Abrir e manter um espaço, especialmente um espaço político, nas redes sociais exige o desenvolvimento contínuo de estudos de comunicação direta com o leitor. Ao mesmo tempo, requer um planejamento sério e acompanhamento de como os partidos políticos estão usando essas ferramentas, no Brasil e em outros países, além de como se preparam para utilizá-las nas campanhas das próximas eleições.
Os conselhos fizeram parte da palestra de Fred Fagundes, blogueiro e especialista em conteúdo de redes sociais, e Paulo Petitinga, da área de planejamento de redes sociais, durante o seminário nacional “As Mulheres e as Eleições 2014”, que o PSB e a secretaria Nacional das Mulheres Socialistas realizaram em Brasília nos dias 12 e 13. Ambos abordaram a importância das redes sociais nas eleições.
“Os candidatos também precisam entender que não é possível formar uma marca ou imagem de um dia para o outro na internet”, ensinou Paulo Petitinga. E que o Brasil está num estágio diferente de uso das redes sociais do que nos Estados Unidos, por exemplo, onde elas já são determinantes numa eleição – como foram na primeira campanha do Presidente Barak Obama. “Ainda deve levar uns dez anos para as redes definirem uma eleição, dessa forma, aqui no Brasil. Porque o perfil do internauta brasileiro é bem diferente do norte-americano: o brasileiro é mais imediatista, quer saber o que o candidato vai fazer por ele, enquanto nos Estados Unidos eles estudam quem é o candidato antes de decidir o voto”, diferenciou.
Paulo Petitinga falou sobre como os diferentes perfis das redes sociais – Facebook, Twitter, Youtube, Google+, blogs – atuam na corrente eleitoral hoje no Brasil e quais as indicações políticas dessa ferramenta da internet. Segundo ele, já existe até mesmo uma classificação dos internautas que as acessam: há os passivos, os criativos e os interativos e cada qual tem a sua importância durante a campanha política.
O criativo, por exemplo, é o internauta que cria conteúdo para a rede social do candidato, que pauta seus conteúdos ao buscar um diálogo com os partidos e candidatos pelos quais se interessa e, com isso, influencia toda a rede. Ele é quase um repórter da rede e tão importante como conquistar internautas com esse perfil é mantê-los fiéis, ganhando a sua confiança. “Nas redes sociais, isso se consegue respondendo às perguntas ou comentários que eles fazem na página; é como o candidato apertar a mão dele”, compara Petitinga.
Influência direta – O internauta passivo, perfil que corresponde à maioria dos internautas hoje em dia, busca informações pontuais e predominantemente mais cosméticas sobre o candidato ou partido. Não quer se aprofundar e não cria riscos, mas gera mais relações. “Eles entram em cena com a militância nas redes, pois são os primeiros a entrar em contato com o candidato e a pautar suas ações no ambiente digital”, explica o especialista. “Quando a campanha já está a pleno vapor, são eles que têm influência direta na decisão do voto dos internautas”.
Uma vez na rede os conteúdos, entram então em cena os internautas interativos, que são os que distribuem as informações sobre os candidatos e partidos. Donde se conclui que é preciso alimentar o espaço das redes sociais com conteúdos que permanentemente atraiam internautas de todos os três perfis, pois cada um será mais útil em determinados momentos da campanha eleitoral.
Paulo Petitinga afirmou também que não há como alimentar os diferentes perfis de redes sociais de uma só vez e nem da mesma forma. “Cada um tem o seu diferencial e especificidades, é preciso planejar o uso dos conteúdos, estudando cada perfil em separado”, ensinou. O Facebook, por exemplo, serve melhor como repositório das notícias sobre as ações do candidato, a mídia do que ele fez no dia e fará nos próximos. Ele ganhou força no Brasil como substituto das páginas próprias do candidato na internet e também de seus blogs.
Já o Twitter, como oferece apenas o espaço exíguo dos 140 caracteres para qualquer postagem, deve ser utilizado mais como gerador de fluxo para outras redes sociais ou websites. “Ou seja, ele não é uma ilha, é uma ponte para as demais ferramentas”, diferencia o especialista.
