
Para Jessé de Souza, a grande característica das relações de classe no Brasil e que explica a exclusão social é o ódio às classes inferiores. Foto: Humberto Pradera
A escravidão é a gênese da divisão entre classes sociais e da permanente desigualdade no país, afirmou o sociólogo Jessé de Souza, que participou da conferência “Os partidos políticos e os excluídos no Brasil”, durante o seminário dos 70 anos do PSB, realizado em Brasília.
“O ponto mais importante é que a gente se convença de que a escravidão nunca foi adequadamente compreendida porque ela nunca foi refletida. Os intelectuais só falam no nome escravidão, mas compreendem muito pouco os efeitos e as consequências que isso teve na vida das pessoas. Essa escravidão continua sob outras máscaras, e não mais apenas na questão racial”, destacou o sociólogo. Ao não realizar essa reflexão, afirma, essa herança escravocrata é repetida por gerações.
O pesquisador explicou que os seres humanos agem e se comportam, de forma consciente ou inconsciente, a partir de ideias passadas por alguém ou alguma instituição. “Nós somos produtos de instituições: primeiro a família, depois a escola, a igreja, os partidos políticos que nos orientam a um certo comportamento a partir de estímulos como castigos e prêmios. As ideias que nos moldam estão nessas instituições”, disse.
Souza contesta a ideia de que os brasileiros são herdeiros de Portugal. “A compreensão que temos sobre a nossa história é errada e serve a um fim político, serve para invisibilizar as reais relações de classe que se estabelecem entre nós a partir da predominância da escravidão que permanece nas famílias mais pobres”, disse.
Na sua concepção existem quatro tipos de classes sociais no Brasil. São elas: uma pequena elite detentora do capital econômico; a classe média monopolizadora do capital cultural e, portanto, privilegiada por ter acesso ao conhecimento; a classe popular-trabalhadora; e a classe “ralé”, explorada pela sua mão de obra, excluída, desprezada, humilhada e, na maioria das vezes, analfabeta e sem capacidade de concentração e incorporação de conhecimento. “Não é apenas a cor ou a raça que geram exclusão, mas a classe também”.
A grande característica das relações de classes no Brasil e que explica a exclusão social é o ódio às classes inferiores. Como exemplo, Souza citou o assassinato de milhares de negros e pobres no país a cada ano. “A polícia, como instituição, mata essas pessoas, mas é com o aval da classe média e da elite branca. Porque, sejamos francos, matar pobre e negro é uma política pública informal no país. E esse ódio vem desde a escravidão. A verdade é absolutamente incômoda”, apontou.
O sociólogo ressaltou que a situação atual da política é complexa por que a elite econômica financia campanhas eleitorais e os veículos de imprensa. Assim, a mídia estigmatiza a política, que já estava submersa na corrupção há muito tempo, e também criminaliza o princípio da igualdade social.