Foto: Rodolfo Loepert/Prefeitura do Recife

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), destacou que o principal desafio para promover inovação na administração pública é a mudança de cultura. Ele defendeu uma gestão baseada no conceito de “cidadãocentrismo”, que coloca o cidadão no centro das decisões, e a implementação de ferramentas que priorizem as necessidades da população.

“Na Prefeitura do Recife, a única pessoa com prazo de validade é o prefeito, com quatro anos de mandato, diante de um corpo de mais de 25 mil servidores com estabilidade. Mesmo assim, é preciso ter a capacidade de inovar”, afirmou, ao enfatizar a necessidade de modernização diante da rigidez estrutural do serviço público.

A declaração foi feita no sábado (7) durante participação no painel “Inovação a Serviço do Brasil” no Fórum Esfera, no Guarujá (SP). O Recife foi destaque no evento como case de sucesso em estratégias de inovação digital e formação de mão de obra.

Como exemplo de inovação, João citou a digitalização do processo de vacinação contra a Covid-19 logo nos primeiros dias de governo no Recife. “Em 15 dias de gestão, decidi que todo cidadão no Recife se vacinaria fazendo o agendamento com dia, local e horário escolhido pelo cidadão em meio digital. Porque a vacinação contra a Covid seria o serviço público mais utilizado por uma geração”, declarou.

A iniciativa impulsionou a transformação digital na prefeitura. A cidade saltou de uma base inicial de apenas 8 mil cidadãos com cadastro digital para mais de 1,8 milhão. Além disso, o aplicativo oficial da Prefeitura já ultrapassou a marca de 1,2 milhão de downloads, consolidando-se como um dos principais canais de acesso a serviços públicos.

João Campos explicou que a digitalização da saúde serviu como porta de entrada para um novo modelo de governo, orientado pelos dados individuais de cada cidadão. “Conseguimos criar uma lógica de ‘cidadãocentrismo’ — colocar o cidadão no centro. O que a gente tinha de um governo a três cliques, agora tenho a zero clique. Se eu tenho a linha de vida de cada cidadão, tenho os dados e o que ele tem de direito, tenho que ofertar para ele o que ele tem de direito sem ele reivindicar”, detalhou.

Ele exemplificou esse novo modelo com o sistema de avisos automáticos sobre vacinação infantil. “Quando uma criança completa três anos de idade, sabemos quem é o pai e a mãe e mandamos uma mensagem falando que com três anos tem que tomar tais vacinas em tais unidades e pode ir em tal dia e tal horário. Isso é ter a proatividade de chegar na ponta sem a ponta saber que tem aquele direito”, explicou.

O prefeito também destacou o programa municipal de formação superior em tecnologia e a necessidade de uma educação com letramento digital para o Brasil. “Unimos universidades e empresas para criar um currículo conectado às demandas reais do mercado. O resultado é uma formação em dois anos e meio, com estágio do tipo residência. Mais de 65% dos alunos já saem empregados, muitos dobrando a renda familiar”, afirmou.

“É um impacto econômico e social concreto. Mas precisamos ir além: investir na educação básica, trazer letramento digital para a sala de aula e revisar a matriz curricular nacional. A transformação começa cedo”, defendeu João Campos, aplaudido pela plateia após sua fala.

Também participaram do painel Fred Trajano (CEO do Magazine Luiza), Ana Estela Haddad (Ministério da Saúde), Luiz Tonisi (Qualcomm) e Alexandre Baldy (deputado federal), com mediação da jornalista Adriana Araújo.