O Correio Popular publicou no último domingo entrevista com o candidato do PSB à Prefeitura de Campinas (SP), Jonas Donizette. O candidato a prefeito da coligação Toda Força para Campinas falou sobre as ações do seu programa de governo. Entre as medidas previstas está a revisão do sistema de fiscalização eletrônica do trânsito.
Jonas Donizette ressaltou que o monitoramento por meio de radares é necessário, mas vai verificar com rigidez o que chamou de “indústria da multa”. “Eu vejo hoje uma indústria de arrecadação. Tem que ter os dois lados, a educação e a punição. Hoje nós só vemos a punição”, criticou.
O candidato também afirmou que em sua administração não haverá pedágio urbano em Campinas.”O governo (estadual) já negou isso e quero dar uma palavra definitiva sobre esse assunto”, destacou. Na entrevista, de uma página inteira, Jonas Donizette falou ainda de propostas para as áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura.
Confira a entrevista completa:
Jonas quer um governo de diálogo
Deputado federal, que tenta ser prefeito pela 3ª vez, enaltece suas relações com Estado e União
26/08/2012 – 07h41 . Atualizada em 26/08/2012 – 00h00
Milene Moreto
Candidato pela terceira vez em Campinas ao cargo de prefeito, Jonas Donizette (PSB), se sente preparado para assumir a função. Favorito nas urnas, o prefeiturável diz ser beneficiado com uma boa relação tanto no governo federal, quanto no estadual. Jonas ainda afirmou que possui o perfil ideal para administrar a cidade e que fará, caso eleito, um governo com o povo. Confira os trechos da entrevista:
Se eleito, qual a primeira medida a ser adotada?
Cada dia do meu governo vai ser como um primeiro dia. Eu aprendi que a constância faz a diferença em tudo na vida. Quem promete uma energia muito forte logo de cara às vezes não chega até o final da corrida. Mas é claro, é evidente que a gente precisa dar uma resposta para essa questão da Saúde em Campinas. A prioridade vai ser executar as políticas públicas com harmonia, ter um governo que se converse, que saiba o que está acontecendo. Criar um secretariado comprometido com a cidade. Eu vou dar uma atenção a Saúde e uma atenção especial também na área de Segurança. Acho que são dois pontos fundamentais. Eu vejo a Educação permeando todas as questões do nosso governo.
Qual a experiência que o senhor tem em gestão?
Eu participei de várias esferas no governo. E sempre tive um feitio meio executivo no Legislativo. Uma liderança de governo no governo do Estado de São Paulo, com mais de 40 milhões de pessoas, todas as políticas implementadas eu participei de forma muito efetiva. A lei do fumo, do ICMS paulista, todas essas matérias eu fiquei horas e horas discutindo dentro de secretarias para poder pegar o conceito e transformar aquilo em lei. Eu tenho uma experiência de vida na área pública, são 20 anos.
Como resolver os gargalos no setor da Saúde?
A gente precisa de duas coisas. Gestão e recursos. Tem gente que fala que não precisa de recurso é só gestão. Saúde precisa de recurso. Só que o Município hoje já gasta cerca de 23% do Orçamento na Saúde. Na Saúde eu vejo assim, nós temos que ter uma atenção especial para as unidades de saúde básica, hoje são 62 centros espalhados na cidade. Concluir algumas obras que estão paradas. Reforçar a atenção da condição de trabalho do servidor público. E nós vamos apresentar algumas soluções, principalmente na área de medicamentos. Hoje grande parte das pessoas que vão nos postos de Saúde, vai em busca de medicamentos. A gente quer criar um sistema de entrega em casa. Isso já existe em outros países, a cidade de São Paulo faz. São remédios controlados, que a pessoa toma cotidianamente, e a gente quer ver se entrega na casa da pessoa fazendo a licitação dessa compra, já incluir isso sem nenhuma despesa para o Município. No governo do estado queremos caminhar na questão da AME para desafogar consultas com especialistas. No que diz respeito à União, eu aprendi que existe muito recurso, mas você precisa apresentar projeto. Quero ver se eu crio um banco de projetos. Qualquer assunto que o governo federal respirar e falar que tem verba, a gente quer chegar lá com o projeto para que Campinas seja beneficiada.
A demanda da Região Metropolitana de Campinas (RMC) atrapalha?
