O governador de Pernambuco e presidente Nacional do PSB, Eduardo Campos, reiterou, nesta sexta-feira (05), que o debate sobre os problemas do Brasil não pode ser adiado nem atrelado à sucessão presidencial de 2014. Ele concedeu uma entrevista à imprensa após ministrar palestra no 57º Congresso Estadual dos Municípios de São Paulo, realizado na cidade de Santos (SP), em que discorreu sobre temas como a economia, os desafios para a juventude brasileira e a MP dos Portos. Provocado pelos jornalistas, Campos, mais uma vez, informou que a possibilidade de uma candidatura presidencial do PSB será apreciada apenas em 2014 e reafirmou que seu partido, assim como todos os outros partidos brasileiros, tem o direito e a legitimidade para tomar essa decisão, caso seja o desejo da maioria. "Nós não temos de pedir licença a outras agremiações partidárias para tomar decisões", avisou.
Leia abaixo os pontos principais da entrevista:
Debate Político
"Trata-se de uma convicção que eu tenho, de que o mundo está fazendo um grande debate sobre a economia global. Esse debate é intenso hoje dentro dos Estados Unidos e da União Européia. Houve um profundo debate na troca de comando da China sobre o que fazer diante desses desafios e nós temos de fazer esse debate. Não podemos nos constranger, é o que eu penso, o que o PSB pensa, a discutir com os prefeitos um pacto federativo por que alguém vai achar que isso é um debate sobre eleição. Nós não podemos interditar o debate político no Brasil, o debate sobre a economia, sobre o futuro, sobre o que fazer na política da saúde, da segurança pública, que hoje é uma pauta em toda parte onde nós vamos, por que isso vai ser entendido como um movimento eleitoral. Quem entender como um movimento eleitoral, nós respeitamos. Nós vamos continuar a entender como um debate necessário, em um país que tem o tamanho que o Brasil tem, com os desafios que tem e a quantidade de pessoas à espera de um futuro melhor do que a gente tem hoje, no nosso presente".
Candidatura
"Eu tenho dito a vocês, nos vários encontros que temos tido, qual é a nossa visão desse momento que o pais vive. Nós entendemos que esse é um ano para unir o país em torno de uma pauta que sirva ao país. Esse é um ano em que a gente precisa retomar o crescimento, retomar uma visão que o Brasil já teve , lá de fora, melhor do que tem hoje. É preciso que a percepção sobre o futuro melhore, na cabeça dos que tomam decisão, no mundo público e no mundo privado. Isso não vai ser construído se a gente começar a disputa e a luta eleitoral. No ambiente dos partidos, é natural que seja tocado pelos gestos de outros. Na verdade se você for a um jogo de futebol e ver uma torcida calada você pode ficar calado, mas quando uma começa a gritar, a outra começa a gritar. Isso é um comportamento que acontece com total naturalidade. Não vamos aqui, nessa altura do campeonato, em que queremos uma discussão nesses termos que eu estou colocando, ficar nos preocupando se um militante fez um banner, uma faixa. Isso é do livre pensar de todas as agremiações partidárias. O PSB é um partido que existe há muitos anos, desde que esquerda democrática resolveu se reorganizar e se organizar nos idos de 1940, na saída do Estado Novo, lutando por democracia. Nós fomos banidos da vida brasileira durante a ditadura militar, fomos reorganizados, temos vida orgânica, temos um partido que tem direção, tem debate. Nunca fomos nem vamos ser sublegenda de absolutamente ninguém. Não precisamos pedir licença á outras agremiações partidárias, seja ela qual for, para tomar uma decisão. As nossas decisões sempre foram tomas à luz do dia e presididas pelos interesses do país e do povo brasileiro, pois essa é a nossa tradição. Nós vamos tomar a decisão que cabe ao partido tomar no tempo que o partido considera que deve tomar, levando em consideração não os interesses do PSB, do seu presidente ou da sua direção, mas olhando os interesses do Brasil. Vamos fazer isso com muita tranqüilidade, na hora certa. Eu peço paciência à imprensa comigo, pois eu tenho o direito de pensar dessa forma. Eu lutei desde nome pela livre expressão, pela democracia, pela liberdade, para exatamente ver essa coisa bonita que é todo mundo pensar como entende que deve pensar. Não há nessa posição nenhum lance de sabedoria política, vamos deixar para 14 por causa disso ou daquilo. Nós não somos dados a isso, nunca fizemos esse tipo de coisa. Quando vamos para a disputa, nós vamos para a disputa e não tem problema nenhum. Sempre fizemos a disputa de maneira muito clara, muito objetiva, agora, o PSB tem responsabilidade, eu tenho responsabilidades, eu sei o que está acontecendo lá fora, eu tenho acompanhado os indicadores dos últimos anos no Brasil, eu tenho conversado nos últimos tempo com muita gente e sei o que nós podemos ter esse ano e podemos deixar de ter. Eu quero ter a consciência tranqüila que eu fiz a minha parte para ajudar o Brasil".
