O estado de Pernambuco e sua capital, Recife, estão entre os poucos no país que conseguiram reduzir as mortes violentas por armas de fogo nos últimos 30 anos. O bom resultado está no Mapa da Violência 2013, divulgado ontem pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela – http://www.cebela.org.br/site/). O estudo enfoca os homicídios, suicídios e acidentes ocorridos por ação de arma de fogo no Brasil entre os anos de 1980 e 2010, analisando a incidência de fatores como o sexo, a raça/cor e a idade das vítimas dessa mortalidade.
É possível encontrar ali as características da evolução dos óbitos por armas de fogo nos 27 estados da federação, nas 27 Capitais e nos municípios com elevados níveis de mortalidade por esta causa, além de planilhas com os dados de todos os 5.565 municípios brasileiros.
Nesse cenário, Pernambuco, embora situado na região Nordeste – a que apresenta os índices mais elevados de crescimento de mortes por armas de fogo – registrou uma queda de 27,8% na última década. Foi o único estado da região com saldo negativo no número de mortes. Ao se analisar as taxas de óbito por 100 mil habitantes, o resultado é ainda mais positivo: no ano 2000, Pernambuco estava em segundo lugar no país, com uma taxa de 46,6; em 2010, o estado conseguiu reduzi-la para 30,3 mortes em cada 100 mil habitantes. Uma queda de 35% em dez anos, que fez o estado descer para o sexto lugar desse ranking negativo.
No caso da capital, Recife, a situação é ainda melhor. O Mapa da Violência 2013 aponta que os 1.254 óbitos por armas de fogo em 2000 caíram para 735 em 2010, numa redução importante de 41,4%. Com isso, as taxas de óbito por 100 mil habitantes também caíram na capital pernambucana, de 88,1 para 47,8. Uma queda de 45,8%.
No caminho certo –“Os números são positivos e mostram uma aproximação à taxa nacional de óbitos, que é de 20,4 em cada 100 mil habitantes”, destaca o presidente do Cebela, Jorge Werthein. Segundo ele, os resultados refletem o aumento da presença do estado junto à população, a adoção de políticas públicas preventivas e melhor repressão a esses crimes, além de medidas sociais e que incluem a educação. “Em outras palavras, significa que a política que se vem implementando, tanto em Pernambuco quanto em Recife, estão no caminho certo. Entretanto, é preciso que ela não só tenha firme continuidade, mas que seja ainda melhorada, para evitar uma recaída no aumento de mortes por arma de fogo na região”, alerta.
Jorge Werthein explica que o que preocupa os pesquisadores é o novo contexto levantado pelo Mapa da Violência 2013 – as mortes violentas, que antes se concentravam nos estados do Sudeste, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, agora estão acompanhando a migração da população para novos centros de desenvolvimento econômico em todo o país, em busca de emprego e oportunidades. “A violência foi acompanhando esse processo, que o estado não consegue acompanhar com a devida infraestrutura e políticas públicas e sociais”, detalha o presidente do Cebela. “Nesse ritmo, ao mesmo tempo em que as políticas públicas se deterioram, também o crime organizado e criminosos violentos são atraídos para esses novos polos econômicos, em busca de dinheiro”.
“Além da região Nordeste, a violência tem crescido também no Paraná, em Santa Catarina e no Entorno de Brasília. Podemos dizer que está havendo uma nacionalização dos homicídios”, resume o coordenador da pesquisa, Júlio Jacobo Waiselfisz, que não por acaso deu ao Mapa da Violência 2013 o título de: Mortes Matadas por Armas de Fogo.
De acordo com ele, a média nacional de homicídios é duas vezes maior que a taxa considerada tolerável pela Organização das Nações Unidas (ONU), de dez assassinatos a cada 100 mil habitantes. Tanto que o número de assassinatos no Brasil entre 2004 e 2007 se aproxima das baixas contabilizadas em 12 dos maiores conflitos armados no mesmo período: nesses quatro anos, 147.373 pessoas foram assassinadas a tiros no país, ao passo que as guerras provocaram a morte de 169.574 pessoas.
“O Brasil precisa começar a lutar contra esse tipo de violência, promovendo reflexões e debates desde a escola, pois, nesses índices, eles já significam uma questão cultural. Há uma cultura da violência”, aponta o presidente do Cebela.
Quedas no número e nas taxas de óbitos por armas de fogo
UF/REGIÃO | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | Δ% |
Pernambuco (N) | 3.693 | 4.028 | 3.761 | 3.823 | 3.405 | 3.561 | 3.674 | 3.772 | 3.492 | 3.149 | 2.667 | -27,8 |
Pernambuco Taxas | 46,6 | 50,3 | 46,5 | 46,8 | 41,3 | 42,3 | 43,2 | 43,9 | 40,0 | 35,9 | 30,3 | -35,0 |
Pernambuco, que estava na 2ª posição nacional em 2000, passa para a 6ª em 2010
UF | 2000 | 2000 | 2010 | 2010 | Δ% |
Pernambuco |
Taxa 46,6
|
Posição 2º |
Taxa 30,3 |
Posição 6º |
2000/10 -35.0 |