Autor: Domingos Leonelli
Secretário Nacional de Formação Política – PSB
Yunan é uma grande província (estado) da China com 46 milhões de habitantes em 394.000 km quadrados. Faz fronteira com vários países como o Vietnam, Laos e Miamar. A cidade de Kuoming é a sua capital.
A primeira atividade da comitiva de representantes dos partidos latino-americanos, presentes ao IV Fórum de Partidos da América Latina e Caribe, foi a visita à Bolsa de Flores de Yunam. Sim, Bolsa de Flores. Não um mercado ou uma exposição da floricultura chinesa. Mas uma verdadeira bolsa de valores da floricultura regional.
Centenas de compradores e vendedores de seus computadores realizam operações relativas aos valores da produção de flores da província de Yunan e de todo o pais.
Coordenando e validando as transações de uma mercadoria tão perecível e realizando leilões de lotes de 3.000 espécies de flores, essa instituição tem uma enorme importância para a produção, distribuição e comercialização das flores.
Num ambiente futurista onde o novo design chinês está presente em todos os ambientes, até o piso tem o desenho do lindo logotipo da Bolsa. E num grande salão com mais de uma centena de computadores e tendo a sua frente paineis de led com o números e cotações, os brokers chineses das flores aplicam suas estratégias de compra e venda e participam dos leilões. E são mais de 1.000 leilões realizados diariamente.
Os diretores da Bolsa de Yunan confessam, sem nenhum pejo, que copiaram da Holanda o modelo de bolsa e o sofisticaram ao longo dos mais de 40 anos desde a abertura da economia chinesa promovida no governo de Deng Xiaoping no final da década de 70.
Mas porque esse exemplo é tão significativo para demonstrar na prática como funciona o socialismo com características chinesas? Ou o socialismo criativo chinês?
Primeiro porque essa Bolsa não negocia e nem especula com ativos relacionados a empresas, nem também com dinheiro como o dólar e fundos que pouco tem a ver com a produção de bens. A Bolsa de Flores de Yunan trabalha com a produção real de flores.
É uma empresa estatal que visa apoiar com tecnologia de ponta na comercialização a produção de mais de 300.000 produtores/agricultores de flores. A maioria deles organizados em cooperativas, associações ou agricultura familiar.
Para se ter uma ideia comparativa, a cidade de Holambra no interior de São Paulo, que produz 40% das flores no Brasil possui apenas 5.000 produtores.
Considerando que toda a terra da China é propriedade pública e pertence ao Estado socialista chinês, temos dois fatores estatais apoiando o cultivo e a produção privada de flores: terra e tecnologia no desenvolvimento dos produtos e de sua distribuição e comercialização. Ou seja, o produtor/agricultor privado de flores conta com o Estado socialista para a produção e para a venda de seus produtos.
A Bolsa funciona também como uma espécie de observatório tecnologicamente sofisticadopara fornecer ao Estado socialista dados seguros para o planejamento de longo e médio prazos desse setor econômico.
Estado socialista e mercado se complementando.
Economia criativa, no seu sentido mais amplo, aplicada a produção agrícola.
É o socialismo criativo na prática.