O Portal do PSB conclui a série de artigos do cientista político e doutor em Relações Internacionais Adriano Sandri. Neles, Sandri analisa a questão democrática, as eleições de 2022, o socialismo, o programa partidário, os desafios do país, a crise das instituições e, nesta parte final, apresenta uma “Carta do povo brasileiro em defesa da democracia”. O primeiro artigo foi publicado na quinta-feira, 1/9.
Leia o quarto e último texto:
Não é rara a proposta de membros de direção do PSB de retirar o termo ‘socialista’ da sigla do PSB. Ele seria anacrônico e eleitoralmente pesado. Partidos com a defesa do ‘social’, fora do socialismo, não faltam no Brasil: quem prefere ‘social’ a socialismo, tem opções.
Por que socialismo? Por ser uma proposta de sociedade diferente do capitalismo e mais completa do que a social-democracia, do o trabalhismo e também o comunismo e toda forma de autoritarismo de direita ou de esquerda. Esta discussão deve ser sempre aprofundada no PSB: foi a partir da ideologia de um socialismo democrático que nasceu o PSB moderno, em 1947, ideologia que às vezes não é bem entendida por filiados ao nosso partido.
Sendo nossa realidade política claramente uma ‘democracia de aparência’, nossa proposta socialista é mais do que atual e necessária.
O processo eleitoral necessita da dimensão política maior para ser um passo à frente na superação dos imensos problemas que caracterizam nossa vida social.
Tudo indica que os embates eleitorais, além do nível das acusações e dos confrontos entre candidatos, terão como confronto ideológico ou maior a defesa da democracia ou o autoritarismo eficiente. Esse debate será um pouco mais profundo e evidente em comparação com o pleito de 2018. Mas a parte mais proeminente do debate eleitoral será dedicada ao ‘Plano de governo’. A situação socioeconômica é tão grave, a injustiça e disparidade social é tão pesada, que sem dúvida ocupará o espaço central da disputa eleitoral. Nosso envolvimento no pleito eleitoral deve explicitar o que é superar a ‘democracia de aparência’.
Apresento aqui uma bela síntese, a “Carta do povo brasileiro em defesa da democracia”:
Muito tem se falado sobre democracia. Mas afinal, o que é democracia para nós, o povo?
Democracia é termos o direito do voto, do livre pensar, de professar nossa fé e nosso credo. É vivermos livres de ameaças autoritárias e do medo da fome e do desemprego.
A democracia que exigimos é aquela em que uma mãe não tenha que empurrar, com os olhos marejados, o próprio prato de comida para matar a fome de seu filho.
Nossa democracia só será para valer quando cuidarmos de todos os pequenos, os miúdos, os fragilizados, e não deixarmos ninguém para trás. Uma democracia com direitos para todos, mas que olhe especialmente para os mais vulneráveis.
A democracia que buscamos é a democracia das oportunidades, onde um agricultor possa celebrar o abraço carinhoso da filha, que conseguiu, com sua dedicação e esforço, entrar numa boa universidade. Para estudar o que desejar, construir seu próprio caminho e vencer na vida.
A democracia que buscamos todos os dias, é uma em que pais e mães não fiquem com o coração apertado toda vez que seus filhos saírem para estudar, trabalhar ou se divertir, por medo da violência que mata. E que castiga ainda mais a população pobre e preta das periferias.
A democracia que almejamos é aquela onde lazer e cultura sejam verdadeiramente direito de todos. Ir ao cinema, assistir a uma peça de teatro, ouvir uma boa música, não podem ser privilégios de poucos.
O Brasil democrático não aceita que crianças sejam abandonadas à própria sorte, com dificuldade de ler e escrever aos 10 anos. Democracia é ter direito a escola de qualidade e ter professores reconhecidos.
Democracia é ter direito ao descanso merecido depois de décadas de trabalho duro. Ter aposentadoria decente, para poder aproveitar os netos e tudo aquilo que foi sacrificado durante a jornada da vida.
A democracia que queremos para o Brasil cuida de cada indígena e preserva cada pedaço de terra, pois entende que o respeito à natureza e aos nossos povos originários dizem muito sobre nosso passado e ainda mais sobre o futuro que queremos.
Democracia é garantir que todos tenham o direito de ser como são e amar quem quiser. Livre do preconceito, da opressão e do julgamento dos outros.
A democracia do povo brasileiro só será verdadeira quando todos tiverem não somente um teto, mas também um lar para descansar o corpo e a alma depois de um dia duro de trabalho.
Na democracia desta nossa terra onde tudo que se planta prospera, o Estado precisa estender as mãos aos que têm os pés rachados, as mãos grossas e o rosto marcado pelo trabalho de sol a sol. Aos que usam a enxada e o arado para levar comida à mesa de todos.
A democracia que exigimos garante água em cada torneira e saneamento em cada morada. Não tolera crianças brincando em valas cheias de esgoto e lixo.
Democracia é o direito ao amparo na hora da doença. Não deixa faltar leitos, remédios e vacinas. Não aceita que filhos e filhas, pais e mães, tenham que chorar ao leito de um ente querido que tenha partido pelo descaso do Estado.
Democracia é o direito a ter a carteira profissional assinada e direitos trabalhistas garantidos. É ter apoio e dinheiro para empreender e montar o próprio negócio. Fazer da própria criatividade e perseverança o seu ganha pão. Direito a ver o imposto que pagamos ser revertido em benefícios para todos, e não apenas para poucos.
Democracia é valorizar quem nos protege. Quem pede bênção pela manhã e vai à luta, fardado ou não, com honra e coragem, para garantir a segurança de nosso povo.
Democracia é o direito de conhecer as belezas deslumbrantes do Brasil. Levar a família para a praia, brincar na areia e ver o mar. E vez ou outra, o Pantanal, a Amazônia, a Serra Gaúcha, os Lençóis Maranhenses e o Cristo Redentor.
Liberdade, cuidado, direitos e oportunidades. É disso que é feita a democracia. É o que nós, o povo, acreditamos.