
Foto: Araquém Alcântara
Governadores, prefeitos e parlamentares socialistas demonstraram preocupação com o anúncio do governo de Cuba nesta quarta-feira (14) de retirar os cerca de 8,5 mil médicos cubanos do país que atendem brasileiros em 3.243 municípios pelo programa Mais Médicos.
Para o governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), a retirada de Cuba do programa representa “mais um problema” para gestores estaduais e, especialmente, para os municípios, “que já estão quebrados”.
“Eu acho que esse programa deveria ter sido prorrogado até o Brasil achar um caminho de como atender à saúde primária. “É uma pena. O Mais Médicos cumpriu um papel muito importante, com a tarefa de levar profissionais para bairros distantes. O Brasil não remunera adequadamente os seus médicos e a população acaba ficando desprotegida”, criticou Casagrande.
Em suas redes sociais, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho classificou o impasse como “mais uma perda imposta ao povo”.
“Impressionante o desconhecimento e a partidarização de tudo para alimentar fantasmas e viver de factoides”, disse Coutinho em referência ao posicionamento do presidente eleito Jair Bolsonaro. “Minha gratidão ao trabalho correto e solidário dos médicos cubanos. O povo sabe o valor do trabalho deles”, afirmou.
O presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Jonas Donizette (PSB), lembrou que o programa, criado em 2013 no governo de Dilma Rousseff, nasceu de uma demanda dos prefeitos, em resposta à campanha “Cadê o Médico?”, liderada pela Frente para reduzir o déficit de profissionais de saúde, especialmente no interior do país.
Naquela ocasião, os prefeitos evidenciaram a dificuldade de contratar e fixar profissionais no interior do país e na periferia das grandes cidades.
“Foi uma luta nossa, da Frente. O programa pode não ser perfeito, mas ajudou. O presidente eleito, o próximo ministro da Saúde, eles têm que ter uma solução. Não dá para acabar sem ter algo que dê suporte”, afirmou o prefeito de Campinas. “Questão ideológica não pode contaminar o serviço público”, opinou Donizette.
Segundo a FNP, os cubanos representam, atualmente, mais da metade dos médicos do programa. Por isso, a rescisão repentina desses contratos aponta para um cenário “desastroso” em, pelo menos, 3.243 municípios. Dos 5.570 municípios do país, 3.228 (79,5%) só têm médico pelo programa e 90% dos atendimentos da população indígena é feito por profissionais de Cuba.
Autora do relatório que avaliou o Mais Médicos na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) destacou o desempenho do programa no país.
De acordo com o relatório, em menos de três anos o Mais Médicos ampliou a cobertura da atenção básica num volume e velocidade superior a todos os programas que o sucederam; aumentou o ritmo de redução das internações sensíveis a atenção básica e foi bem avaliado por médicos, gestores e usuários.
Lídice lembrou ainda que os cubanos atuaram em regiões de alta vulnerabilidade social e ressaltou no relatório que os médicos brasileiros sempre tiveram prioridades em relação aos estrangeiros, que ocuparam as vagas que foram recusadas pelos profissionais do Brasil.
O Mais Médicos chegou a 18,2 mil profissionais no auge do programa e, segundo pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, 85% das pessoas atendidas avaliaram positivamente a iniciativa. “Numa escala de zero a dez, o programa obteve nota nove entre as pessoas que o utilizaram e/ou avaliaram”, explicou Lídice.
Médico e ex-secretário de Gestão Estratégica do Ministério da Saúde, o deputado federal Odorico Monteiro (PSB-CE), que participou da criação do Mais Médicos, disse que o rompimento com médicos cubanos acarretará no aumento da mortalidade materna e infantil e no agravamento de doenças como hipertensão e diabetes.
“São um conjunto de indicadores de saúde que melhoraram com o Mais Médicos e não podemos ver tudo isso ir por água abaixo. Esse não é um programa de governo, mas de Estado, porque foi aprovado em lei aprovada pelo Congresso Nacional”, destacou Monteiro.
Governo de Cuba anuncia saída
O governo cubano informou que romperá contrato com o programa devido às declarações “ameaçadoras e depreciativas” do presidente eleito Jair Bolsonaro, que anunciou mudanças “inaceitáveis” ao projeto governamental.
O país caribenho tomou a decisão de solicitar o retorno dos médicos cubanos depois que Bolsonaro questionou a preparação dos especialistas, condicionou sua permanência no programa “à revalidação do diploma” e impôs “como via única a contratação individual”.
“Não é aceitável que se questione a dignidade, profissionalismo e altruísmo dos colaboradores cubanos”. “Os povos da Nossa América e do resto do mundo sabem que sempre poderão contar com a vocação humanista e solidária dos nossos profissionais”, afirmou em nota o governo de Cuba.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional