Conheça a história do prefeito eleito de Porteirinha – norte de Minas Gerais, Silvanei Batista Santos (PSB). A matéria foi publicada no Jornal O Globo – domingo (25).
Maria Lima – O Globo
Virou motivo de chacota na pequena Porteirinha, no Norte de Minas Gerais, a notícia, há alguns meses, de que Silvanei Batista Santos (PSB), o ex-vendedor de bananas e filho de carroceiro, se candidataria ao posto de prefeito da cidade. Além da origem humilde, ele disputaria com o milionário Juraci Freire Martins (PP), atual prefeito, que tinha a seu favor o poder econômico e a máquina da prefeitura. Com 34 anos, um par de olhos verdes, o orgulho ferido e nada a perder, Silvanei comprou a briga e fez uma promessa: se vencesse, iria para a solenidade de posse na carroça ao lado do pai, seu Tião.
Não deu outra. Caiu nas graças do povo a história do carroceiro contra o milionário. Venceu a disputa do tostão contra o milhão. Teve 13.052 votos contra 9.977 do fazendeiro, agropecuarista e dono de postos de gasolina. O patrimônio declarado de Juraci amealhado entre fazendas, postos de combustíveis e muitas cabeças de gado é de R$ 24,7 milhões. O de Silvanei, R$ 13,5 mil, divididos entre uma moto Titan e um carro Parati 1992.
“Resolvi ser candidato porque o povo começou a debochar que eu não tinha condições financeiras de ser prefeito, porque era filho de carroceiro. Meu pai criou a gente assim, com sua carrocinha e sua mulinha. Até hoje ele dá duro carregando areia, brita, tijolo e tudo que aparece para carrear. Eu fiz uma promessa que, se ganhasse, ia tomar posse de carroça. Vou botar seu Tião em cima dela e vamos lá assumir a prefeitura para mostrar que ser filho de carroceiro não é vergonha nenhuma”, disse Silvanei ao GLOBO, por telefone.
O prefeito eleito conta que a sua história ganhou a região e, agora, amigos e prefeitos de cidades vizinhas estão comprando carroças para acompanhá-lo em cortejo pela cidade no dia da posse. Na adolescência, Silvanei vendia bananas para ajudar seu Tião a manter a família e seus estudos no curso técnico de Contabilidade.
Sua entrada na política aconteceu em 2005, quando, na administração do ex-prefeito Alonso Reis (PT), foi nomeado para o cargo de encarregado do serviço de limpeza da prefeitura. Ali, fez amizades com os garis, que o convenceram a disputar uma vaga de vereador em 2008. Eleito para uma vaga na Câmara Municipal, disputar a prefeitura não era um sonho tão distante assim.
Nenhum deputado do partido, entretanto, teve coragem de abraçar sua candidatura contra o poderoso prefeito. Sem ajuda financeira do PSB — recebeu apenas um rolo de adesivos e uma gravação de apoio do presidente do diretório regional, Walfrido dos Mares Guia —, Silvanei se valeu de doações de amigos, que contribuíram com R$ 100, R$ 200.
“Foi tudo muito simples. Eu não gastei um centavo meu, mesmo porque não tinha. Enquanto o Juraci fazia comícios em grandes palanques, eu fazia em carroceria de caminhão ou no chão. Eu tenho até vergonha de falar, mas o que tive do partido foi um adesivo e uma gravação. Fizemos as contas e, no final, arrecadamos e usamos R$ 70 mil para pagar despesas de transporte e material gráfico”, diz o prefeito eleito.
Durante a campanha, ele conta que a conversa que ouvia por onde passava é que a classe média e os ricos da cidade não votariam no filho de um carroceiro. Diz que enfrentou o peso da máquina da prefeitura, mas não tem como provar se houve compra de votos.
“Se teve compra de votos, eles venderam mas não entregaram, moça! Deram o cano nele e votaram em mim, graças a Deus!”
Com a vitória do filho do carroceiro, agora as piadas são outras: falam da “piaba que engoliu o tubarão”. Silvanei diz que seu grande desafio na prefeitura é a criação de alternativas para gerar oportunidades de emprego no município. O prefeito Juraci Freire foi procurado na prefeitura, mas não retornou o pedido de contato.