
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Há alguns dias, na tribuna do Senado, defendi a alfabetização das crianças das classes populares aos seis anos de idade, ou seja, já na primeira série do ensino fundamental. Isso porque, todos sabemos, as crianças das classes média e alta, aos seis anos, já estão alfabetizadas. Fiz esta defesa e desejo sustentá-la, considerando que não podemos mais adiar a alfabetização das crianças da escola pública. É preciso agir. Por isso, pedi que o Senado Federal se envolva diretamente na discussão sobre a alfabetização na Base Nacional Comum Curricular, visando à construção de uma nova consciência nacional sobre esta questão e propondo a reprofissionalização e a valorização desses professores.
Essa situação é dramática, porque são os alunos que não se alfabetizam que vão nutrir os cursos de alfabetização de jovens e adultos; são as crianças não alfabetizadas no ensino fundamental, que foram reprovadas anos após anos, que acumulam vergonhas, sanções e rejeições, mas não conhecimentos.
É preciso colocar a organização escolar de cabeça para baixo. Se hoje os novos professores, com pouca experiência, recebendo os mais baixos salários, vão para as classes de alfabetização, devemos inverter essa lógica, encaminhando para as classes de alfabetização os professores com melhor formação ou formação específica em alfabetização, bem pagos e mais experientes.
O desafio é reprofissionalizar os professores, para que sejam tecnicamente competentes na complexa tarefa que é alfabetizar. Precisamos redefinir os currículos dos cursos de Pedagogia, além de fomentar cursos de especialização dos professores alfabetizadores. Afinal, alfabetização não é tarefa para leigos.
Precisamos denunciar muito claramente e quantas vezes for necessário, até se criar uma consciência pública, uma nova consciência nacional de que não é possível alcançar os objetivos educativos compatíveis com a noção de democracia se não modificarmos rapidamente a própria concepção de alfabetização.
* Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde.
Autora: Senadora Lídice da Mata (PSB-BA)