Na primeira edição virtual do Pense Brasil, nesta segunda-feira (6), o sociólogo Boaventura de Sousa Santos fez uma análise de como as decisões dos governos para o enfrentamento à crise provocada pelo Covid-19 são influenciadas pelas orientações ideológicas que defendem.
Na avaliação de Boaventura, com algumas exceções, os governos de esquerda consideraram a pandemia um problema primordial de saúde pública e, por isso, agiram mais rapidamente para frear o avanço do vírus com medidas de isolamento social.
É o caso de China, Portugal e Argentina, que estiveram na linha de frente em seus continentes na tomada de medidas mais céleres e rígidas, como o fechamento de comércio e a proibição de ajuntamento de pessoas tão logo o vírus se apresentou como uma perigosa ameaça.
Já Itália, Estados Unidos e Inglaterra, governados pela direita, priorizaram a economia em um primeiro momento, até verem explodir as estatísticas do número de contaminados e de mortes.
Esses países foram mais lentos em decretar o isolamento social ou tomaram medidas menos restritivas para conter o avanço do vírus porque temiam uma devastação em suas economias.
“Essas foram respostas que criaram uma distinção entre proteger a economia ou defender a vida. É problemático, se essa distinção existe. Não sei como a economia pode prosperar em cima de um monte de cadáveres”, afirmou Boaventura.
“As diferenças e orientações políticas contam. Não contam de uma forma tão linear, mas contam. Alguns dizem que a distinção entre direita e esquerda não faz muito sentido. Mas a maneira como a crise está sendo trabalhada pelos diferentes estados mostra que a orientação política dos estados tem muita coisa a ver com o modo como a questão é tratada”, disse.
Estados em todo o mundo chegaram à pandemia despreparados porque foram cooptados, ao longo da história, por forças que visavam atender aos interesses de uma minoria, disse Boaventura, que é professor aposentado da Faculdade de Economia e diretor emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. “Foi uma despreparação produzida politicamente”, afirmou.
Em momentos de crise como o da pandemia de Covid-19, essas mesmas forças, que sempre atacaram o Estado alegando ele ser presa fácil da ineficiência e da corrupção, recorrem a esse mesmo Estado para salvar-se, analisou o sociólogo.
“O mercado, os bancos propagandearam o fim do Estado, mas quando há uma crise, recorrem ao Estado. E o Estado foi muito pródigo com eles em 2008 [durante a crise financeira]. No mundo ocidental, os Estados em geral salvaram os bancos, não salvaram a família. Essa é portanto uma lição que devemos ter presente nesse momento”, considerou.
Para Boaventura, uma das conclusões tiradas com as crises mundiais é que, ao contrário do que as correntes de direita e de extrema direita apregoam, o mercado não é a solução para resolver todos os infortúnios das sociedades.
“O mercado não é a solução. Pode haver uma economia de mercado, mas não uma sociedade de mercado”, afirmou. “O mercado resolvia todos os problemas, mas nessa crise, desaparece. As sociedades têm continuado para além da Bolsa de Valores. Elas continuam e recorrem ao estado”.
Para a crise provocada pelo coronavírus e outras que assolaram o mundo em diferentes momentos da história, a Ciência Política aponta como solução o fortalecimento do Estado, observou o sociólogo.
A edição do Pense Brasil que teve como tema “O papel do Estado no combate à pandemia” contou também a participação da deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA).
Promovido pela Fundação João Mangabeira e pelo PSB, o evento ocorrerá de forma virtual às segundas-feiras enquanto durar o período de isolamento social. A transmissão é feita pelas redes sociais e no canal do youtube da Fundação João Mangabeira.
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