Sou amigo de todos os prefeitos da região. Campinas precisa voltar a ter de fato a liderança política que já teve em outras épocas. Mas isso você não faz impondo. Se faz com diálogo e com política. Eu acredito que tenho todos os instrumentos para isso também. Já existe o cartão SUS, o cartão metropolitano. Com ele, o SUS paga de acordo onde a pessoa foi atendida. Nós não vamos mais precisar ficar preocupados mais se tem gente vindo de Hortolândia, Sumaré. A Saúde não tem porteira. Só que o que acontece hoje, a pessoa mora em Campinas e é atendida em Sumaré, o recurso fica em Sumaré. Com essa informatização, a gente tem condição de trazer o recurso para a cidade onde ela foi atendida. Também temos a construção do Pronto Socorro Metropolitano que precisa ser alavancada.
O prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) fez promessas para zerar o déficit nas escolas e creches, mas não conseguiu. Como administrar esse problema?
Eu acho que a nave-mãe é um bom projeto. A gente não pode em detrimento de uma coisa ruim que aconteceu, achar tudo ruim. No nosso governo, aquilo que for bom a gente vai dar continuidade. Nós vamos procurar na Secretaria de Educação, que tem recursos de até 25% do Orçamento, levar com muita seriedade a questão das CEMEIs, procurar ampliar as vagas em creche. Vamos tratar as monitores com uma atenção especial. Nós acreditamos que as monitoras cumprem um papel muito importante na educação das crianças. Vamos imaginar que a gente no período de dois anos consiga estancar. Mas vão nascer outras crianças. Então, eu não vou usar a palavra “zerar” mas vou fazer de tudo para fazer frente a essa carência.
Agora, vou me preocupar muito com o ensino profissionalizante, isso eu coloco no meu programa de governo. O governador Alckmin já se propôs a trazer uma Fatec para Campinas que será construída ao lado da Etecap, na região dos Amarais. A Fatec é uma faculdade tecnológica e precisamos investir na qualificação profissional. Hoje se você for falar com qualquer empresário eles vão reclamar disso, de qualquer ramo. A Fatec tem um índice de empregabilidade de 92%. Na área federal, fiz um requerimento cobrando a questão do Instituto Federal. Teve um problema na licitação. Em todas as apresentações eles colocam o instituto de Campinas como se já existisse. O concurso público já foi feito e não tem o prédio.
A população reclama da falta de infraestrutura e serviços. Administrações Regionais estão sucateadas e são cabides de emprego. O senhor manteria essa estrutura?
Eu tenho uma boa experiência em trato com o Legislativo. Fui líder de governo em várias esferas. Não podemos desprezar a figura do representante popular. Acho que o vereador, principalmente como Campinas tem se configurado com 33 vereadores, criou uma possibilidade de uma representação mais local. Mas por outro lado quem votou nele reclama da rua, da poda de árvore. Se o poder público começar a funcionar como deve e fazer frente a essa demanda, o próprio vereador ele vai sentir uma pressão menor. Agora, um compromisso que eu assumo com a população é de transformar essa relação entre Executivo e Legislativo. O vereador será respeitado por mim, mas ele terá a autonomia dele. Eu não entregaria uma AR nas mãos de um vereador. Entregar uma coisa de porteira fechada, nem AR e nem qualquer outra coisa. As Administrações Regionais, do jeito que estão hoje, não funcionam. O que a gente precisa fazer? Um verdadeiro mutirão para colocar a cidade em ordem. Depois disso, criar uma manutenção constante.
A cidade é carente de projetos culturais e há sucateamento no setor…
Primeiro, quero deixar claro que nós temos uma classe cultural muito rica na cidade. Por mais que a gente fale que a Cultura está com problemas, as pessoas envolvidas com a área cultural são muito apaixonadas. A questão do novo teatro, que o Estado vai construir, foi um pedido meu junto ao governador para tentar realmente uma recuperação (do setor). Estive com o governador e ele deve anunciar a área já delimitada onde deverá ser construído. É uma área mais elevada do Parque Ecológico, terá uma sala destinada a ensaio da Orquestra Sinfônica.
Campinas tem muitos moradores vivendo em áreas de risco. Quais são as suas políticas para a Habitação?
Terreno em Campinas não é coisa tão simples assim para empreendimentos imobiliários de grande porte. Alguns programas do governo do Estado, como o Casa Paulista, ao invés de ter Minha Casa, Minha Vida e casas do CDHU eles vão tentar dar um subsídio para o Minha Casa, Minha Vida, eles entrariam por exemplo com R$ 25 mil ou R$ 30 mil. Isso já subsidiaria o terreno. Com essa união, isso vai ser muito bom para cidades como Campinas. Quero fazer uma política habitacional distribuída na cidade, sem tanto impacto, sem tanto adensamento. Nós temos as Zeis, Zonas de Interesse Social. Existe o modelo francês, que seria o mais adequado. Eu vou usar esse exemplo. Você pega o Alphaville. Quantas pessoas de baixa renda prestam hoje serviços nesse local? São inúmeras. Empregadas domésticas, jardineiros. O que seria ideal? Uma gleba de terras próximas ali e declarar de interesse social para que aquelas pessoas pudessem ter uma proximidade com o local de trabalho. É você acabar com a cidade “aqui mora rico, aqui mora pobre”.
