No velho moinho transformado em espaço cultural na zona oeste da capital paulista, a Casa das Caldeiras, a candidata à Presidência pela Coligação Unidos pelo Brasil, Marina Silva, acompanhada de seu vice, Beto Albuquerque, abriu nesta segunda-feira (15) uma rodada de diálogos com as entidades e profissionais da área cultural. Na próxima quarta-feira, ela repete a dose no Rio de Janeiro.
E, como sintetizou Marina no final da “escutatória” – como foi denominada a sessão em que representantes de vários segmentos culturais expuseram algumas demandas para a chapa da coligação –, “responder a cada questão é impossível. Mas posso falar do essencial”.
E o essencial, para a presidenciável, é a convergência entre cultura e educação. Daí a preocupação dela em enfatizar que seu programa vai priorizar os diferentes setores da produção cultural, tanto aumentando recursos quanto facilitando o acesso aos meios, aos incentivos e aos financiamentos.
“Nossa proposta de governo tem um forte entrelaçamento entre educação e cultura”, afirmou Marina. “Por isso a nossa determinação em ampliar progressivamente de forma consistente os recursos da cultura e ainda ter um olhar para o processo de criação cultural. Não dá para termos editais de homogêneos que não conseguem trabalhar com as especificidades e com as necessidades de determinados grupos como pudemos presenciar aqui.”
A proposta do encontro, assim como a discussão das demandas do setor, foi feita de forma colaborativa. Foram reunidas 600 propostas em plataforma aberta na rede on-line, sob coordenação de Célio Turino, da parte cultural do Programa de Governo, e, no evento, 20 profissionais ligados a diferentes áreas resumiram, em alguns minutos, pontos específicos de seus segmentos.
Com tempo curto, alguns deles preferiram encaminhar cartas com maior detalhamento das demandas. Entre as elas, estavam desde a necessidade de valorização da cultura afro-brasileira à importância de ter um olhar de sustentabilidade para a produção artesanal, assim como também a carência de políticas públicas para as rádios e tevês comunitárias, e, até mesmo, apoio à aprovação da Lei pela Ação Griô Nacional, que é um movimento de preservação da tradição oral que pretende integrá-la ao currículo escolar nacional.
Beto Albuquerque, o primeiro a falar, lembrou que eles estavam no local ideal para fazerem “a sinergia da educação com a cultura, que é a única fonte capaz de tornar uma nação independente e um povo verdadeiramente livre e altivo por suas decisões”.
Em relato divertido, Marina lembrou do seu tempo de atriz amadora, quando encenou em horas de palco e “com muito garbo” o papel de um cacto, em Morte e Vida de Severina. Arrancou risos de todos para arrematar com uma frase que faz todo o sentido para a política: “A arte ajuda a ressignificar a política. Sei bem disso”.
Marina disse que todos ali estavam fazendo um encontro entre a arte e a política e que pode ser produtivo, criativo e livre, entre outras razões, porque a arte tem o poder de antecipar o que virá. “A arte tem o poder de antecipar aquilo que, muitas vezes, a política só é capaz de fazer depois. A ciência só faz num período mais distante ainda. A arte tem a capacidade nos levar a entender porque somos humanos. A arte é o espaço do exercício da simbologia. Somos humanos porque somos éticos. É na ética que se encontra e faz a mediação dos diferentes interesses. Sem o que entraríamos num processo de autodestruição, sem o que seria impossível qualquer sociedade, qualquer civilização”.