
Foto: Marcos Santos/USP
O crítico literário, ensaísta, professor e sociólogo Antonio Candido de Mello e Souza morreu na madrugada da última sexta-feira (12), aos 98 anos de idade. Ele estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma crise gástrica provocada por uma hérnia de hiato no estômago. O corpo foi cremado no sábado (13), em uma cerimônia reservada a familiares e amigos próximos.
Um dos principais intelectuais do país, Antonio Candido escreveu obras fundamentais como Introdução ao Método Crítico de Silvio Romero (1944), Formação da Literatura Brasileira (1959), Literatura e Sociedade (1965). Autor de extensa obra na área, seu método de análise literária era conhecido por partir da cultura para a realidade social.
Socialista de influência marxista, Candido teve trajetória política vinculada à esquerda. Com outros intelectuais, em 1945, foi um dos fundadores da Esquerda Democrática que, dois anos mais tarde, daria origem ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), no qual militou na década de 1940. Pelo partido, concorreu a uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado em 1950.
Crítico do capitalismo, para quem “não havia face humana nenhuma”, Candido afirmava que “o grau de igualdade” conquistado no mundo foi obtido graças às lutas do socialismo, a exemplo de direitos trabalhistas como as férias e a jornada diária de oito horas.
Em uma entrevista publicada no site de notícias Brasil de Fato em 2011 (acesse aqui), o intelectual e ensaísta afirmou que o socialismo “é uma doutrina totalmente triunfante no mundo”. “Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas”, declarou.
Ele acreditava que o socialismo era a doutrina mais capaz de conciliar a ambição econômica com a igualdade e acreditava em seu avanço. Para ele, a doutrina socialista buscava “o máximo da igualdade econômica”, e progredia no mundo “não com o nome”, mas com a “igualdade”.
“Disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo”, destacou. “Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo”, afirmou ao portal.
O professor e ensaísta definia o socialismo como “todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade”, e “a grande visão de tratar o homem realmente como ser humano”.
“Não aquela igualdade que alguns socialistas e os anarquistas pregavam, igualdade absoluta é impossível. Os homens são muito diferentes, há uma certa justiça em remunerar mais aquele que serve mais à comunidade. Mas a desigualdade tem que ser mínima, não máxima. Sou muito otimista”, defendia.
Na mesma entrevista ao Brasil de Fato, citando Eduard Bernstein, um dos mestres socialistas, Antonio Candido disse que o socialismo era “uma finalidade sem fim”. “O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno”, disse.
Antonio Candido nasceu em 1918 no Rio de Janeiro, porém passou a infância em Minas Gerais, nas cidades de Cássia e Poços de Caldas, e em São João da Boa Vista, no interior paulista.
Era doutor em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Foi professor da Faculdade de Filosofia e Letras e Ciências Humanas da USP, e ganhou vários prêmios importantes da literatura.
Fundou a revista Clima, de crítica cultural, com os amigos Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado. Foi casado por 60 anos com Gilda de Mello e Souza, colega de revista e do ambiente de debates sobre cultura.
Colaborou na década de 1940 com resenhas literárias nos jornais Folha da Manhã, e Diário de São Paulo, e, em 1956 fez o projeto do suplemento literário de O Estado de S. Paulo.
Candido deixa três filhas: a designer e escritora Ana Luísa Escorel e as historiadoras Laura de Mello e Souza e Marina de Mello e Souza.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional