
Carlos Siqueira no Pense Brasil em 2019. Foto: Humberto Pradera
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, defendeu a necessidade de uma frente ampla para restauração da democracia plena diante dos riscos que ela está correndo no governo ultraliberal de Jair Bolsonaro. A afirmação foi feita durante a realização da 6ª Edição do Pense Brasil Virtual, na noite desta segunda-feira (11) e transmitida ao vivo pelas redes sociais da Fundação João Mangabeira.
“A liberdade e a democracia precisam ser levadas em consideração como uma conquista e uma questão estratégica nesse momento de retrocesso profundo que nós vivemos. Elas estão correndo riscos no país”, disse.
Para Siqueira, Bolsonaro tem agido com muita ousadia, com muita capacidade de se manter no governo até hoje porque não tem sido convencional no propósito de implantação de um regime autoritário.
Em outro âmbito, o socialista afirmou que uma frente eleitoral de esquerda e progressista de conquista de poder também é necessária, mas que precisa ser mais ousada e com um discurso que conte com o apoio da população brasileira para a defesa de um projeto nacional de desenvolvimento que deve ser apresentado.
“Penso que nós precisamos ser mais ousados ao falarmos da nossa proposta de um projeto nacional de desenvolvimento, que tenha como base a conquista de igualdade social, um processo civilizatório de desenvolvimento com base na ciência, na tecnologia e na inovação, nas novas tecnologias e comunicações, e que tenha como objetivo principal arrancar o país desse retrocesso. Isso só pode ser feito se você tiver um discurso e um projeto nacional de desenvolvimento consistente que ganhem a população brasileira. Sem apoio popular não existe projeto nacional de desenvolvimento”, frisou.
Siqueira ressaltou que é preciso a união das forças de esquerda para dar uma resposta eficaz e contestadora à crise política do país. “Nós precisamos ter juízo e, sobretudo, estarmos à altura do momento e das exigências que tem o Brasil hoje. Se não tivermos a ousadia e a capacidade de unir primeiramente as forças de esquerda, nós estaremos reféns por muito tempo do liberalismo, do conservadorismo e do autoritarismo que nos ameaçam nesse momento”, afirmou.
A unidade, segundo o presidente do PSB, é fundamental e os partidos de esquerda precisam colocar o Brasil e sua população em primeiro lugar, pois a conjuntura política atual é “gravíssima”. “Precisamos repensar nossas posições, sentarmos para conversar com responsabilidade e nos colocarmos à altura do que significa a unidade da esquerda não só para o presente, mas para o futuro do país. Nossos interesses partidários são importantes e legítimos, mas eles jamais podem se sobressair sobre os interesses do país”, bradou.
Com o tema “Diálogos de um novo Brasil: Desafios e requisitos para um projeto democrático avançado”, o debate teve a mediação do presidente da FJM Ricardo Coutinho. Entre os debatedores participaram a deputada federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmam, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), a vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, e o ex-senador e ex-governador do Paraná, Roberto Requião.
Coutinho, por sua vez, agregou a necessidade de os agentes políticos terem o compromisso com a humanização da política. “A política tem que voltar a falar para e com as pessoas”, defendeu.

Coutinho durante o Pense Brasil em 2019. Foto: Humberto Pradera
Segundo ele, a ultradireita está fazendo isso diante da pandemia do novo coronavírus e mandando a população para morte quando defende a flexibilização do isolamento social, quando se formam filas enormes nas agência da Caixa Econômica em busca do auxílio emergencial, quando realizam manifestações e aglomerações pró-Bolsonaro.
Coutinho defendeu que a ideia é viabilizar o enfrentamento do cenário econômico e social perturbadores no pós-pandemia por meio de três eixos: orçamento impositivo, que vigore acima do pagamento de dívidas públicas; acesso gratuito e universal à saúde e educação; e renda básica permanente e universal para as populações vulneráveis.
“É voltar a falar uma linguagem que as pessoas caibam e se sintam parte da política e isso tem tudo a ver com a questão do Estado Nacional”, disse.
Sobre este assunto, Siqueira defendeu a retomada fundamental da defesa da soberania nacional e criticou que os países que pregam que o Estado Nacional não vale de nada são justamente aqueles que têm muita intervenção do Estado, como Inglaterra e Estados Unidos. “Sem soberania nacional, sem Estado Nacional não haverá desenvolvimento brasileiro nem justiça social”, afirmou.
O socialista destacou ser necessária uma reforma política profunda para que se diminuam o número excessivo de partidos e para que a população volte a ter confiança no sistema político partidário do Brasil, já necrosado. Nas últimas eleições de 2018, a população estava desacreditada e queria eleger alguém fora do sistema, avaliou. Dessa forma, Jair Bolsonaro, um dos piores quadros do Congresso Nacional, aponta Siqueira, chegou à Presidência.
“Em nenhum momento da história da República o país teve uma liderança tão degradante para sua imagem interna e externa como hoje temos na pessoa do senhor Bolsonaro. Ele não é apenas um presidente medíocre cujas políticas ultraliberais não tem nenhuma identidade com a realidade, com a necessidade de desenvolvimento nacional e um projeto nacional de desenvolvimento. O Brasil nunca esteve tão distante de alcançar o seu desenvolvimento político, econômico e social como se encontra hoje. Ou seja, o retrocesso é monumental”, criticou.
Para o presidente do PSB, é preciso que os partidos e os democratas em geral tenham um grau de autocrítica para saberem onde está sua responsabilidade nesse acontecimento pois as instituições democráticas, os direitos sociais e a própria democracia estão em risco.
“Agora que veio essa pandemia, ficou mais nítido o grau de deterioração e o tamanho desse presidente que está muito aquém da cadeira que ocupa. Portanto, acho que é um momento importante de reflexão e autocrítica para que as forças políticas como as nossas possam repensar o sistema político, eleitoral e partidário, reestruturá-lo e garantir a questão estratégica de hoje que é a manutenção da democracia”, pontuou.
Outra ponto citado por Siqueira diz respeito à falta de esforço pelos governos de esquerda, que estiveram no poder por 16 anos, em não criar uma mídia alternativa e sustentarem com milhões de reais as grande redes de televisão como se fossem aliadas do governo. “Que isso sirva de exemplo para que, quando chegarmos novamente ao poder, nunca mais possamos repetir essa irresponsabilidade”.
Para o socialista, um projeto nacional de desenvolvimento do país precisa ser claro para que, de fato, haja mudanças estruturais.
“Precisamos criar e unir as forças que querem o bem para o Brasil no sentido de pensar um país com um projeto arrojado de desenvolvimento nacional. Se vamos ganhar hoje, amanhã ou depois de amanhã, pode demorar a chegarmos ao poder, mas precisamos chegar com respaldo popular para fazermos grandes mudanças. Do contrário, fazer oposição pode significar muito mais para população do que estar no poder”, finalizou.