Autor: Adriano Sandri, cientista político da Fundação João Mangabeira
Utilizando instrumentos de análise científica adquiridos no mestrado em Ciência Políticas desenvolvo análises sobre o desempenho do PSB nas eleições municipais deste ano comparando-o com as eleições de 2012 e com o desempenho de outros partidos. A elaboração dos quadros tem como objetivo ressaltar a situação do PSB no meio do que defino Centro-esquerda por ser o campo de comparação mais próximo ao nosso partido.
Premissa
Na área da política existem conceitos e (in)definições bastante diferenciados. Entre eles, a definição de direita, centro e esquerda. Utilizo, neste trabalho, uma linguagem simplificada que considero útil para refletir.
A construção de um prédio requer profissionalidades diferentes como arquiteto, engenheiro, proprietário, pedreiros, financiadores, etc.
O arquiteto deve possuir a dimensão do sonho, da utopia. O engenheiro a dimensão da viabilização e gestão. O proprietário, muitas vezes, se caracteriza pela defesa do patrimônio. É evidente que cada profissional tem um pouco das três características, mas sempre prevalece uma.
Paralelamente, na política existem o setor das utopias, ou seja, as esquerdas, o setor da engenharia, o centro, e o setor patrimonialista/conservador, a direita. Num outro patamar se encontram os trabalhadores da construção civil, os “eleitores”. E em outro patamar se encontram as empresas que fornecem os materiais, ou seja, as multinacionais, os bancos…, etc.
Obs: Qualquer comparação, incluindo a presente, é redutora da realidade, mas nada mais é de que uma ferramenta de reflexão. Mais uma premissa: é sempre muita ousadia pretender não ser tendencioso, mas é impossível não ser. Por isto, precisa tentar sê-lo o mínimo.
Seguindo o parâmetro escolhido na premissa, proponho a seguinte divisão político-partidária, aberta a contradições e polêmicas:
Direita: DEM, ……
Centro-direita: PP – PTB – PR – PSD, ….
Centro: PMDB – PSDB.
Centro-esquerda: PSB – PDT – PT – PPS – PV, ….
Esquerda: PSOL – REDE – PCdoB, ….
Não faço uma classificação dos outros vinte partidos que elegeram prefeitos e vereadores por falta de condições. Eles tiveram um protagonismo central, um aumento de cerca de 40% de eleitores, revelando, ao lado do aumento significativo de votos brancos, nulos e abstenções, o quanto os maiores partidos vem perdendo confiabilidade no cenário político-eleitoral.
OS DADOS
Nota geral. A escolha e classificação dos partidos segue o interesse de focar o PSB como partido de centro-esquerda.
1. Desempenho dos partidos no eleitorado
TOTAL de ELEITORES GOVERNADOS (em milhões) |
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PARTIDOS |
a partir de 2017 |
2012 |
PSDB | 34 + 17,5 | 16,5 |
PMDB | 23,1 + 1,9 | 21 |
PSB | 12 – 3,3 | 15,3 |
PSD | 10 + 1,35 | 8,65 |
PDT | 9 – 0,5 | 9,05 |
DEM | 8 +1,3 | 6,7 |
PP | 7 – 0,2 | 7,2 |
PRB | 7 +5,33 | 1,67 |
PR | 6 +1,82 | 4,18 |
PTB | 5 + 1 | 4 |
PT | 4 – 23 | 27 |
Considerações gerais.
A eleição para executivos (Nacional, estadual e municipal) não corresponde à realidade político-institucional dos partidos que é medida com maior propriedade pelo conjunto de representação democrática (número de vereadores, deputados estaduais e federais, senadores), mas é um importante indicador da inserção na vida social.
O PSB continua em terceiro lugar, mesmo nesta conjuntura de forte regressão do centro-esquerda, se legitimando como o maior partido deste bloco, três vezes maior do PT.
O centro – PSDB e PMDB – cresceu herdando o espólio do PT.
O centro-esquerda diminuiu, sobretudo com a queda do PT.
