A Fundação João Mangabeira (FJM) está investindo no resgate da memória do Partido Socialista Brasileiro(PSB) em diferentes regiões do país. Com o objetivo de pesquisar a história socialista nos diversos estados da federação, a entidade lançou em agosto passado o projeto “A História do PSB nos Estados brasileiros”.
Nesta primeira edição da iniciativa, a Fundação está financiando projetos de pesquisa dos estados de Alagoas, Amapá, São Paulo e Rio Grande do Sul, que foram selecionados por meio de edital.
As pesquisas devem ser finalizadas até março deste ano. Cada projeto selecionado conta com uma equipe de até três pesquisadores que deverão apresentar, como produto final, um texto a ser publicado em meio físico e virtual, com inventários e acervos documentais digitalizados.
Para o presidente da FJM, Renato Casagrande, o projeto “é uma maneira de contarmos a história do PSB para que possamos crescer seguindo uma linha ideológica e programática que respeite a memória socialista”. A iniciativa, segundo Casagrande, abre oportunidade para a recuperação de diferentes momentos da história do partido, fundado em 1947 por intelectuais como Antônio Cândido, Paul Singer, João Mangabeira e Sérgio Buarque de Hollanda.
Projetos
A história do PSB em Alagoas teve início em 1950, pouco depois da fundação do partido em 1947. O fundador da sigla na região foi o professor Aurélio Viana. O socialista foi deputado estadual e federal pelo Estado, além de senador pelo antigo Estado da Guanabara, atual município do Rio de Janeiro.
Na opinião do coordenador da pesquisa em Alagoas, o historiador Geraldo de Majella de Moura Marques, a iniciativa da FJM valoriza a história regional do partido.“Nós detectamos material que nunca foi pesquisado como as atas da Assembleia Legislativa de Alagoas e já conseguimos reunir três mil fotografias pertencentes a vários acervos”, informa.
O início da trajetória do PSB em São Paulo se confunde com a fundação do partido. Foi no Estado, e também no Rio de Janeiro, onde surgiram os primeiros expoentes políticos e ideológicos da sigla, em sua primeira fase de existência, entre os anos de 1947 e 1965, antes de sua dispersão no período da ditadura militar. Instituído em 1947, o PSB paulista reuniu nomes como Antonio Cândido, Paul Singer e Sérgio Buarque de Hollanda.
O grupo de pesquisadores de São Paulo, coordenado pelo advogado e cientista político Adami Campos, reúne um acervo de documentos do período entre 1947 e 1965, tendo como fontes o centro de memória do Tribunal Regional Eleitoral, arquivos do Estado de São Paulo, e do PSB, que está localizado no acervo da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Segundo o professor Adami Campos, foram gravadas entrevistas com o economista Paul Singer, com a historiadora e cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais Margarida Vieira, e com o historiador Alexandre Hecker, autor do livro Socialismo Sociável: História da esquerda democrática em São Paulo (1945-1965).
O PSB no Amapá foi criado logo após a refundação do partido depois do período da ditadura militar. O início da trajetória da sigla na região coincide com a transformação, em 1988, do Território Federal do Amapá em Estado.
Os socialistas governaram o Amapá por três vezes, e por duas vezes a capital, Macapá. São duas as marcas do PSB na região: a defesa do desenvolvimento sustentável e a transparência nas contas e nos serviços públicos. Foi do Amapá a primeira iniciativa governamental de se criar um site para divulgar, na internet, em tempo real, os gastos e as receitas públicas estaduais.
A Lei 131/2009, que obriga a divulgação das contas públicas em todos os poderes da República, é de autoria do senador João Capiberibe (PSB-AP). Como governador, o socialista implantou a “transparência” em 2002 no Amapá, primeiro ente público no Brasil a divulgar suas contas na internet.
Segundo o historiador Augusto Oliveira, coordenador da pesquisa no Estado,“o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá (PDSA), desenvolvido durante a gestão de João Capiberibe no governo, é apontado como uma política de grande impacto naquela sociedade”. Oliveira destaca também o engajamento da classe artístico-cultural nas campanhas socialistas. “O acervo fonográfico das campanhas socialistas no Amapá é muito rico e inclui discos completos com músicas autorais para as campanhas”, conclui.
No Rio Grande do Sul, a equipe liderada pelo historiador Gildo Silva optou por contar a história do PSB naquele estado dividindo-a em dois recortes: da fundação, a partir de 1946, quando o partido nasceu da Esquerda Democrática; e da sua refundação, a partir de 1985. Além da capital Porto Alegre, os pesquisadores estão buscando documentos e entrevistando fontes em Pelotas, Rio Grande, Passo Fundo, entre outras cidades.
Os pesquisadores estão revisitando a história de expoentes regionais do partido, como a de Germano Bonow Filho, fundador da legenda no Estado. O material sobre o político, guardado por um de seus filhos, Andréa Bonow, “sobreviveu” à depredação de seu escritório, sede do PSB estadual, que foi invadida durante a ditadura militar.
“Nós estamos recuperando material de exemplares de um jornal socialista chamado ‘A luta’ que foi criado após a refundação. Também adquirimos em sebos da cidade livros de João Batista Marçal que farão parte do acervo do PSB/RS”, afirma Gildo Silva.
Fundação João Mangabeira