da eleição, seu líder, Assunção Cristas, anunciou um congresso extraordinário do partido e sua renúncia à reeleição, depois de quatro anos à frente do partido.
No início, a desconfiança
No começo, os socialistas enfrentaram a desconfiança, principalmente daqueles que defendiam as políticas de austeridade.
“Enfrentamos uma desconfiança política em relação à nossa capacidade de implementar o programa do Governo”, lembrou dois anos atrás ao EL PAÍS o atual ministro das Finanças Mário Centeno.
“Tentaram nos convencer de que a única solução era a austeridade, que em seu conjunto foi excessiva. Foi aplicado um discurso de reformas estruturais que não só cansou as pessoas, como também impediu o efeito dessas reformas. A Europa aplicou uma receita errada, parcial e incompleta”, afirma.
Os mesmos organismos internacionais que rejeitaram Centeno anteciparam desastres econômicos se o governo português baixasse o IVA sobre serviços de alimentação de 23% para 13%, reduzisse a jornada de trabalho dos funcionários de 40 para 35 horas semanais e aumentasse o salário mínimo em 20%.
O governo de Costa e Centeno fez justamente o contrário – as piores previsões não se confirmaram e Portugal deslanchou em sua recuperação.