2. Prefeitos eleitos
PREFEITOS |
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PARTIDOS |
2016 |
2012 |
PMDB | 1.038 + 17 | 1021 |
PSDB | 804 + 118 | 686 |
PSD | 541 + 43 | 498 |
PP | 492 – 16 | 474 |
PSB | 418 – 16 | 434 |
PDT | 335 + 28, | 307 |
PR | 299 + 24 | 275 |
DEM | 266 – 12 | 278 |
PTB | 262 – 36 | 298 |
PT | 254 – 384 | 638 |
PPS | 118 – 4 | 122 |
PV | 101 – 2 | 99 |
PcdoB | 80 + 29 | 51 |
REDE | 05 | |
PSOL | 02 – 1 | 01 |
OUTROS* | 837 + 196 | 641 |
*PRB – PSC – SD – PROS – PSL – PHS – PTN – PRP – PTC – PMN – PEN – PTdoB – PSDC – PRTB – PMB – PPL – NOVO – PCB – PCO – PSTU
– Estes dados e os demais foram tirados de ‘UOL Eleições’.
Considerações gerais.
. As variações que estão entre 10% a mais ou menos não significam necessariamente mudanças relevantes para partidos com mais de 100 prefeituras.
. O centro cresceu substancialmente. O PMDB praticamente estacionou e o PSDB foi o partido que mais cresceu aumentando em 118 prefeituras
. O PT perdeu mais prefeituras: 384.
. O PSB consolidou sua posição adquirida nos precedentes processos eleitorais.
. Os 20 menores partidos elegeram 837 prefeitos. Representam aproximadamente 15% dos municípios.
. O centro-esquerda (PSB – PDT – PT – PPS – PV), atualmente está com mais de 1.200 prefeituras, e, se não se considerar o PT, manteve o mesmo número de prefeituras com relação a 2012. Mesmo com a queda do PT, o centro-esquerda representa ainda uma opção política consistente no cenário nacional. O centro-esquerda está com cerca de 22% de prefeituras.
. O centro-direita estacionou na base de 17% de prefeituras.
. A esquerda – onde os resultados obtidos pelo PCdoB no Maranhão não podem ser considerados como parâmetro – ocupa um espaço muito limitado no cenário político.
3. Vereadores eleitos
VEREADORES |
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PARTIDOS |
ELEITOS – 2016 |
DIFERENÇA – 2012 |
PMDB | 7.570 | – 399 |
PSDB | 5.369 | + 109 |
PP | 4.746 | – 199 |
PSD | 4.638 | – 28 |
PDT | 3.764 | + 101 |
PSB | 3.637 | + 82 |
PTB | 3.058 | – 523 |
PR | 3.028 | – 163 |
DEM | 2.905 | – 380 |
PT | 2.377 | – 2.808 |
PPS | 1.670 | – 196 |
PV | 1.525 | – 58 |
PCdoB | 1.003 | + 207 |
REDE | 180 | |
PSOL | 53 | + 004 |
OUTROS* | 11.956 | + 4.270 |
*PRB – PSC – SD – PROS – PSL – PHS – PTN – PRP – PTC – PMN – PEN – PTdoB – PSDC – PRTB – PMB – PPL – NOVO – PCB – PCO – PSTU
Podemos notar que:
. Merece destaque a expressiva queda de vereadores eleitos pelo PMDB.
. O avanço do PSDB não é tão expressivo como no quadro de prefeituras.
. A queda do PT questiona sua base eleitoral no quesito de ser referência para o eleitor, podendo-se pensar que é ainda um partido com base de militância ou convicção ideológica.
. O PSB consolida sua base eleitoral e sua presença nos municípios. No quesito de prefeitos e vereadores está em quinto e sexto lugar.
. O PSB, ao lado do PDT, teve um notável avanço, na contramão do bloco de centro-esquerda.
