O vice-presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Amaral, participou nesta quarta-feira (17), em São Paulo, da Conferência Nacional “2003 – 2013: um nova política externa”. O eventoapresenta uma abordagem abrangente sobre política externa.
A Conferência Nacional tem o objetivo de debater a inserção internacional fortalecida do Brasil na última década e discutir os novos rumos da política externa do país. O encontro acontece na Universidade Federal do ABC, campus São Bernardo do Campo, entre os dias 15 e 18 de julho.
Roberto Amaral participou da primeira mesa do evento, confira abaixo íntegra da matéria postada no site oficial da Conferência:
“A guerra já começou” – Mesa I: Política Externa e Defesa
Primeira Exposição, de Roberto Amaral, primeiro vice-presidente e coordenador de Relações Internacionais do Partido Socialista Brasileiro, que define Política Externa e Política de Defesa como dois ângulos da base de uma pirâmide, em que o ápice é a sociedade.
Amaral define política externa como o soft power, enquanto a política defesa como de hard power, ambas complementares, ambos levados para fora de seus limites geográficos. Segundo sua visão, o Brasil é um país invejado por suas reservas de combustíveis fósseis, de minérios, e por sua ampla territorialidade altamente produtiva, se constituindo na única grande potência latino-americana. Apesar de não ter inimigos declarados, tem como ameaças uma elite conservadora, e o governo dos Estados Unidos que possuem antipatias com suas políticas desenvolvimentistas aplicadas tanto interna quanto externamente.
“A guerra já começou”, com referência as denúncias de espionagem cibernéticas divulgadas por Edward Snowden, guerra em que ainda não estamos preparados, do mesmo modo como não estávamos preparados em 1914 e 1939, porém desta vez em uma posição diferente frente ao cenário internacional.
André Martin, professor livre docente de Geografia Política da Universidade de São Paulo/USP, prossegue a conferência, colocando como ponto problemático, as relações diplomáticas complexas com os Estados Unidos.
Hoje não possuímos um pensamento geopolítico atual, que se ausenta desde o fim da ditadura militar com a geopolítica golberyana.
Para ele sem política exterior clara, não há política de defesa, que por sua vez inviabiliza uma política de industrialização, consequentemente sem política de logística, tudo isso fruto da falta de uma geopolítica atual.
A geopolítica golberyana se caracterizava pela defesa do ocidente, cristão, ameaçada pelo comunismo ateu, defesa de uma política rodoviária (influenciada pela indústria automobilística norte americana) e políticas que privilegiavam o exército. Porém o que ele defende é a necessidade de uma geopolítica antigolberyana, que consiste em defender as relações do hemisfério sul, já que possuímos características que nos desprende da visão ocidental; incentivar os investimentos na marinha, que defenda nosso litoral extremamente desprotegido; investimentos em outros modais de transporte: ferroviário regional, aeronáutico e fluvial. Concluindo seu discurso, a ameaça não virá por terra, até por conta de nossa aliança com nossos vizinhos, urgindo a necessidade de defesa marinha.
Antonio Jorge Ramalho da Rocha, diretor do Instituto Pandiá Calógeras do Ministério da Defesa, inicia discordando do diálogo de André Martin dizendo que sim, o Brasil possui uma estratégia de defesa definida.
Internacionalmente falando, os Estados Unidos possuem erros em suas políticas de defesa de seus interesses, pra bem ou pra mal. Exemplo: o único problema do Irã na década de 80 era o Iraque, problema indiretamente solucionado pelos EUA em suas incursões no país de Hussein desde 2001, que elevou a posição geopolítica iraniana na região a partir de então. Ressalta a fragilidade das instituições internacionais em resolver problemas potencialmente bélicos como na Síria em uma guerra civil já declarada, Coréia do Norte em suas ameaças, entre outras…
Vivemos um processo de reestruturação da economia internacional, a qual possui um futuro incerto dos rumos dessas mudanças, mas que aos poucos vem extinguindo a ordem de Brettow Woods, altamente concentradora de poder.
O Brasil tem respondido a esse quadro internacional, incentivando diálogos sobre uma reforma no conselho de segurança; deu uma resposta ao se engajar à agenda internacional de forma ativa e altiva, que apesar da mudança de estilo, com o novo chanceler Patriota, não mudou de direcionamento.
Finalizando a conferência sobre defesa, Antonio Jorge argumenta que o Brasil definiu uma estratégia de defesa em 2005 com a atualização da Política de Defesa Nacional, ampliada em 2008, que trouxe a cooperação regional como um de seus pontos principais, fortalecendo a integração sul-americana, que resultou no Conselho de Defesa Sul-Americano da UNASUL.
Para exemplificar, as operações no Haiti possibilitaram ao Brasil um aprendizado à suas forças armadas, dando um maior grau de interação com seus vizinhos Argentina e Chile.