Apenas um dos 49 parlamentares do Rio de Janeiro – somando os 46 deputados federais e os três senadores – demonstrou preocupação em ajudar com recursos o Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído em um incêndio de grandes proporções no domingo passado.
De 2015 para cá, só Alessandro Molon (PSB-RJ) destinou uma de suas emendas parlamentares ao museu. Ele apontou que 300 mil reais deveriam ser repassados ao órgão. Esse valor foi pago em duas vezes. Ao todo, cada congressista pode distribuir 14,8 milhões para a área ou obra que bem entender.
A informação é de uma matéria publicada nesta terça-feira (4) na versão brasileira do espanhol El País. No texto, o jornalista Afonso Benites denuncia as seguidas quedas dos gastos da União com o Museu Nacional a partir de 2001: a verba pública que o museu recebia variava entre 1 milhão e 1,9 milhão de reais anuais.
Nos últimos cinco anos, contudo, sofreu seguidos cortes e a previsão para 2018 era de apenas 205.821 reais, 2,7 vezes menos que os 563 mil reais que a Câmara dos Deputados irá desembolsar este ano para pagar pela lavagem de seus 83 veículos oficiais, destaca o jornal.
“Não se constrói uma nação sem memória e sem conhecimento. Foi como se tivessem roubado de nós um pedaço de nossa história. A exemplo do que ocorreu em Mariana (MG), o incêndio do Museu Nacional mostrou como o descaso provoca perdas irreparáveis”, criticou Molon em suas redes sociais.
“Luto contra esse descaso com todas as minhas forças, e por isso busquei ajudar o Museu Nacional e outros museus também. A cultura, a educação e a ciência pedem socorro! Seguiremos resistindo e cobrando. Não vamos desistir”, destacou o socialista, que participou de um ato em defesa do Museu na Cinelândia nesta segunda-feira (3).
Para Molon, a tragédia é mais uma das consequências dos cortes promovidos pelo governo Temer com a chamada PEC do Teto dos Gastos.
“Além de tentarem nos roubar o futuro, nos roubam o passado. Estamos todos devastados. É urgente derrubar essa cruel emenda do Teto de Gastos de Temer, que congela por 20 anos os investimentos em cultura, saúde, educação, segurança”, afirma.
A gestão Temer investe menos no Museu Nacional do que gasta para manter o Palácio da Alvorada, residência presidencial que está desocupada desde o impeachment de Dilma Rousseff. Os gastos com o palácio custam 500 mil reais por mês, que inclui custos com energia elétrica e jardinagem.
A ausência do ministro Sergio Sá Leitão nas comemorações do Bicentenário do Museu, apesar de estar na cidade do Rio, em junho deste ano, é outra demonstração de descaso do governo Temer ao que foi o maior acervo de coleção de história natural e antropologia da América Latina e o quinto maior museu mundial de história natural.
Raríssimos esqueletos completos de dinossauros, múmias egípcias, as maiores coleções clássicas e indígenas do continente e a maior biblioteca de antropologia da América Latina faziam parte do acervo, considerado completamente perdido.
O arquivo se constituiu ao longo de 200 anos e era composto por mais de 20 milhões de itens catalogados. Entre as raridades estavam os restos de Luzia, o nome do mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas, datado de cerca de 11.500 a 13.000 anos.
Composta por mais de 100 mil itens e iniciada por D. Pedro I, a coleção arqueológica reunia peças de grande importância provenientes de diversas civilizações que habitaram as Américas, a Europa e a África, desde o Paleolítico até o século XIX.
Entre elas estava o sarcófago em madeira policromada da cantora de Ámon, Sha-Amun-en-su, da Época Baixa, dado de presente a Pedro II durante sua segunda viagem ao Egito, em 1876. O sarcófago nunca foi aberto e conservava a múmia da cantora em seu interior, característica que lhe conferia notória raridade. Outros sarcófagos e múmias também integravam o acervo egípcio, o maior do continente.
O acervo paleontológico incluía fósseis de dinossauros, animais e plantas. Dentre eles estava um titanossauro de treze metros de comprimento e nove toneladas de peso, datado do Cretáceo Superior e coletado em Minas Gerais.
O museu tinha também a maior coleção de meteoritos do país, incluindo o Meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país e um dos maiores do mundo, descoberto na Bahia, em 1784.
O Museu Nacional conservava também um importante conjunto de aproximadamente 1.800 artefatos produzidos pelas civilizações ameríndias durante a era pré-colombiana, além de múmias andinas.
As coleções dividiam-se em ciências naturais (geologia, paleontologia, botânica e zoologia) e antropológicas (antropologia biológica, arqueologia e etnologia). Diversos núcleos do acervo remontam a coleções iniciadas ainda no século XVIII.
Com informações do El País e do Jornal do Brasil