
Foto: Pedro França/Agência Senado
Autor: Senadora Lúcia Vânia (PSB-GO)
Acompanho com pesar a tragédia que ocorreu em uma escola em Goiânia, quando um estudante abriu fogo contra colegas. O acontecimento reflete a falta de preparo do poder público para lidar com as situações de conflito na nossa sociedade, que, na escola, atinge todos os envolvidos no processo educativo.
Uma pesquisa sobre violência nas escolas publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) traz resultados que instigam a nossa reflexão. O estudo foi conduzido em escolas públicas e privadas de 14 capitais brasileiras e não apenas a violência física – maus-tratos, uso de força e intimidação – foi considerada, mas também a violência simbólica e a institucional.
Um dos principais resultados do estudo foi o de identificar uma tendência a banalização da violência no ambiente escolar. Brigas, furtos, agressões verbais foram considerados fatos do cotidiano, apontando a violência como um instrumento de legitimação de solução de conflitos.
Outra pesquisa realizada em sete capitais brasileiras pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, em parceria com o Ministério da Educação e a Organização dos Estados Interamericanos mostra que a violência atingiu 42% dos alunos da rede pública de ensino em 2016. Desses, 65% apontaram um colega como agressor. Mais de 15% dos estudantes reportaram a agressão ter partido dos professores. Um resultado surpreendente da pesquisa foi o de 25% das ocorrências de episódios violentos terem sido registrados nas salas de aula, mesmo porcentual dos pátios. Nos corredores, foram reportados 22% dos casos.
As duas pesquisas sugerem que a violência é aceita como um mecanismo de solução de conflitos dentro de determinados ambientes. A segunda conclusão decorre da dificuldade das instituições de ensino de se adequarem à realidade e à necessidade dos alunos e, por último, que as escolas poderiam ser aperfeiçoadas de modo a minimizar a influência de conflitos sobre o comportamento dos alunos.
A violência nas escolas reflete o ambiente que os jovens encontram nas cidades e nas famílias. Isso, por sua vez, é reflexo da elevada desigualdade de oportunidades que existe na nossa sociedade. Penso ser dever do poder público agir para garantir o desenvolvimento social em condições iguais para todos os brasileiros e que a educação é o principal instrumento de rompimento do círculo vicioso que alimenta as desigualdades de nosso País.
* Artigo originalmente publicado no jornal O Popular em 1/11/2017