
Foto: Cristiano Machado/Hoje em Dia
Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, nesta quarta-feira (28), o prefeito de Belo Horizonte e uma das principais lideranças do PSB, Marcio Lacerda, afirma que o partido tem que ter consciência de que “a crise econômica é grave” e precisa votar medidas de ajuste na economia “por mínimas que sejam”.
Presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, reclama que a discussão política “contaminada por 2018” pode prejudicar as cidades.
A sigla comanda o Ministério de Minas e Energia, mas alguns membros, como o governador Paulo Câmara (PE), têm demonstrado insatisfação com o governo federal.
À Folha, Lacerda também nega que tenha tratado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sobre apoio em uma eventual disputa ao Planalto em 2018.
No entanto, “acha difícil” que o partido esteja ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Aécio e Lacerda eram próximos, mas racharam porque cada um queria lançar candidato na capital mineira. Ambos acabaram derrotados por Alexandre Kalil (PHS), cujo slogan era “chega de político”.
Folha – O PSB gaúcho se posicionou pela saída do governo Temer e o governador de Pernambuco demonstrou insatisfação. Qual sua posição?
Marcio Lacerda – Pessoalmente, muito antes do impeachment, eu disse que achava não ia resolver o problema do país porque um governo Temer teria dificuldades de credibilidade, de arregimentar forças para fazer as mudanças de que o país precisava. Depois, nas discussões sobre o PSB participar ou não do governo Temer, eu acompanhei a maioria, que dizia que não aceitaria o convite, mas havia uma posição entre os deputados de ter alguma posição em ministério para fazer política.
Folha – Mas o sr. acha que o PSB deveria desembarcar do governo?
M.L – O PSB não está no governo. Na realidade ele apoia ou deixa de apoiar determinadas medidas. Tanto a bancada de senadores como a de deputados dificilmente consegue uma posição unânime sobre qualquer assunto. A questão básica, e isso eu digo sempre, ê que o país está afundando do ponto de vista da economia. A política não está ajudando muito e não há uma consciência clara de que essa crise econômica é grave.
Folha – O [vice-governador de SP] Mareio França disse que o PSB tem dois caminhos: apoiar Geraldo Alckmin ou lançar candidatura própria…
M.L. – Dentro da Executiva Nacional existem essas duas posições: apoiar alguém, não necessariamente se falou no governador Alckmin, ou ter candidatura própria. E apoiar alguém possivelmente com [candidato a] vice-presidente ou não.
Folha – Durante a campanha municipal, aliados disseram que o sr. estava se aproximando do governador Geraldo Alckmin.
M.L. – Eu tenho convivido com o governador Alckmin em função da minha militância nos municípios, porque tem pautas que são comuns, como o uso de depósitos judiciais para pagamentos de precatórios. Estive com ele na casa do [prefeito eleito João] Doria lá em Campos do Jordão no ano passado e passamos o fim de semana. Sou próximo do Doria há muito tempo e temos uma relação de admiração mútua.
Folha – Mas tudo isso é visto como uma aproximação e um possível apoio ao Alckmin e não ao senador Aécio Neves em 2018.
M.L. – Quando aconteceu o resultado do segundo turno aqui, que o Aécio perdeu, a notícia [sobre a aproximação] veio logo depois. Mas eu nunca tive nenhum entendimento com o governador Alckmin sobre esse assunto. É mais pura verdade.
Folha – A relação do sr. com o Aécio está abalada desde a eleição?
M.L – Eu não falo com ele desde julho do ano passado. Falei por telefone em agosto, e queria ainda um apoio nosso ao candidato dele e eu recusei, disse que o [candidato PSDB] João Leite ia perder eleição. Na realidade, eu tenho que respeitar a figura Aécio porque ele e o [atual governador petista Fernando] Pimentel é que me colocaram aqui na prefeitura. Depois, continuidade, o PT rompeu comigo e tive o apoio pesado dos aliados do Aécio nesse processo. Fiz tudo para manter a aliança. Mas no processo da eleição de Belo Horizonte não houve entendimento. Eu dizia que o povo não queria político desde agosto do ano passado e virei inimigo dos políticos, passaram a me criticar o tempo todo.
Folha – Há possibilidade de o sr. apoiar Aécio em 2018?
M.L – Eu não fico fazendo essa antecipação. Tenho que pensar com o PSB, e essa possibilidade de apoio incondicional, com esse rompimento que teve aqui em Belo Horizonte, acho difícil.
Folha – Seu candidato, o vice-prefeito Délio Malheiros (PSD), acabou em quinto lugar na eleição. A que o sr. atribui isso?
M.L. – O povo queria mudança. E com o sistema [eleitoral] do jeito que ficou, a redução do tempo de campanha e do financiamento, quem não era conhecido [não teve bom resultado]. Você pega o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste, com exceção de Vitória, nenhum prefeito se reelegeu ou fez sucessor. Às vezes me pergunto se, caso eu fosse candidato, com toda a aprovação que eu tenha, eu me reelegeria.
Folha – O sr. era o padrinho que mais apareceu no programa de um candidato em Belo Horizonte. Acha que sua imagem teve relação com o resultado?
M.L. – Apareci pouco. Eu não transferi votos. E o pior dessa história é que as pesquisas que nós fizemos mostravam que o candidato apoiado por mim, sendo uma pessoa razoável, teria boa votação. Teve um padrão na maioria das capitais, não é um caso específico de Belo Horizonte.
RAIO-X
Idade – 70 anos
Formação – Administração pela UFMG
Cargo – Prefeito de Belo Horizonte desde 2009, em 2º mandato
Outras funções – Secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional (gestão Lula) e secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas (gestão Aécio)
Folha de S. Paulo