“A Fundação João Mangabeira tem a função de qualificar as pessoas, desenvolver e elaborar boas políticas públicas para as classes populares. O limite da nossa existência não nos permitirá alcançar todos os sonhos, mas formaremos pessoas que darão sequência a essas ideias, o sonho da democracia e da justiça social não irá acabar”. A afirmação é do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, durante um encontro virtual em comemoração aos 30 anos de sua criação, do qual participaram seis dos presidentes que a dirigiram. A live ocorreu na noite da segunda-feira (30).
Além de Carlos Siqueira, participaram o atual presidente da FJM, ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, Margarida Vieira, o diretor vice-presidente da FJM, Alexandre Navarro e o ex-senador Saturnino Braga, em áudio.
Na programação, foi exibido um minidocumentário e lançado o livro “Socialismo, Democracia e Liberdade: 30 anos da Fundação João Mangabeira”.
Siqueira, que presidiu a Fundação João Mangabeira entre 2007 e 2014, afirmou que teve a honra de presenciar sua criação e conviver com todos os presidentes da Fundação. “A história da Fundação tem muito a ver com o pensamento do socialismo democrático, um centro de debate, estudos, publicações e formação de políticas públicas”, afirmou.
Durante a live, Siqueira citou um dos momentos mais marcantes em sua gestão: “Vivi uma situação importantíssima na minha última administração quando, em 2014, Eduardo Campos me chamou e falou: ‘O meu programa de governo tem que sair da Fundação’. Fizemos todas as diretrizes do programa do governo e, em seguida, o programa em si”, relembra.
Para Siqueira, o retrocesso político que o país vive tem muito a ver com a desqualificação da atividade política e das fundações dos partidos.
“Busca da reinvenção”
O atual presidente da FJM, Ricardo Coutinho, lembrou o papel da instituição na condução da autorreforma do PSB, que teve suas atividades parcialmente suspensas devido à pandemia da covid-19.
Coutinho destacou que o partido busca se reinventar, sobretudo no atual momento em que a democracia passa por uma desestabilização na América Latina. Para ele, o PSB é um dos partidos que têm a melhor condição de compreender esse cenário de turbulência e dar respostas a essa crise.
“Em 2021, a Fundação estará à disposição do partido e da sua direção para isso. Buscamos mais do que nos reciclar, buscamos nos reinventar dentro de um mundo cheio de desafios enormes”, afirmou.
“Fidelidade histórica”
A professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, Margarida Vieira, destacou o papel da Fundação nos 30 anos de existência na formação política da militância.
Para ela, a entidade tem a responsabilidade de criar “no espírito de cada militante”, o sentimento de fidelidade à história do partido. “Isso é muito importante porque faz com que haja um lado continuidade, mas obviamente se adaptando aos novos tempos, criando fórmulas novas de atuação política, mas dentro dos princípios básicos que criaram o partido”, afirmou a socialista, que presidiu a instituição entre 1997 e 1998.
A socialista elogiou o acervo de publicações e os debates promovidos ao longo dessas três décadas.
“A Fundação tem uma série de publicações ótimas para todos que estejam interessados em conhecer mais sobre socialismo e sobre administração pública. A fundação, nesses 30 anos, cumpriu um papel importantíssimo e todos nós admiramos esse trabalho, que não é apenas de dirigentes, mas de cada militante. E acredito que ela vai continuar ajudando a política brasileira a ter mais credibilidade”, destacou.
“ideário do partido”
O ex-senador pelo PSB Saturnino Braga participou por áudio do encontro online e relembrou o período em que presidiu a Fundação.
“Naquele momento a Fundação era uma luz a iluminar o ideário do partido, éramos solicitados por todo o país, todos os Estados queriam ter um núcleo da Fundação João Mangabeira”.
Saturnino afirmou que a Fundação é muito importante para contribuir na formação política, principalmente da juventude brasileira.
“Resgate da história”
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, disse que presidir a FJM foi uma oportunidade de aprendizado e um desafio grande.
“A Fundação tem um papel extraordinário, é uma provedora de políticas para o PSB, em todos os níveis, produzimos muitos conteúdos de forma permanente para o partido e seus diversos segmentos”, afirmou. “E isso tem dado muito resultado.”
À frente da FJM de 2015 a 2018, Casagrande destacou a presença dos núcleos da Fundação nos Estados e o trabalho de resgate da história do PSB em cada unidade do país. “Isso é importante, porque você dá valor àquilo que conhece”, disse, citando um projeto que financia a pesquisa e publicação de obras.
O governador destacou a importância da produção de conteúdo político feita pela FJM para subsidiar a ação do partido e de sua militância no debate público.
“Estamos vivendo um momento da política no mundo em que é necessário argumentar com consistência, para o filiado, o militante, o dirigente, ter conteúdo é fundamental”, afirmou.
O socialista ainda avaliou o resultado das eleições municipais, o desempenho do partido e os desafios para o PSB e para o campo progressista na preparação para as eleições de 2022.
“Retrocessos e a busca de respostas”
Alexandre Navarro, atual diretor vice-presidente da Fundação, fez uma digressão histórica desde o nascimento do PSB, no início da Guerra Fria, em 1947, citando vários momentos de crise, retrocesso e ruptura global e especificamente no Brasil.
“E agora, nos 30 anos da Fundação, estamos num momento de retrocesso de novo, humano, econômico, ambiental. O problema climático é uma das discussões do século que vamos ter de enfrentar. Discute-se um novo recomeço, como vai se dar a sustentabilidade nesse novo mundo”, afirmou Navarro, que presidiu a FJM em 2018.
Ao citar a publicação Revista Politika, Navarro enfatiza a capacidade da FJM de produzir “respostas ao sonho, à causa”, indo além do “discurso e da retórica”. Ele destacou a parceria de cooperação entre a FJM e a Universidade Humboldt-Viadrina, da Alemanha, que permite a produção da revista em vários idiomas.
“Como será o ensino pós-pandemia, vai ser híbrido, só presencial”, questionou, considerando um cenário de profunda desigualdade.
“A educação vai ser diferente e a maioria da população não tem acesso. Isso já está ocorre hoje, poucos estão tendo acesso virtual às aulas, para outros ou é um acesso prejudicado ou não tem nenhum. Temos de trazer respostas”, afirmou.
Citou a população de miseráveis, pobres e desempregados no Brasil e a necessidade de encontrar respostas a essas situações críticas.
Advertiu que o século 21 traz como novidade o desaparecimento de uma “boa parte do trabalho” pelo impacto da tecnologia da informação, que cria o desemprego estrutural e nos faz caminhar na direção da deseducação estrutural.
Ao final, Navarro destacou as realizações de governos socialistas na Paraíba, no Espírito Santo e Pernambuco nas áreas da educação e da ciência e tecnologia.
“O PSB é o partido da ciência e tecnologia, da educação, é o partido que pensa no futuro, que é a solução para a sociedade. Quiçá na nossa autorreforma a educação básica, as creches, o ensino fundamental sejam públicos, universais, como o SUS, isso era um sonho que construímos a partir da Constituição de 1988”, afirmou.