Ex-presidente Lula e Presidente Dilma
"Quando eu falo em interditar o debate não estou me referindo ao presidente Lula ou à presidente Dilma. Quando eu penso que preciso me referir a qualquer quadro político, e sobretudo ao ex-presidente ou à presidente Dilma, eu faço com toda clareza. Eu não uso de subterfúgios para falar as coisas que entendo falar e tenho uma formação política, uma escola política, de gente que é muito mansa, tranqüila na ação política, na formulação, mas de gente que não se assombra em dizer o que pensa a quem deva dizer".
MP dos Portos
"Nada melhor que falar de Porto na cidade de Santos, que tem esse grande e belo equipamento que serve ao país e precisa da solidariedade brasileira para continuar servindo cada vez melhor. Devo dizer que o PSB não tem nenhuma indicação na direção do Porto de Santos. O PSB tem o ministro dos Portos, Leônidas, que foi escolhido pela presidenta Dilma com o apoio do PSB, que serve ao governo. O entendimento, inclusive, que temos com o ministro e o próprio governo é que essas decisões são indicações que cabem à ele com a presidente fazer. Em relação à Medida Provisória dos Portos eu acho que ela serve a um bom propósito, a proposta de melhorar a logística do Brasil, de aumentar a competitividade, de reduzir o preço da logística no Brasil, agora, ela tinha imperfeições. Parte da imperfeições tem sido superada no debate democrático patrocinado pelo governo com parlamentares, na comissão especial. Três pontos me chamam atenção: a retirada de direitos dos trabalhadores, nós pela história que temos, somos solidários à causa dos trabalhadores no Brasil e não é de hoje. Não víamos como o item que é 8% do custo deveria ser foco da redução do custo da logística no Brasil, com prioridade. Isso foi, de certa forma, caminhou na direção de um acordo. A outra preocupação que nós tínhamos da com os contratos que existiam e que efetivamente iriam ser desequilibrados, na medida em que se estabelecesse concorrência em ambientes com condições distintas, ou seja, você ia ter novos operadores portuários com condições de concorrência distintas dos antigos, que pagavam muitos portos, inclusive portos estaduais, como o nosso, que iria viver uma grande transformação, pois iria levar à falência tudo o que andante construiu na área primaria dos portos e surgir, onde pudesse surgir, estrutura novas, o que a nosso ver não seria o melhor dos mundos. Esse aspecto, o debate político de certa forma superou. Um ultimo aspecto, que ainda não foi superado, é qual o papel que cabe aos estados que têm portos. São 11 portos que estão sendo geridos pelos estados, Pernambuco tem dois: um foi herdado da União, não ia bem e foi transferido por que não ia bem, melhorou, agora vai bem; e tem o Porto de Suape, considerado o mais eficiente Porto público do Brasil, um jovem Porto, que não tem a expressão desse grande Porto que é o Porto de Santos, mas é um Porto que está na estratégia da logística brasileira para os próximos 30 anos. É um concentrador de cargas, serve a oito capitais nordestinas, tem uma profundidade de mais de 20 metros para operação, tem retroárea de 15 mil hectares, uma reserva de mata atlântica extraordinária onde tem 103 fábricas funcionando, 47 vão entrar em funcionamento nos próximos dois anos, onde trabalham 50 mil pessoas. Esse Porto tem o único plano diretor de zoneamento aprovado pela União de acordo com a lei de 2011, que fez todo o trâmite. O decreto foi assinado pela presidenta Dilma em novembro de 2011. É o único Porto que tem um plano de arrendamento, uma série de empreendimentos que foi pro complexo industria portuário, levando em consideração que iria ter aquilo que foi garantido pelo Porto. E agora, a MP diz que quem vai fazer todo o planejamento é o país, eu concordo com isso. Quem podia dar licença para os terminais era a Antaq, agora será a SEP, pra mim tanto faz, é um órgão federal. Agora, quem faz o contrato é o estado. Como é que vai se manter um Porto daquele tamanho, maior que Pernambuco pode, se eu vou ter efeito na receita que eu tenho hoje, por que na hora em que muda a forma de contratar vai alterar os contratos que já se tem, na hora em que vai se fazer o contrato por mais carga menor tarifa a receita do Porto vai cair. Se eu não fizer essa discussão, eu não estarei fazendo jus aos 83% dos votos que eu tive para ser o governador do estado. Eu tenho que levantar a mão, pedir o direito de falar e dizer qual é o problema que se tem de garantir aos estados que os contratos sejam com os portos, esses contratos são contratos que hoje passam por estudos de viabilidade econômica, editais que são levados ao Tribunal de Contas, que são feitos e produzidos pelos órgãos federais, agora, o contrato é com o Porto. Qual é o problema disso? Eu não vejo nenhum. Só falta resolver esse e eu tenho fé de que vai se resolver de uma forma ou de outra: ou na conversa ou no voto".
