
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli (PSB), afirmou, em entrevista à Agência Brasil, que o processo de desindustrialização enfrentado pelo país desde 1980 começa a ser revertido. O setor, que perdeu participação no Produto Interno Bruto (PIB) ao longo das décadas, registrou uma alta de 3,5% no PIB industrial até o terceiro trimestre de 2024, em comparação com o ano anterior.
Segundo Cappelli, o lançamento do programa Nova Indústria Brasil (NIB), que tem desempenhado papel fundamental na recuperação da indústria nacional, é um dos fatores principais para a mudança positiva. Lançado pelo governo federal em 2024, o programa busca impulsionar a indústria nacional com investimentos históricos e políticas de incentivo ao setor. Com ações que vão até 2033, o NIB prevê aproximadamente R$ 300 bilhões em financiamentos para o setor industrial até 2026, além de políticas regulatórias e de inovação.
Cappelli destacou a importância dessas medidas estruturantes para revitalizar a indústria, incluindo ações para a transformação ecológica e a regulamentação do mercado de carbono. “É um conjunto de políticas lançadas sob o guarda-chuva do Nova Indústria Brasil, que estão revertendo um cenário da indústria brasileira e alavancando novos investimentos. Tem muita coisa para ser feita ainda? Claro que tem, não está tudo resolvido”, afirma Cappelli, que assumiu o comando da ABDI em 22 de fevereiro de 2024.
De acordo com Cappelli, os números demonstram o reaquecimento da indústria com setores como o automotivo e o alimentício liderando o crescimento. Em 2024, a indústria automotiva teve o melhor desempenho em vendas nos últimos dez anos, com um crescimento de 15%, enquanto a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos anunciou investimentos de R$ 130 bilhões até 2026. Além disso, a indústria siderúrgica e a de celulose também registraram investimentos significativos.
“Enfim, somados os investimentos já anunciados pela indústria, nós ultrapassamos a casa de meio trilhão de reais em novos investimentos na indústria brasileira. Isso é fruto de uma política lançada pelo presidente Lula, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, a Nova Indústria Brasil, que voltou a disponibilizar para a indústria brasileira uma série de políticas estruturantes como, por exemplo, crédito”, destacou.
“Só o Plano Mais Produção, que envolve uma série de bancos públicos brasileiros, como o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa, a FINEP, a Embrapii, o BASA, o Banco da Amazônia, o Banco do Nordeste, disponibiliza crédito para a indústria da ordem de mais de R$ 504 bilhões”, disse.
Entre as políticas públicas lançadas sob o guarda-chuva do NIB, Cappelli cita o programa Brasil Mais Produtivo, que tem como meta atender, até 2026, 200 mil pequenas, médias empresas e também médias indústrias, sendo 93 mil atendimentos presenciais, com foco em aumento da produtividade e na transformação digital para ampliar a competitividade das pequenas e médias empresas e indústrias brasileiras. Além disso, há a Depreciação Acelerada, mecanismo lançado pelo governo federal que vai disponibilizar R$ 3,9 bilhões para que a indústria possa fazer a modernização de máquinas e equipamentos e abater esse recurso do imposto de renda devido.
Apesar dos avanços, o presidente da ABDI considera que o principal desafio para a continuidade desse ciclo de crescimento é a alta taxa de juros no Brasil. Com uma das maiores taxas de juros do mundo, o custo de capital impede que a indústria brasileira realize investimentos mais robustos, dificultando a modernização e a ampliação da produção, afirma. “É muito difícil conseguir manter investimentos na indústria brasileira com uma taxa de juros de dois dígitos. É a segunda maior taxa de juros do planeta e não há, no ambiente macroeconômico brasileiro, nenhuma justificativa para que o Brasil tenha essa taxa de juros”, critica.
Para enfrentar o problema da burocracia e os gargalos regulatórios, que dificultam a realização de investimentos no país, Cappelli destacou o programa “Destrava Brasil”, uma iniciativa para agilizar processos regulatórios e permitir que empresas realizem seus investimentos de forma mais rápida. Parcerias da ABDI com órgãos como o Ibama, Anvisa e Agência Nacional de Mineração estão sendo feitas para modernizar o setor regulatório e reduzir o tempo de análise de processos.
Cappelli mencionou AINDA a importância de uma maior aproximação entre a academia e o setor produtivo, um modelo que tem dado certo em países como a Alemanha. No Brasil, ele citou a experiência do Senai Cimatec na Bahia, que une ensino e indústria, formando um ecossistema de inovação. O presidente da ABDI acredita que essa experiência deve ser replicada em outras regiões do país para estimular a colaboração entre as universidades e o setor produtivo, impulsionando a inovação e o desenvolvimento industrial no Brasil.
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