A princípio, a visita era direcionada às vítimas de escalpelamento que, desde sexta-feira (11), estão passando por processos cirúrgicos feitos por especialistas voluntários da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) que, juntamente com a Defensoria Pública da União e o Governo do Amapá, está promovendo o maior mutirão cirúrgico do Norte do Brasil, beneficiando 62 pessoas.
Mas, a ida ao Hospital Alberto Lima na manhã deste sábado, 12, se transformou numa inspeção. O governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), acompanhado da primeira-dama, Cláudia Camargo Capiberibe e do secretário de Saúde, Lineu Facundes, visitou o Centro Cirúrgico e as enfermarias e, por mais de duas horas, ouviu dos pacientes e acompanhantes as reclamações sobre o serviço público mais utilizado pela população: a saúde.
"As pessoas estão doente, é natural que elas queiram uma resposta do poder público. E estamos dando os encaminhamentos necessários para que a solução de alguns problemas que o setor da saúde atravessa venha de forma mais rápida. Ampliamos o número de leitos, estamos construindo hospitais em Santana, Laranjal do Jari e em Oiapoque", comentou o governador.
Nas enfermarias por onde passou, de modo geral, a principal reclamação foi com relação à falta do intensificador de imagens, que está quebrado. Mas, de acordo com o secretário de Saúde, a empresa responsável pela manutenção do aparelho está à procura desta peça e o prazo para a entrega é de 30 dias. "Precisamos nos empenhar para resolver esse problema da forma mais rápida possível. Trinta dias é muito tempo", reclamou o governador.
Ainda no hospital, Camilo Capiberibe tomou alguns encaminhamentos solicitando ao procurador-geral do Estado, Antônio Kleber de Souza, que verifique os entraves jurídicos para que a aquisição de equipamentos e medicamentos não demore tanto para acontecer, como vem ocorrendo.
O mutirão cirúrgico
Durante a visita ao Hospital Alberto Lima, o governador Camilo Capiberibe conversou com o presidente da SBCP, Luciano Ornelas, e com o diretor de Ação Social da entidade, Pedro Martins, que informaram que todos os procedimentos cirúrgicos foram um sucesso. "O Estado acolheu os pacientes e buscou parcerias com o Governo Federal e associações médicas. Graças a Deus deu tudo certo", disse o médico.
A estudante Mirlane de Souza, 18 anos, vítima do escalpelamento quando tinha 7 anos de idade, disse que já se sente uma nova mulher. "Estou muito feliz e agradecida ao empenho do governador. Para nós, essa cirurgia significa muito", comentou a jovem.
O governador disse que devolver a autoestima para essas mulheres é acima de tudo um gesto humanitário e agradeceu novamente o empenho dos médicos que, voluntariamente, saíram de suas cidades para vir ao Amapá mudar a vida dessas pessoas. "A cirurgia era um sonho de todas as vítimas e este momento para elas significa resgate da dignidade. Fico feliz por ter contribuído para que isso fosse possível", comentou Camilo Capiberibe.
"Esperamos muito por este momento. O governador Camilo Capiberibe está cumprindo o que prometeu e os médicos cuidando da nossa beleza física e nos livrando dos traumas", comentou Franciane da Silva Campos, 33 anos, vice-presidente da Associação de Mulheres Vítimas de Escalpelamento, que também passou pelo procedimento cirúrgico.
A equipe é formada por 41 médicos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), um neurologista e um anestesista. Desse total, 15 profissionais são do Amapá. No geral, 250 pessoas estão envolvidas no mutirão. A ação está sendo coordenada pelas Secretarias de Estado da Saúde (Sesa) e da Inclusão e Mobilização Social (SIMS), em parceria com a Defensoria Pública da União e SBCP, e com o apoio da deputada federal Janete Capiberibe. Os procedimentos estão sendo feitos em quatro salas cirúrgicas do Hospital São Camilo e três do Alberto Lima, em período integral, e suporte técnico de enfermeiros, instrumentadores e anestesistas.
O que é o escalpelamento
Ele é causado por acidente em embarcações sem a proteção do motor, eixo e outras partes móveis. As mulheres são as maiores vítimas, porque o dano acontece quando o cabelo enrosca no motor. Do total de 117 vítimas ligadas à Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVEA), sete são homens.
A lei
A deputada federal Janete Capiberibe foi a responsável pela Lei Federal que combate e previne o escalpelamento e obriga que os proprietários de barcos protejam o motor. As ações preventivas resultaram em 0% de acidente desde 2011.