No dia em que o país atingiu a inconsolável marca de 500 mil mortos por coronavírus, patamar atingido só pelos Estados Unidos no restante do mundo, brasileiros saíram às ruas em 24 estados e o Distrito Federal para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e o avanço da vacinação, em meio a críticas à gestão da pandemia.
Menos de um mês após os protestos de 29 de maio, a segunda manifestação contra Bolsonaro atraiu maior número de pessoas em Brasília e no Rio, onde os organizadores estimam cerca de 70 mil pessoas no ato deste sábado, contra 50 mil no anterior.
Em Brasília, além de pedirem o impeachment de Bolsonaro e o avanço da vacinação, pessoas também protestaram contra a proposta de Reforma Administrativa, que tramita no Congresso. Os manifestantes também inflaram um boneco gigante com o uniforme dos Correios, em protesto contra a proposta de privatização da estatal.
No Rio, manifestantes percorreram a Avenida Presidente Vargas, no centro da cidade, até a igreja da Candelária. O ato ocorreu a apenas cinco quilômetros da Escola Naval, na Ilha de Villegagnon, onde Bolsonaro participou pela manhã da cerimônia de entrega de espadins a uma turma de aspirantes. Os manifestantes gritaram palavras de ordem como “Fora Bolsonaro”, “Eu quero vacina, não cloroquina”. Uma grande faixa escrita “Fora Bolsonaro inimigo da educação” foi estendida na pista da avenida.
Em São Paulo, milhares de manifestantes ocuparam ao menos oito quarteirões da Avenida Paulista, da rua Pamplona até a rua da Consolação. Uma barraca foi montada na avenida para doação de máscaras e distribuição de cartilhas informativas com recomendações para mitigar o risco de transmissão do coronavírus.
Na capital paulista, eles também criticaram o aumento da fome e do desemprego no país e a defesa da cloroquina feita por Bolsonaro, remédio comprovadamente ineficaz contra a covid. Manifestantes levaram ao protesto um boneco inflável do presidente Bolsonaro, o chamado “Capitão Cloroquino”. O boneco, que já havia sido inflado em Brasília, em manifestação contra o presidente ocorrida em maio, mostra Bolsonaro vestido como a figura da morte, com foice na mão e sangue escorrendo pelos cantos da boca. O boneco usa, ainda, uma faixa presidencial e porta, em uma das mãos, uma caixa de hidroxicloroquina.
“Nós fomos para a rua hoje para condenar Bolsonaro. Para dizer ao Brasil que não aceitamos essa barbárie. Muitas vidas poderiam ser poupadas, se o governo tivesse defendido a vacina, mantido o isolamento, e tomado práticas de prevenção. Mas não foi isso que aconteceu e estamos com 522 mil mortos pela covid-19″. Defendemos a vacina no braço, a comida no prato e a democracia”, afirmou Joilson Cardoso, secretário Nacional da Sindical Socialista.
No Recife, os protestos ocorreram mesmo sob chuva. O Governo de Pernambuco escalou agentes de conciliação para evitar animosidade entre polícia e manifestantes. Poucos policiais militares acompanharam os manifestantes à distância, e o Batalhão da Tropa de Choque não foi escalado.
O ato contou com carros de som e seguiu o mesmo trajeto, da Praça do Derby, no bairro Derby, em direção à Ponte Duarte Coelho, no centro. Ecoando o grito de “Fora Bolsonaro”, ao chegar à Ponte Duarte, os manifestantes se dividiram em uma bifurcação para “abraçar” todo o espaço, onde foram registrados os casos de violência policial do dia 29. Rosas foram distribuídas no final da manifestação sob o recado, em um dos carros de som: “Enquanto eles nos dão bala, nós damos flores, porque o nosso ato é pela vida”.
Em Salvador, a manifestação foi acompanhada pela Polícia Militar de forma pacífica. Em São Luís, houve maior número de manifestantes em comparação ao protesto de 29 de maio.
Manifestações foram registradas também em Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Boa Vista, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Goiânia, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho, Teresina e Vitória. Houve atos também fora das capitais, em cidades como Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), Campina Grande (PB), Caxias (MA), Lavras (MG) e Santa Maria (RS).
Assim como no último dia 29, protestos contra Bolsonaro também foram registrados no exterior. Em Berlim, na Alemanha, cruzes no chão lembraram os quase 500 mil mortos pela covid-19 no Brasil e as vítimas do massacre do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Além da cidade alemã, também foram registrados atos em Londres, Lisboa, Dublin, Viena, Zurique.
Com informações dos jornais Estadão, O Globo e Folha de S. Paulo.