. Os pequenos partidos tiveram um aumento de cerca de 40% em vereadores. Além de representar 20% do total, esta mudança questiona a representatividade dos grandes e médios partidos, questionamento expresso nas ruas durantes este último período (2012-2016).
. O centro-esquerda, se retirarmos o PT deste grupo, estacionou.
. A esquerda, mesmo sendo numericamente pouco expressiva, teve um relevante avanço.
. Este quadro é o que mais pode representar as tendências eleitorais pra as eleições nacionais de 2018.
4. Os eleitores
VOTOS 2016- 1º Turno |
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PARTIDOS |
Para PREFEITOS |
Para VEREADORES |
PSDB | 17.612.608 | 9.059.338 |
PMDB | 14.870.849 | 9.928.365 |
PSB | 8.304.408 | 6.120.846 |
PSD | 8.005.878 | 6.561.202 |
PT | 6.822.967 | 5.757.437 |
PDT | 6.348.726 | 6.090.119 |
PP | 5.667.418 | 6.090.119 |
PTB | 3.555.638 | 4.702.887 |
PR | 4.388.104 | 4.693.315 |
DEM | 4.388.817 | 4.750.534 |
PPS | 2.621.541 | 3.454.999 |
PV | 1.691.752 | 3.216.221 |
PCdoB | 1.767.051 | 2.442.760 |
REDE | 792.333 | 763.333 |
PSOL | 2.097.623 | 1.298.727 |
OUTROS* |
*PRB – PSC – SD – PROS – PSL – PHS – PTN – PRP – PTC – PMN – PEN – PTdoB – PSDC – PRTB – PMB – PPL – NOVO – PCB – PCO – PSTU
Considerações:
. Analisando-se o centro-esquerda, o PSB é o partido mais relevantes do grupo, dividindo as preferências do eleitorado com o PDT e o PT.
. Foi dado, corretamente, muito destaque ao aumento de quase 3% dos votos brancos, nulos e abstenção. Ele vinha crescendo a cada eleição, mas desta vez seu aumento foi o dobro do costumeiro. Este dado explica em parte a relativa diminuição de votos em vários partidos.
. O quadro acima que compara os votantes a prefeitos com o de vereadores coloca o PSB entre o terceiro e o quinto lugar, entre os seguintes partidos: PSD – PT – PDT e PP. É uma posição de destaque no quadro nacional. Com esta análise pode-se concluir com bastante confiabilidade que o PSB consolidou sua presença eleitoral.
. Na nossa realidade político-partidária, o PSB aparece como uma força política consistente, que disputa o eleitorado de centro, o menos politizado, com o PSD que atrai pelo discurso do “social”, enquanto o PSB utiliza a proposta ideológica do “socialismo” além das questões sociais. Mas não é só: os dois partidos disputam com o discurso da “gestão eficiente e ética”. Por isto os dois partidos se equivalem eleitoralmente.
. Os eleitores – é realidade mundial – estão no centro do quadro político. Tem interesses imediatos e procuram primeiramente uma ‘boa gestão’. O discurso ideológico vem depois.
. Os eleitores do PT foram-se para o PSDB. Por isto acho que não dá para refletir na base de direita-centro-esquerda, mas na que apresentei no início inserindo o centro-direita e o centro-esquerda.
. No Brasil o centro é muito preponderante: pode ser indício de uma consciência política ainda muito pouco desenvolvida, onde os eleitores votam em candidatos mais do que em partidos, onde a qualidade da gestão é mais central do que o discurso ideológico, e onde o fato do voto ser obrigatório não ajuda na participação consciente.
. A questão se o PSB é esquerda ou centro foi respondida de forma séria no questionário feito para planejar o atual mandato após a morte de Eduardo Campos: é um partido de centro-esquerda. Ou seja, com filiados de centro e de esquerda, pois centro-esquerda não é meio termo ideológico, mas convivência de políticos que militam nos dois campos. Ainda, tendo como base a atuação parlamentar, pode-se inferir que o PSB tem 2/3 de representação parlamentar de centro e 1/3 de esquerda.