
Manifestantes com cartazes pedem “Fora “. Foto: Humberto Pradera
Cerca de 150 mil pessoas de todo o país pediram a renúncia do presidente e criticaram as reformas trabalhista e previdenciária, nesta quarta-feira, 24, durante manifestação na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
O protesto intitulado Marcha das Centrais/Ocupa Brasília foi organizado pelas centrais sindicais e ganhou o apoio de movimentos sociais e partidos políticos que se opõem ao governo. O PSB garantiu apoio ao movimento, que contou com a participação de militantes e representantes de segmentos sociais do partido.
A Executiva Nacional do partido fechou questão contra as reformas e em apoio a PEC para a realização de eleições diretas. Diante das graves denúncias contra Michel Temer, o partido também decidiu, por unanimidade, apoiar a renúncia do presidente da República e referendar a iniciativa do presidente nacional Carlos Siqueira, que subscreveu pedido de impeachment do chefe do Executivo nacional.
A mobilização tomou conta da capital do país desde as primeiras horas da manhã. Milhares de pessoas se concentraram inicialmente na área central da cidade e no começo da tarde se deslocaram em direção ao Congresso Nacional. A essa altura, já eram mais de uma centena de milhares de manifestantes, com bandeiras, faixas, enormes bonecos e balões.
Os carros de som entraram pela Esplanada e estacionaram de frente para o Congresso, respeitando a área de isolamento estabelecida pela polícia. De cima dos caminhões se revezaram centenas de políticos, sindicalistas e líderes sociais em discursos críticos à permanência no governo e as suas reformas liberalizantes.
O senador João Capiberibe (AP) representou o PSB no ato, acompanhado da senadora Lídice da Mata (BA) e da deputada Janete Capiberibe (AP). O senador afirmou que a população não pode aceitar a permanência do presidente da República. “Essa manifestação é uma demonstração clara de que esse governo acabou. Não tem condição de inventar mais uma aliança de elite política para tirar o Temer e colocar outro igual. Isso nós não podemos aceitar. Temos que dar voz ao povo”, defendeu.
Capiberibe destacou que é preciso “unir os partidos políticos e os movimentos sociais para fazer uma frente ampla” a favor das Diretas e contra as reformas trabalhista e previdenciária, referindo-se ao Comitê Pró-Eleições Diretas, numa articulação de partidos políticos e organizações da sociedade civil. No PSB o senador será o coordenador do comitê e terá como função dar consequência prática à deliberação da Executiva Nacional do PSB pelo fechamento de questão em apoio à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê eleições diretas em caso de vacância do cargo de presidente da República, além de apoiar a renúncia de Temer pra solucionar o mais rápido possível a crise de governabilidade instalada no país.
Na avaliação de Joilson Cardoso, secretário nacional do Sindicalismo Socialista Brasileiro (SSB), a marcha superou as expectativas dos organizadores e a grande adesão representa a revolta dos trabalhadores com as graves denúncias de corrupção contra o governo e as medidas que acabam com direitos fundamentais de trabalhadores e aposentados.
“Foi uma grande demonstração de força da classe trabalhadora que acende o pavio da revolta do povo brasileiro. Essa iniciativa de hoje desencadeia um processo que só terminará com a saída do presidente e a realização de eleições diretas”, afirmou Cardoso, durante o ato.

Da esq. p/ dir.: Representando o PSB, participaram do ato o vice-presidente da CTB, Vicente Selistre, o presidente do STMC, Tadeu Paranatinga, e o secretário nacional da SSB do partido, Joilson Cardoso. Foto: Humberto Pradera
“Estamos chamando o povo para a rua, para assumir a responsabilidade que lhes compete. Essa é a visão do Partido Socialista Brasileiro e dos movimentos sociais: a solução para a crise é o povo que dará”, defendeu.
Enquanto se realizava a marcha na Esplanada, no plenário da Câmara dos Deputados, parlamentares governistas e de oposição travaram intenso debate – os primeiros tentando votar medidas provisórias de interesse do Planalto, os outros, entre eles vários socialistas, defendendo a suspensão da sessão por conta dos protestos. Deputados ocuparam a mesa diretora com cartazes com os dizeres “A Câmara deve ser aberta e transparente”. Ao final do dia, as bancadas que se opõem ao governo deixaram o plenário em sinal de protesto. E a sessão prosseguiu.
No final da tarde desta quarta-feira (24), enquanto a manifestação ocorria, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou decreto do presidente para uma “ação de garantia da lei e da ordem” na Esplanada dos Ministérios, o que permitiu às Forças Armadas passarem a reforçar a segurança na região até o dia 31 deste mês. Em nota, o ministério informou que “serão 1,3 mil militares do Exército e 200 fuzileiros navais” atuando. Houve conflito entre grupos de manifestantes e a polícia.
A medida provocou a reação do governador Rodrigo Rollemberg, que divulgou nota oficial ainda na quarta-feira. Ele defendeu a atuação da Polícia Militar do DF e a execução do Protocolo Tático Integrado firmado pelos governos federal e distrital, no mês passado, pelo qual a segurança dos prédios públicos federais seria de responsabilidade da União. “Em todas as 151 manifestações realizadas nos últimos dois anos, as forças de segurança federal e distrital agiram de maneira integrada e colaborativa”, afirmou.
Rollemberg demonstrou surpresa com o uso das Forças Armadas, sem aviso prévio, determinado pela Presidência da República. Segundo o governador, foi “uma medida extrema adotada sem o conhecimento prévio e nem a anuência do governo de Brasília e sem respeitar os requisitos da Lei Complementar nº 97, de 1999”, observou.
O governador afirmou na nota que o seu governo “tem primado por garantir o direito constitucional de livre manifestação”, orientação dada à Secretaria de Segurança. Na mensagem, Rollemberg disse que “a maioria dos manifestantes protesta de maneira pacífica e democrática na capital federal”, apenas “alguns grupos optaram pela violência como forma de protesto”. Afirmou que “é dever do Estado garantir o direito à manifestação para que todos possam se expressar de forma respeitosa, sem colocar em risco a integridade das pessoas e do patrimônio público”. Ao final, expressou seu “total repúdio a todo tipo de violência”.
Na manhã desta quinta-feira (25), menos de 24h após o decreto, o Planalto revogou o decreto de convocação das Forças Armadas.
Confira as fotos da manifestação:
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional