Autor: Renato Casagrande
Governador do Espírito Santo
Concessões são bons instrumentos para que as Unidades de Conservação sejam protegidas com maior eficácia
Quando o assunto é preservação, não há tempo a perder. Dotado de beleza natural única, o Espírito Santo é rico em florestas, praias, dunas, lagoas e montanhas. Temos o desafio de proteger nossos biomas e ecossistemas ao mesmo tempo que aceleramos o desenvolvimento sustentável local. Pensando nisso, criamos o Programa de Desenvolvimento Sustentável das Unidades de Conservação do Estado do Espírito Santo (Peduc) — em fase de estudos para a concessão de seis parques estaduais.
Entre as Unidades de Conservação (UCs) que integram a lista está o Parque Estadual de Itaúnas, em Conceição da Barra. Poderíamos ressaltar as famosas dunas que atraem a atenção de todo o país, mas vamos destacar os 3,3 km² de mangues ao longo da foz do rio homônimo — importantes aliados no combate às mudanças climáticas devido ao potencial de captura de CO² da atmosfera. Segundo o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, o estado tem 114,17 km² de mangues em processo de expansão. A concessão nos ajuda a protegê-los.
Além de Itaúnas, a relação de UCs inclui os parques estaduais Cachoeira da Fumaça, Forno Grande, Mata das Flores, Pedra Azul e Paulo César Vinha. São cenários propícios para o fomento à visitação, com a construção de restaurantes e hospedagens do tipo glampings, bangalôs e hotéis, além do desenvolvimento do turismo, com estruturas, como teleféricos, tirolesas, balões e revitalização de trilhas.
O ecoturismo enquanto indústria verde fomenta a educação ambiental e traz impactos positivos de curto e médio prazos na geração de empregos concêntricos, beneficiando as comunidades locais mais próximas e, à medida que as organiza como protetoras da biodiversidade, também impacta os municípios vizinhos.
Com premissa fincada nas melhores práticas de gestão público-privada, o Peduc estimula a preservação por meio de atividades turísticas e econômicas sustentáveis que observarão com rigor o equilíbrio entre os pilares ambiental, social e econômico. É um movimento lógico, porque o mundo tem pressa. A rubrica ESG, que carimba investimentos internacionais focados em sustentabilidade, deve passar de US$ 50 trilhões, em 2025, segundo a Bloomberg Intelligence.
Trata-se de uma ação estratégica quando se sabe que a indústria turística brasileira ocupa a 11ª posição no mundo, segundo o Ministério do Turismo. O Espírito Santo pode avançar muito com o programa, já que, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), recebe 3% dos visitantes brasileiros a lazer, os quais gastam, em média, R$ 1.357, enquanto a média nacional é de R$ 2.102. A título de comparação, a Bahia recebe 8% dos viajantes e detém 11% dos gastos em viagens a lazer, e o Rio de Janeiro 12% dos turistas e 13% dos gastos.
É essencial pensarmos em políticas públicas perenes, a fim de garantir a preservação contínua das nossas riquezas naturais. As concessões são bons instrumentos para que as UCs sejam protegidas com maior eficácia, segurança jurídica e dentro de uma cadeia econômica organizada e inserida na economia sustentável e de baixo carbono. Esse é o papel fundamental do Peduc. A natureza, tão pródiga em nosso estado, agradece.
* Artigo originalmente publicado no jornal O Globo