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Lideranças progressistas da América Latina, Europa e Ásia, reunidas durante a X Conferência da Coordenação Socialista Latino-Americana (CSL) nesta sexta-feira (30), em Brasília, fizeram uma análise sobre o avanço da extrema-direita na América Latina e no mundo, e defenderam a urgência de uma ação política concreta por parte da esquerda democrática para enfrentar o desmonte de direitos sociais, o enfraquecimento das instituições e a desigualdade social.
Diante de um cenário de crise social, institucional e ambiental, não basta que os partidos progressistas elaborem diagnósticos, mas transformem reflexão crítica em mobilização e projeto efetivo de sociedade, consideraram.
O evento, coordenado pelo secretário-geral da CSL e secretário de Relações Internacionais do PSB, Paulo Bracarense, integrou a programação do XVI Congresso Nacional do PSB e foi realizado em formato híbrido.
A conferência contou com a participação da coordenadora global da Aliança Progressista, Machris Cabreros, e do deputado argentino Esteban Paulón, do Partido Socialista da Argentina, que atua como coordenador da Articulação Parlamentar Latino-Americana (APLA). Estiveram presentes delegações de partidos da Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Equador, Guatemala e República Dominicana, México, representantes de oposições aos governos da Venezuela e Nicarágua. Fora da América Latina, o evento contou com convidados da Itália da Espanha.
Durante a conferência, cada representante fez análises sobre a situação política em seus países e reforçaram uma avaliação comum: a extrema-direita tem se fortalecido em organização e influência, enquanto os setores progressistas precisam reagir com “ações concretas”.
“A observação feita é que os progressistas aumentem sua ação na realidade. A direita, a extrema direita, particularmente, tem crescido em organização. E a esquerda, os progressistas precisam dar uma resposta. E essa resposta é a aliança com a população, que já foi muito forte da esquerda, principalmente latino-americana, mas que se perdeu um pouco. E é preciso revigorar essa aliança”, declarou Bracarense, destacando que essa conexão já foi uma marca forte das esquerdas latino-americanas, mas que precisa ser revitalizada para enfrentar os desafios atuais.
A coordenadora global da Aliança Progressista, Machris Cabreros, elencou quatro desafios centrais que devem guiar a atuação dos partidos progressistas: o combate à desigualdade social, apontada como o eixo central de qualquer programa político, a busca permanente pela paz, com a superação de conflitos por meio do diálogo e da cooperação, a crise climática, tratada como uma emergência que ameaça o futuro da humanidade e exige respostas coletivas urgentes, e a necessidade de planejamento estratégico nos países periféricos, especialmente no Sul global, para garantir soberania e desenvolvimento sustentável.
Na avaliação de Macris, a maioria dos partidos progressistas compartilha uma análise comum sobre esses desafios atuais, mas ainda falha em transformar esse entendimento em ação política real. “Se os partidos querem enfrentar esta crise, devem partir para a ação, especialmente os partidos de esquerda. Então, é necessário que a cooperação internacional possa existir, e também que os países do sul do planeta possam trabalhar juntos”, defendeu.
Macris destacou o papel estratégico do Brasil que, para ela, tem condições de se tornar uma liderança no cenário internacional, não apenas por seu tamanho e influência, mas por sua tradição de organização social e política. “Eu acredito que o Brasil pode ser um líder na fase internacional, por sua influência política, mas, mais importante, por sua tradição de movimento social”, disse. “Você pode ser um grande país com influência, mas se não for progressista, não poderá responder a esses desafios.”, ponderou.
O deputado argentino Esteban Paulón, coordenador da Aliança Progressista para as Américas, por sua vez, fez um alerta sobre o avanço da extrema-direita na América Latina e no mundo. Segundo ele, na região, o Brasil foi o primeiro “laboratório” dessa onda na região. Ele analisou que a Argentina agora vive uma versão “corrigida e aumentada” do governo Bolsonaro, sob Javier Milei, em um contexto de fragilidade institucional.
Esteban destacou que a ascensão de lideranças radicais está substituindo partidos de centro-direita em diversos países, promovendo uma agenda que sacrifica liberdades individuais em nome de supostos ganhos econômicos. “Há uma impossibilidade de consenso democrático com esses setores”, afirmou. Ele ressaltou que, diferentemente do passado, a centro-esquerda tem sido absorvida pela direita em vários contextos, como na própria Argentina, onde parte do campo progressista aderiu às reformas liberais do governo Milei.
O deputado defendeu que os encontros progressistas não podem se limitar à troca de ideias e diagnósticos. “Temos que transformar essa reflexão crítica em um plano de ação concreto”, disse. Ele também propôs a reconstrução de uma narrativa progressista que recupere o sentido das palavras “liberdade” e “igualdade”, hoje apropriadas, pela extrema-direita, afirmou. “A liberdade que liberta e a igualdade que transforma sempre vieram da esquerda democrática e do socialismo”, concluiu, sugerindo a criação de um “manual do progressismo” como guia estratégico para a atuação política diante dos novos desafios.
Próximas conferências da CSL
Dois países se ofereceram para sediar os próximos encontros da CSL: a Argentina, no segundo semestre de 2025 e o Ecuador, em maio de 2026, quando o Partido Socialista Equatoriano completa 100 anos de fundação.
Bracarense ressaltou a relevância do Partido Socialista Equatoriano na construção da CSL, desde a década de 1980, e disse que a escolha final entre os dois locais será tomada nos próximos meses. “Estamos avaliando qual será a melhor alternativa em termos de local e data para garantir a maior participação possível e dar continuidade a esse processo de integração e fortalecimento das forças progressistas”, concluiu.
Assessoria de Comunicação/PSB nacional