
Foto: Chico Ferreira
No dia 13 de agosto de 2005 e, na mesma data nove anos depois, o Brasil perdia dois grandes líderes políticos socialistas: Miguel Arraes e Eduardo Campos. Avô e neto que, por sincronismo do destino, partiram no mesmo dia, com alguns anos de diferença.
Para marcar os 20 anos de falecimento de Arraes e os 11 anos de Eduardo Campos, uma missa foi celebrada na manhã desta quarta-feira (13), na Paróquia São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, em Brasília. Familiares, amigos, lideranças e militantes do PSB estiveram presentes na cerimônia conduzida pelo padre capelão militar Welbert de Oliveira.
Foram lembradas também outras vítimas do trágico acidente aéreo em 2014, durante a campanha de Eduardo Campos à presidência da República: Carlos Percol, Pedro Valadares, Alexandre Severo, Marcelo Lira, Marcos Martins e Geraldo Magela.
No sermão, o padre falou da crença na vida eterna e na missão “primeira” dos governantes de servirem à população. O pároco chamou de “providência” o fato de 13 de agosto ser também o dia de Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa brasileira. Nesta data, em 1933, Irmã Dulce recebeu o hábito de freira. Em 2019, foi canonizada pelo Vaticano, tendo reconhecida sua dedicação aos mais humildes.

Foto: Chico Ferreira
O capelão destacou o legado de Santa Dulce “de uma vida exemplar comprometida com o altruísmo, com o bem ao próximo” e associou ao papel dosque são eleitos para governar. “A primeira missão do governante é o cuidado com a vida do povo”, comparou.
“Que Deus conceda aos familiares enlutados a graça de viver a partir deste legado de Santa Dulce dos Povos, que teve uma confiança na palavra e na providência divina. Deus provê, Deus proverá, a sua misericórdia não faltará”, finalizou.
Na ocasião, o presidente nacional do PSB e prefeito do Recife, João Campos, falou em nome da família, afirmando que o falecimento de seu bisavô e de seu pai no mesmo dia “não foi por acaso”.
“Celebrar os 20 anos da passagem do meu bisavô Arraes e 11 anos do falecimento do meu pai, quis Deus que eles fossem no mesmo dia, não é por acaso. Tudo é uma sincronicidade e providência divina. O fato dessa mesma data celebrar a Irmã Dulce traz ainda mais peso a essa sincronicidade. Pela vocação aos pobres, pela vocação de olhar para os menos favorecidos, de poder fazer da vida uma missão de cuidado. Foi isso o que eles nos ensinaram. E a gente fica muito feliz de poder lembrar isso e ao mesmo tempo ter a certeza de que eles estão hoje num lugar muito melhor que o nosso”, disse Campos.
“Poder lembrar também de como a política deve ser um instrumento de cuidado com aqueles que mais precisam, como em tempos tão difíceis e tão desvirtuados da vida política, que a gente possa nunca perder essa essência do bem que eles fizeram e tanto nos ensinaram. Em memória deles e dos companheiros que partiram com eles, fica nossa lembrança e memória e a reza para que as famílias estejam acolhidas nesse momento”, completou.

Foto: Chico Ferreira
Logo após a missa, os presentes seguiram para uma homenagem aos 20 anos de falecimento de Miguel Arraes em uma sessão solene realizada na Câmara dos Deputados. O Plenário Ulysses Guimarães ficou repleto de familiares, amigos, ministros, militantes, admiradores, lideranças do PSB e de outros partidos políticos que destacaram lembranças e o legado do líder pernambucano como símbolo de resistência, ética e defesa das causas populares.
João Campos falou novamente do dia especial e da saudade de seu pai Eduardo e de seu bisavô Arraes. “Que a gente possa transformar esse sentimento numa força motriz de referência, de luta, e de alegria pelo privilégio que tivemos de conviver e de aprender muito com eles. Mas quero principalmente relatar como é impressionante e marcante a vida de Arraes na vida dos outros. Eu fazia as contas e ele deixou de ser governador em 98, grande parte dos programas e das ações que hoje têm em Pernambuco tem mais de três décadas e vocês não tem ideia da quantidade de gente que, todos os dias, contam uma história ou fazem um depoimento do que foi a presença dele na vida política de Pernambuco”, afirmou o prefeito do Recife, exemplificando os momentos em que em suas ações políticas na capital pernambucana se depara com relatos de admiradores de Arraes.
Ele ainda ressaltou que o exemplo deixado por Arraes deve guiar as novas gerações na defesa da democracia. “Que a história dele seja uma referência para essa nova geração que precisa conhecer a luta que foi para conquistar a democracia do país, o quão jovem ela é e quão inacabada ela sempre será. Então que a gente possa ter no nosso coração e na nossa prática a vida de Miguel Arraes como um farol e que a gente possa verdadeiramente defender a soberania brasileira, não baixar a cabeça para arroubos autoritários, sejam eles vindos de nosso país ou de fora, que a gente possa defender um povo livre e soberano, fazendo a luta popular que precisa ser feita e que todos nós que ocupamos espaços de poder façamos valer a história e o nome de Miguel Arraes de Alencar que trabalhou muito, literalmente a sua vida, para que essas novas gerações tivessem um Brasil melhor”, disse.
“Arraes no presente e no futuro”
Para o líder do PSB na Câmara e também bisneto de Arraes, deputado federal Pedro Campos, a homenagem “é justa e, acima de tudo, necessária”. “Quero falar de Arraes não no passado, mas no presente e no futuro que vamos enfrentar e que já estamos enfrentando. Outro dia, eu e João estávamos conversando sobre como seria se Arraes tivesse instagram. Eu não sei como seria isso, mas sei como seria a posição firme dele nesse momento que enfrentamos para entender os desafios que o mundo vive nos tempos atuais”, comentou.
“Lógico que lembrar de Arraes é lembrar de soberania nacional. Ele, que aprendeu com tanta dureza a amar o Brasil de longe, sendo proibido de estar no seu país, junto com boa parte da família, vivendo no exílio, aumentando seu amor pelo Brasil e com o entendimento de que o seu país tem, sim, a vocação de ser uma nação soberana e que ela só nasce da soberania do povo, popular, do direito das pessoas terem um ponto de luz, terem uma renda, e o direito de conhecerem sua história e sua cultura. Tenho certeza de que a lembrança de Arraes é a certeza dessa soberania”, destacou.

