* Este conteúdo é de responsabilidade do autor, não necessariamente expressa a opinião do PSB.
Na segunda década do século XXI ainda não temos como deixar de reconhecer, infelizmente, que as relações raciais estão fortemente enraizadas na vida social de indivíduos, grupos e classes sociais.
Por outro lado, também temos que constatar que todas as formas de desigualdades sociais se manifestam nos estereótipos e nas intolerâncias, além de serem polarizadas em torno de etnias, das questões de gênero e de outras diversidades, como as religiosas.
Em síntese, constatamos que as diversidades e as desigualdades são uma “fábrica” de intolerâncias e preconceitos.
O que soa estranho é termos que nos preocupar com essas questões em pleno século XXI. Não é estranho se imaginarmos que o desafio não é do presente apenas, mas, evidentemente, trata-se de algo que perpassa a história da humanidade.
Por todos os ângulos que olhemos, verificamos que a questão racial é reveladora de como funciona a sociedade, na questão da identidade, do conhecimento do outro, da diversidade, da desigualdade, na cooperação e na hierarquização e, acima de tudo, na dominação e na alienação.
Por essa perspectiva ampla, a história do mundo é, também, a história da questão racial. Portanto, falamos de um dilema que foi da modernidade, há algumas décadas, quanto da contemporaneidade.
É assim que chegamos ao século XXI debatendo-nos com a questão racial, mas, também, com a intolerância religiosa, a contradição natureza e sociedade, as hierarquias masculino-feminino, e as eternas tensões entre as classes sociais.
Para concluir o raciocínio desse olhar sobre a história, podemos dizer que a humanidade vivenciou o século das luzes, atravessou o século XX, entrou no século XXI, passou pelo “desencantamento do mundo”, pela sua emancipação, pelo seu esclarecimento científico, sendo desafiada por preconceitos e superstições, intolerâncias e racismos, irracionalismos e idiossincrasias, interesses e ideologias.
No Brasil, o ano de 2016 assinala 128 anos desde que, em 1888, a Princesa Izabel assinou a chamada Lei Áurea. Neste dia 20 completam-se 321 anos da morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida em 20 de novembro de 1695.
No ano passado publiquei, nesta mesma época, um artigo a que dei o título de “Reconquistando a negritude”. E comecei comentando que somos uma sociedade que tem 53% da população classificada pelo IBGE como negra e parda. Isto é, os negros totalizam mais de 109 milhões de pessoas no Brasil, o que nos faz, no mundo, a maior população negra fora da África.
Se nós voltarmos para 1888 verificaremos que todas as condições sociais, econômicas e políticas de então visavam manter a distância entre o branco e o negro. Isto é, a “Lei Áurea” veio, mas, na prática, manteve-se a desigualdade econômica e social, com o negro em situação de submissão.
Zumbi ainda fala porque o racismo brasileiro é disfarçado pela convivência cordial, o mercado de trabalho é desfavorável ao negro e a taxa de analfabetismo entre os negros é de 60%.
Portanto, neste 20 de novembro, deixemos Zumbi ecoar pelo Brasil!
* Lúcia Vânia é senadora (PSB), Ouvidora-Geral do Senado e jornalista.
** Artigo originalmente publicado no jornal Diário da Manhã em 20/11/2016