Royalties do Petróleo
"Eu lamento que o debate sobre uma expressão como o pré-sal é para o Brasil, que desenvolver tecnologia para ir buscar petróleo no fundo do mar, tem dezenas e dezenas de parentes em equipamentos para isso, descobrimos uma grande riqueza nacional, fizemos um debate sobre a viabilidade pré-sal. O mundo discute hoje outras alternativas energéticas que podem mudar fortemente a matriz energética global, e muitas lutas e disputas que têm em torno do petróleo no mundo afora. Nos podemos ter muito dessa riqueza, O Brasil pode ter não só o petróleo, mas pode ter a mesma fonte energética que os americanos acabam de descobrir, como xisto, pode ter muito no Brasil. Nós não podemos fazer dessa possibilidade um elemento de dispersão entre os brasileiros. Eu defendi que houvesse uma melhor partilha dos royalties e continuo a defendê-la. Como defendi sempre que não se tirasse aquilo que já era direito de que já tinha direito. Defendi claramente que a União cedesse, como cedeu, uma parte do que ela tinha para fazer o entendimento no pais. Nós chegamos perto disso. Aa presidenta Dilma pediu mais uma semana e não foi das essa semana mais ao debate. A gente perdeu a oportunidade, em vez de mandar para o judiciário que já tem tanta coisa pra fazer e julgar, a gente perdeu a oportunidade de fazer um entendimento que pacificasse essa questão e que a gente pudesse ir buscar dinheiro para a educação. Em Pernambuco isso já é lei: o que viermos a receber dos royalties será exclusivo para educação e ciência e tecnologia".
Transferência de Precatórios Municipais para a União
"Eu sou favorável a fazer um debate sobre o paço federativo, sobre mais recursos para os municípios. A solução do novo pacto federativo não aí vir desse tipo de engenhoca, assume isso aquilo, pontualmente, por que aí não tem um olhar geral sobre o país. É uma situação particular de alguns municípios e outros que não fizeram dividas, outros que cumpriram seus compromissos serão penalizados, por que cumpriram, pagaram todos os débitos judiciais? Ou seja nos precisamos fazer um debate de caráter geral que possa encontrar uma saída institucional para o conjunto dos municípios. Isso só vai acontecer quando fizermos um debate sobre o sistema de financiamento das principais áreas das políticas públicas, ou seja, como é que a gente vai financiar a saúde pública, como é financiar a educação em período integral, que nós devemos ter como uma meta que reúne todos os brasileiros, pois eu não acredito que nenhum partido político no mundo seja contra a gente ter educação desde a creche e universalizar o acesso ao ensino integral. Esse debate é que vai encontrar saída para as contas dos municípios, dos estados, ao lado da eficiência no gasto público, da transparência no gasto público, das ferramentas de gestão que vão buscar e transformar o gasto ruim em gasto efetivamente que transforme a vida das pessoas".
Desafios da Juventude
"O Brasil tem a maior população jovem de toda a sua história. Essa população está disposta, de maneira mais forte ainda, aos grandes desafios brasileiros, o desafio da qualificação profissional, da educação de qualidade, é o desafio para que essa população possa efetivamente ter uma inclusão que tenha as marcas de uma sociedade com muito mais equilíbrio que a que nós temos hoje. Temos a juventude brasileira exposta à essa mazela da segurança pública, pois se fizermos o recorte etário nos homicídios brasileiros vamos ver que os homicídios são um fenômeno sobretudo jovem, de jovem de periferia exposto a riscos. Temos hoje no Brasil uma epidemia do crack e essa epidemia atinge mais frontalmente a juventude mais vulnerável. Hoje, na pauta da juventude brasileira estão os principais desafios, de forma muito mais contundente do que para o restante da população. Daí a necessidade de termos políticas públicas focadas na juventude. Nosso governo fez o primeiro plano estadual de juventude, que se transformou em uma lei para não ser uma ação só de governo, que dialoga com todas as dimensões desses desafios que tem a juventude brasileira".