Autor: Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB
O período que envolve as festas natalinas é especialmente importante, porque nos leva a olhar para a frente, pensar o futuro, a partir da perspectiva do coração. É comum, portanto, que projetemos as nossas vidas; a daqueles que nos são próximos, em termos de novas possibilidades: mais alegria, saúde, realizações.
Desde os tempos da igreja primitiva, contudo, se reivindica que a amplitude desse bem-querer seja mais abrangente, a ponto de alcançar toda a comunidade — fato que revela que a caridade cristã é completa, quando total e generosamente inclusiva. Note-se, que é nossa vulnerabilidade constitutiva e inafastável, que está no fundamento da compaixão, sem a qual não se poderia falar de caridade, como se indica aqui.
Se olharmos, portanto, para nossa comunidade mais abrangente, ou seja, para gente abrigada nesse território soberano, que chamamos Brasil, poderemos ter uma visão do desafio que se apresenta à nossa compaixão — ou seja, àquilo que, em nós, é capaz de se colocar no lugar dos que vivem em miséria; dos que sofrem injustiça; dos que são, nos termos fortíssimos de Foucault, deixados para morrer (uma vez que completamente desinvestidos, pela atenção da sociedade, das agências estatais, e das políticas públicas ).
Pensam o Natal como tempo de renovação, em medida não desprezível, porque Deus ofereceu seu próprio filho, para que houvesse uma possibilidade ampla de redenção. Esse desprendimento, o despojamento que São Francisco de Assis repete, com a atitude de uma vida simples e santa, nos obriga a pensar: o que se faz, hoje, na comunidade em que vivemos nossa vulnerabilidade humana, que possa redimir não este, ou aquele em particular, mas o povo de Deus?
Essa pergunta, incômoda, tem uma virtude essencial: romper as barreiras rígidas, entre o teológico e o político. Para os socialistas democráticos, é simples compreender a permeabilidade dessas perspectivas, pois a política, que desconsidera a vulnerabilidade constitutiva da condição humana, evolui rapidamente para o totalitarismo, em que não pode existir qualquer humanismo e, no qual, se praticam distintas ordens, de religiões de Estado.
É Natal, e nessa janela periódica de tempo, em que nos abrimos à renovação, que imagem de futuro deveríamos ter, para nosso povo sofrido?
A mais óbvia das metas – erradicar a miséria! Algo essencial, por certo, mas insuficiente. Precisamos ir além; retomar o ano de 1988, do ponto em que ele foi interrompido pelo obscurantismo conservador; fazer valer as expectativas civilizatórias que, agora, o governo Temer deseja aniquilar, como se o “salve-se quem puder” liberal fosse, mais do que uma muleta ideológica, que permite fazer a roda girar — moendo os “pequeninos”, o meio ambiente, as relações de solidariedade, que tecem a trama delicada da coesão social.
O Natal do socialismo democrático, portanto, tem expectativas de renovação para o Brasil, e elas passam, necessariamente, pela construção de um projeto de nação, em que estejam presentes educação de qualidade para todos; investimentos em ciência, tecnologia e inovação; potencialização da economia criativa; e, finalmente, políticas sociais de Estado, especialmente na seguridade social.
Não são, portanto, votos que se faz no Natal, para jogar fora no Réveillon. 2018 está aí e, todo aquele, que tem o coração tocado pelo menino Jesus, deve saber que enfrentaremos uma batalha árdua, que não pode ser perdida, sem que se corra o risco de ver a caridade cristã deixar de fazer sentido, na arena política.