O morador de Campinas está irritado com os radares. Qual sua política sobre isso?
Eu acho que é uma indústria de multa. Eu vou verificar isso com muita rigidez. O instrumento da fiscalização é necessário. Eu participei de quando foi implantado um novo sistema de trânsito na cidade, me lembro que diminuiu muito os acidentes, acho que a gente tem que ter o controle. Eu vejo hoje uma indústria de arrecadação. Tem que ter os dois lados, a educação e a punição. Hoje nós só vemos a punição. Não existirá em Campinas pedágio urbano na minha administração. O governo já negou isso e quero dar uma palavra definitiva sobre esse assunto.
O trânsito em Campinas já está saturado. Como o senhor pretende resolver isso?
Nós temos dois momentos. O primeiro é pensar o transporte como existe hoje, com mais qualidade. Desde cobrir os pontos de ônibus. Hoje, nós não temos. Existe uma faixa pintada, a pessoa toma sol e chuva esperando ônibus. Criar um sistema informatizado em que as pessoas tenham informações melhores. Existe hoje em São Paulo um dispositivo que você coloca no ônibus e ele informa no ponto quanto tempo falta para o ônibus chegar. Isso em outras cidades do exterior é uma prática. Precisamos fazer novas vias de acesso com ligações interbairros, a cidade de Campinas é mal sinalizada. Quase tudo o motorista passa pelo Centro e isso causa problema no transporte coletivo. Nós temos R$ 290 milhões com uma contrapartida de R$ 40 milhões para Campinas e a gente tem 18 meses para apresentar o projeto dos corredores. Campinas não pode errar de novo nessa área.
Qual a sua proposta para a Segurança Pública?
Na questão da integração da polícia, eu sou plenamente favorável. Estou trazendo para o meu programa de governo pessoas que pensem a segurança com uma cabeça moderna. A parte da segurança é algo muito importante porque atinge a cidade como um todo. O cidadão que tem um pouco mais de recursos consegue se amparar sem depender das políticas públicas. Na segurança, todos nós estamos no mesmo círculo. Nessa questão, em Campinas o crime contra a vida diminuiu, mas aumentou o crime contra o patrimônio. Pretendo criar uma articulação com as polícias estaduais, dar a contribuição da Guarda para que a gente possa oferecer uma cidade mais segura.
Há problemas a resolver como o embargo de obras e os camelôs. O que fazer?
No nosso plano de governo, a gente fala que quer pensar Campinas para os próximos 20 anos. Eu pretendo ter um órgão como esse, um instituto que pense a cidade, independente quem seja o prefeito. Qual é o problema da política? Vem um prefeito para tudo e começa do zero e, às vezes, acontece o reverso. Sobre os camelôs. Eu tenho uma simpatia por quem quer ganhar a vida trabalhando. Eu acho que o trabalho é digno. Se a pessoa tem uma carteira assinada, ela não vai sair na rua vendendo coisas porque ela quer.
Quais são os seus projetos para a área de Viracopos?
São os planos mais animados que você possa imaginar. São R$ 870 milhões investidos nos próximos dois anos com previsão de investimento de R$ 8 bilhões. Uma previsão, eu acho, superestimada, eles falam de 90 milhões de passageiros em 2030. Mas vamos colocar 60 milhões de passageiros, é muita gente passando por Campinas. Essas pessoas vão estabelecer negócios na cidade, vão precisar se hospedar em Campinas. Eu vejo Viracopos se tornando a grande porta de entrada internacional do Brasil. Vou ter o cuidado também de olhar a população do entorno com o carinho que ela merece.
Muitos dos problemas são decorrentes da corrupção. Como garantir um governo livre desses problemas?
Quando existe a honestidade de quem for eleito, ele tem que estar atento para várias esferas do governo. Agora, quando o mau exemplo parte de cima, aí a coisa se desintegra e foi o que aconteceu na nossa cidade. Eu me sinto muito à vontade nessa questão porque eu fui o grande opositor de tudo isso que tá aí. Desejo uma cidade sem corrupção.