O Portal do PSB segue com a série de artigos do cientista político e doutor em Relações Internacionais Adriano Sandri. Neles, Sandri analisa a questão democrática, as eleições de 2022, o socialismo, o programa partidário, os desafios do país, a crise das instituições e, ao final, apresenta uma “Carta do povo brasileiro em defesa da democracia”. O primeiro artigo foi publicado na quinta-feira, 1/9.
Leia o segundo texto:
Nosso regime político pode ser bem definido como o da “democracia de aparência”.
O PSB deve lutar por uma democracia real. A eleição de Lula, pelo que ele representa na política, não é suficiente para realizar essa democracia real. Lula é mais um passo rumo à democracia. Lula ainda é um avanço na democracia das elites ideológicas, espaço no qual ela é exercida por uma minoria, formada pelas lideranças, e apoiada eleitoralmente pela massa de eleitores.
Esta democracia, realisticamente, é o processo lento e gradual que a humanidade está construindo há três séculos, e que corresponde aos avanços históricos da construção da convivência entre humanos.
Socialismo é uma utopia, igual às utopias religiosas: são reais, verdadeiras, operantes, contraditórias, evolutivas.
Nessas eleições nós, socialistas, temos que ser utópicos, e, com nossas utopias, ir construindo a consciência política dos eleitores. Não podemos simplificar os horizontes do pleito eleitoral: ser contra, vencer o adversário, conquistar uma cadeira de deputado, senador, governador ou presidente não pode ser o horizonte, mas um dos objetivos.
O momento histórico que atravessamos é a passagem da sociedade semi-industrial que o Brasil construiu no período que iniciou em 1930, e findou na década de 1980, para a sociedade de serviços. Na fase que começou em 1930, o Brasil, através do Estado, implementou o sistema de relações trabalhistas legislado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Hoje, o processo de desmonte da CLT avança com a transformação do trabalhador assalariado em trabalhador autônomo, que negocia diretamente o valor de seu serviço, na maioria dos casos, não especializado, privando-se de todo o sistema de seguridade social (saúde e aposentadoria).
A bandeira da reindustrialização é precária, pois a conjuntura internacional do trabalho não ruma para esta realidade econômica. Nosso socialismo não pode ser simplesmente criativo, e deve propor um novo tipo de sociedade econômica na qual o que produzir, o que consumir, o quanto produzir, e como produzir sejam propostos sobre valores como a questão ecológico-ambiental, a justa retribuição do trabalho, o fim da miséria e pobreza no mundo todo.
Nas propostas do nosso programa, essas bandeiras têm o devido espaço?
(Amanhã será publicado o terceiro texto da série O socialismo e as eleições de 2022)