Foto: Chico Ferreira
Proponente da cerimônia, a deputada federal Maria Arraes (SD-PE) lembrou de sua relação, na infância, com o avô Miguel Arraes e de quando teve a consciência de sua dimensão política para o país. “Eu só tinha 11 anos quando ele partiu, num dia como hoje, há duas décadas. E o que guardo no coração é a imagem dele sentado na sua cadeira azul de balanço, com o cheiro forte do charuto no ar. Ainda sem entender a grandeza do que ele representava, mas com a certeza de que aquele homem, de voz marcante e olhar atento, era especial”, recordou.
E prosseguiu: “Foi no dia do seu enterro que a minha ficha começou a cair. Ele não era só meu avô. Vi ali, no rosto do povo, o tamanho de Doutor Arraes. Eram milhares de olhares de tristeza, de saudade, de respeito de uma grande família que ele construiu nas suas andanças pelas feiras, nos encontros com os trabalhadores, nas conversas com as donas de casa. O vazio deixado por sua ausência era coletivo.”
Maria falou do compromisso de Arraes com a democracia e a soberania nacional, a justiça social e a dignidade do povo, e de programas de grande impacto social executados em seus governos. “Apesar de não ter vivido tudo isso de perto, quis o destino que eu, depois de adulta, descobrisse um novo tipo de lembrança: uma lembrança que não é minha, é do povo. E rodar o estado de Pernambuco é como ler um livro sobre vovô. Cada região, cada município, cada feira, é um capítulo diferente. São testemunhos vivos de que sua obra permanece”, disse.
A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), também propositora da sessão solene, lembrou que ingressou nos quadros do partido socialista pelas mãos de Miguel Arraes e que ele era um homem de convicções fortes, de coerência, de palavra e que defendia a soberania nacional, sobretudo na época da ditadura militar.

Foto: Chico Ferreira
“Ontem, como hoje, é indispensável que possamos registrar a resistência desse companheiro de luta, tanto quanto a esperança que ele e os outros companheiros tinham de fazer do Brasil uma nação soberana. E é nesse contexto que essa nova geração de políticos, que está representada na mesa, tem o desafio de realizar na sua história e tem a necessidade de retomar para si a bandeira e um novo patamar da soberania nacional”, falou.
Segundo Lídice, Arraes foi um dos principais políticos brasileiros do século 20 e que, no século 21, é preciso honrar e manter seu legado, além de reafirmar suas bandeiras nos dias atuais. “Arraes é um homem para ser louvado sempre”, disse.
O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) considera Arraes um dos maiores mestres da política brasileira e destacou algumas características que, para ele, são marcantes em sua personalidade. “Ele era sempre uma pessoa muito agradável, profunda, com um compromisso grande pelo país, divertido, embora sua forma de falar pudesse não parecer assim, ele era um visionário, tinha um compromisso inegociável com o povo, especialmente com a população mais pobre desse país, e ele tinha uma capacidade de inclusão social muito maior, tinha compromisso com o Brasil e com a soberania”, pontuou.
Ao final da sessão solene, foi realizado o descerramento da placa que oficializa a mudança do nome da sala do Colégio de Líderes para Sala de Líderes Miguel Arraes. A proposição, também da deputada Maria Arraes e aprovada em plenário, marca a perpetuação do seu nome na Casa de debates da política nacional, o Congresso Nacional.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional






