
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estudantes das mais diversas partes do país temem que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não seja adiado. Mesmo com o atual cenário de crise que a pandemia de Covid-19 impõe aos brasileiros, criando obstáculos ainda maiores ao acesso à plataformas de estudo on-line, o Ministério da Educação tem negado as solicitações de alteração no calendário de inscrições e de provas. Os candidatos devem fazer o cadastro no site oficial do Exame até o próximo dia 22, conforme o ministério.
A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) é co-autora de um projeto que pede a suspensão das inscrições para o Enem, com outros parlamentares do PSB.
O Sindicalismo Socialista Brasileiro (SSB) se manifestou em nota, na ultima terça-feira (12), reforçando que o adiamento da prova é “inquestionável” já que os estudantes estão sem aula desde março.
Com a suspensão das aulas presenciais devido à necessidade do isolamento social, o ensino à distância, recurso usado para dar continuidade às aulas, aumentou ainda mais a desigualdade entre os estudantes brasileiros.
Um estudo feito pela Casa Fluminense, organização que estuda a vida urbana nas periferias, mostra que cerca de 2,3 milhões de candidatos não têm computador em casa.
A pesquisa TIC Domicílios revela mais números que escancaram a desigualdade entre os estudantes: Apenas 39% das casas no país têm acesso à internet por fibra ótica. Ou seja, grande parte da população brasileira que tem acesso à internet usa a rede por smartphones, plataforma que limita o uso de ferramentas digitais na educação.
Além da limitação no acesso a computadores e internet, os estudantes mais pobres ainda precisam lidar com outras barreiras como a falta de merenda, que para muitos alunos da rede pública de ensino é a única ou a mais importante refeição do dia, a falta de espaço adequado em casa para estudar, atribuições de atividades domésticas e limitações na comunicação com o professor.
“A gente tem um cenário de alunos que precisam compartilhar o próprio quarto. Não têm um ambiente silencioso para estudar, estão fazendo leituras e atividades escolares através de celulares e, muitas vezes, têm que dividir seu horário do dia com atividades profissionais, com cuidados com família, com filhos e outras atividades necessárias para a sobrevivência”, disse a antropóloga Yasmim Monteiro, da Casa Fluminense, ao jornal O Globo.
O descaso do governo com os estudantes de baixa renda está evidente na peça publicitária “o Brasil não pode parar”. No vídeo, quatro atores adolescentes dizem que “a vida não pode parar” e pedem para os estudantes estudarem de qualquer lugar e de diferentes formas.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) solicitaram ao Superior Tribunal de Justiça esta semana o adiamento das provas impressas nos dias 1º e 8 de novembro e o exame digital nos dias 22 e 29 de novembro. O STJ negou por entender que não é a instância competente para julgar a ação.
A vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Élida Elaine, afirma que o ministro Abraham Weintraub quer excluir a população de baixa renda do ensino superior. “Ele não está preocupado que os estudantes mais pobres acessem a universidade, por isso defendemos o adiamento das provas, para debatermos com as secretarias estaduais um plano de organização do calendário, levando em conta os limites pedagógicos”, afirmou.
Socialistas lutam por suspensão de Inscrições
A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), co-autora do Projeto de Decreto Legislativo 199/2020 que pede a suspensão das inscrições para o Enem com outros parlamentares do PSB, destacou que os locais em que estudantes poderiam acessar a internet e solicitar a isenção da taxa ou realizar a inscrição do Enem 2020 estão fechados em virtude das medidas de isolamento social. Lídice também apresentou na Câmara um requerimento com pedido de urgência na Tramitação do PDL.
“Os alunos precisam ter uma preparação adequada para prestar esse exame, mas nem todos terão acesso as aulas durante o isolamento social, além do fato da maior parte dos alunos da escola pública não possuir acesso à internet para continuar estudando a distância. Isso pode aprofundar desigualdades entre os que têm melhores condições e os que não têm”, justifica.
Além de Lídice, assinam o Projeto Danilo Cabral (PSBS-PE), Lídice da Mata (PSB-BA), Denis Bezerra (PSB-CE), Vilson da Fetaemg (PSB-MG), Alessandro Molon (PSB-RJ), Bira do Pindaré (PSB-MA), Mauro Nazif (PSB-RO), Gervásio Maia (PSB-PB) e Tadeu Alencar (PSB-PE).
Sindicalismo Socialista
Em nota, o SSB reforçou que a manutenção da data do Enem “favorece apenas os alunos que têm condições para continuar estudando remotamente”, prejudicando assim os alunos da rede pública pois, além de poucos possuírem acesso à internet, as escolas não estavam preparadas para adaptar os conteúdos das aulas presenciais para online.
“As poucas que fizeram isso começaram tardiamente em relação às escolas particulares, o que certamente contribuirá para que esses estudantes sejam prejudicados”, analisa o texto assinado pela coordenação Nacional do Movimento Sindical do PSB.
Debate virtual
Nesta sexta-feira (15), representantes do PSB debaterão como a pandemia expôs a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e professores de colégios públicos. A conversa será transmitida ao vivo, às 15h, na página do PSB Nacional e contará com a presença do deputado federal João Campos, do secretário nacional da Juventude Socialista Brasileira, Tony Sechi, da secretária-geral da UBES, Juliene Silva, e da diretora de Políticas Públicas da UNE, Tâmera Mendes.