O líder do PSB na Câmara, deputado federal Tadeu Alencar (PE), classificou como “escândalo” e “imenso desrespeito” as declarações do presidente da República Jair Bolsonaro sobre o desaparecimento de Fernando Santa Cruz de Oliveira, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz que foi morto pelo regime militar.
Para Alencar, Bolsonaro dissemina “ódio e intolerância” ao insinuar que saberia sobre o desaparecimento de Fernando. “É difícil saber onde um país vai parar quando o seu presidente age do jeito que Bolsonaro age”, declarou o deputado.
“A afirmação é um escândalo, um imenso desrespeito, ainda mais saída da boca de um presidente da República que deveria pugnar pela paz no seu país e não disseminando esse discurso de ódio e intolerância”, criticou.
“O destino poupou Dona Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando, de ouvir uma sandice dessa e sofrer ainda mais, ela que passou 43 anos à procura de notícias do filho”, afirmou Alencar, que demonstrou ainda solidariedade aos familiares do presidente da OAB.
“”Estou ao lado deles, de Felipe, da família de Dona Elzita e do vereador Marcelo Santa Cruz, meu companheiro de militância e amigo de longa data”, afirmou.
Nesta segunda-feira (29), Bolsonaro afirmou que pode “contar a verdade” sobre como o pai de Felipe Santa Cruz desapareceu na ditadura militar. “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade”, disse o presidente a jornalistas.
Após diversas manifestações contrárias, em uma live nas redes sociais, Bolsonaro disse que , Bolsonaro disse que Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, morto pela ditadura militar, participava do “grupo terrorista mais sanguinário que tinha” e negou que ele tenha sido morto pelas Forças Armadas.
Relatório secreto RPB 655, do Comando Costeiro da Aeronáutica, atesta que Fernando Santa Cruz de Oliveira foi preso pelo regime em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro.
O documento, anexado ao relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), comprova que o estudante estava sob custódia do Estado quando foi assassinado.
Em depoimento à CNV, o ex-delegado Cláudio Guerra disse que o corpo teria sido incinerado na Usina Cambahyba, em Campos.
Santa Cruz desapareceu em 23 de fevereiro de 1973, em Copacabana, após ser preso junto com o também pernambucano Eduardo Collier Filho. Os dois pertenciam à Ação Popular Marxista-Leninista (APML) que, ao contrário do que disse Bolsonaro, não praticava a oposição armada ao regime militar.
Depois de preso, Fernando e Eduardo desapareceram. A única notícia a respeito do paradeiro dos dois só chegou em 2014, no livro “Memórias de uma guerra suja”, do ex-agente do DOPS, Cláudio Guerra, que confessou ter sido encarregado de “sumir com 12 corpos” de militantes mortos sob tortura. Esses corpos teriam sido jogados em uma das caldeiras de uma usina de açúcar, em Campos (RJ). A saga de Dona Elzita em busca de informações sobre Fernando rendeu duas edições do livro “Onde Está Meu Filho?”.
Com informações da Liderança do PSB na Câmara e do jornal O Globo