
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Único estado do Sudeste governado por um partido de centro-esquerda, o Espírito Santo, comandado pelo governador Renato Casagrande (PSB), vem chamando atenção nacional pelos resultados na área da segurança pública. Em 2011, o estado ocupava o segundo lugar entre os mais violentos do país, com uma taxa de 56,4 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2024, esse número caiu para 17,62, o menor patamar em quase 30 anos.
Os dados situam o estado como referência para o campo progressista em um tema dominado pelo discurso da direita. Por isso, a atuação eficiente do governo capixaba é vista hoje como exemplo de que as esquerdas podem ter argumentos para disputar o protagonismo no debate sobre segurança pública.
A conquista é fruto de uma política de segurança baseada em três pilares: inteligência, tecnologia e inclusão social. Desde o primeiro mandato, Casagrande implementou o programa Estado Presente em Defesa da Vida. Inspirado no Programa Pacto pela Vida, implementado pelo ex-governador Eduardo Campos em Pernambuco, a iniciativa alia ações de policiamento com fortalecimento de políticas públicas em áreas vulneráveis. O programa foi determinante para reduzir os homicídios de mais de 2.000 em 2011 para 852 em 2024.
“Nosso método é enfrentar os criminosos com fortalecimento das forças de segurança e inteligência”, afirmou Casagrande em entrevista à revista Veja. A política de segurança do estado inclui 1.500 câmeras de monitoramento com reconhecimento facial e de placas de veículos, além de 500 câmeras instaladas em ônibus da Grande Vitória. Há também monitoramento eletrônico de presos em regime semiaberto e reforço no armamento das polícias.
Apesar do aumento na letalidade policial, o governador rejeita a ideia de uma política de confronto indiscriminado. “Não temos a cultura de que bandido bom é bandido morto”, disse. “Estamos com uma taxa de mortes pela polícia abaixo da média nacional. O Ministério Público e a Corregedoria acompanham de perto as abordagens, e todo policial sabe que estamos atentos. Se há um enfrentamento, existe a possibilidade de morte, mas o nosso interesse é manter o bandido vivo, para que ele pague pelo que fez”, explica Casagrande.
Para especialistas, como Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, o êxito capixaba mostra que é possível combater o crime com firmeza sem romper com a agenda de direitos humanos. “O desafio da esquerda é não cair no discurso populista de que a resposta principal é matar o bandido. Os avanços no Espírito Santo não se devem à letalidade policial, e é preciso mostrar que há alternativas que funcionam”, afirmou.
Referência para 2026
Com a segurança pública apontada por pesquisas como uma das principais preocupações do eleitor brasileiro, o tema deve ocupar o centro do debate nas eleições de 2026. O modelo capixaba aparece como uma tentativa bem-sucedida de mostrar que a esquerda também é capaz de dar respostas eficazes e rápidas ao desafio da violência.
“Os líderes progressistas precisam ter clareza sobre aquilo que é fundamental: a vida. É importante respeitar os direitos humanos de quem comete o crime, mas também os da vítima. Passar a mão na cabeça do autor é incentivar a impunidade”, afirmou Casagrande.
Enquanto a direita investe no discurso punitivista e em exemplos como o de El Salvador, o governo do PSB no Espírito Santo mostra, na prática, um caminho alternativo, que não negligencia a necessidade de punir, mas que tampouco abre mão da legalidade e dos direitos civis. “Temos que mudar a falsa imagem de que progressistas não se preocupam com segurança. Independentemente da posição ideológica, tratar a população com decência exige punir criminosos. Precisamos ter propostas para isso”, finalizou o governador.
Com informações da Revista Veja