O Youtube, por sua vez, dedicado à postagem de vídeos, é o espaço mais delicado da rede para os candidatos, pois tem um custo de produção muito alto. “Se ele decidiu se expor na rede, precisará produzir web vídeos com qualidade de som e imagem para não ter a sua imagem prejudicada”, aconselhou. “Além disso, deve manter uma periodicidade mínima e com data e hora conhecidas pelos internautas para a postagem desses vídeos, a fim de manter a demanda e o interesse dos internautas”.
Indissociáveis das campanhas – O blogueiro Fred Fagundes falou às mulheres e candidatas socialistas sobre como produzir conteúdo para alimentar essas redes sociais todas. Ele afirmou estar convicto de que, na próxima campanha eleitoral, as redes sociais não vão ser um plus nem canal de replicação das campanhas – serão parte integrante delas. “Podemos afirmar isso pela força e impacto do Facebook, por exemplo, na nossa vida cotidiana. Os jovens, hoje em dia, o abrem antes mesmo dos emails, como página obrigatória”, testemunhou.
O especialista afirmou que, neste contexto, é preciso que os candidatos estejam no Face de maneira relevante, pois é um espaço que ganhou status de fanpage. E a maneira de uma fanpage conseguir divulgar um candidato político é convencendo o internauta a compartilhar o conteúdo que este candidato publica ali. “Porém, esse conteúdo precisa essencialmente ser verdadeiro, falar de pessoas reais para pessoas de verdade, pois não há como vender algo que não existe”, alertou. Para isso, aconselhou, é preciso ter uma equipe focada e específica para o Facebook, não adianta remanejar gente de outros setores para 'quebrar o galho' ”.
Segundo Fagundes, uma das grandes vantagens de se atuar no Facebook é que, quando você curte uma página nesta rede, começa a receber mensagens automaticamente na sua time line (página inicial, a conhecida linha do tempo) do dono desta página – no caso, o candidato. O sistema do Face seleciona o que mostrar na time line de quem curtiu a página de acordo com a frequência com que a pessoa curte essa página, assim, quantas mais postagens ela curtir, mais vai receber material do candidato e maiores as chances dela compartilhar esse material com seus amigos da rede.
“Daí a importância da qualidade e periodicidade da produção de conteúdos pelo candidato, é preciso buscar impactar e fidelizar esse internauta para que ele continue te seguindo e, ao mesmo tempo, disseminando o material entre cada vez mais amigos”, detalhou Fagundes.
Passado negativo –Ele lembrou ainda que, pelas mesmas razões, é importante procurar não publicar material ruim ou negativo. “Uma vez na internet, você está ali para sempre e este passado também pode ser acessado pelos internautas e influenciar seu voto. Por isso, é importante começar agora o planejamento para o uso do Face nas campanhas de 2014”, alertou.
Fagundes revelou ainda que pesquisas recentes mostram que 90% dos usuários das redes sociais confiam mais nas opiniões e avaliações dos amigos do que nas propagandas. “É esse seguidor que conseguimos conquistar que vai impactar a rede a favor do candidato e suas propostas, por isso, não se pode esquecer que a internet não é um lugar para discursos mas, sim, para o diálogo, o debate acima de tudo”, ressaltou.
Ele ainda ensinou que a internet pode, por essas características, também ser usada como uma fonte valiosa de pesquisa gratuita sobre o eleitor. Outra dica é criar causas com que o internauta se identifique e se mobilize e aos seus amigos – como a dos animais de rua, a da proteção da praça do bairro, a dos doentes de baixa renda que precisam de medicamentos permanentes, por exemplo. “Em resumo, o segredo para atuar bem nas redes sociais é ser verdadeiro, buscar tocar o coração do internauta e trazê-lo para os debates propostos pelo candidato. Antes de qualquer coisa, é preciso lembrar sempre que estaremos trabalhando com pessoas e procurar escrever com poesia”, propôs.