O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse neste sábado (6) que duas palavras caracterizam a decisão do partido de aconselhar a militância e a população a não comparecerem aos atos contra o governo Bolsonaro neste domingo: coerência e responsabilidade.
“Se nós tivermos coerência em relação a essa pandemia, porque a única solução cientificamente comprovada para diminuir os seus impactos é o recolhimento social, como é que agora eu vou aconselhar as pessoas a irem para as ruas?”, disse Siqueira.
“Quer dizer que quando o militante do Bolsonaro, que nós criticamos, vai à manifestação está errado, mas se for um militante de esquerda ou contra o governo estará certo? Seguramente que não”, afirmou.
Siqueira participou da “Live do Trabalhador – Além das janelas da democracia”, com os presidentes do PDT, Carlos Lupi, do PV, José Luiz Penna, da Rede, Pedro Ivo, e do Cidadania, Roberto Freire. O encontro teve como mediador o presidente do PDT-SP, Antônio Neto.
Embora reconheça que o sentimento despertado contra o governo Bolsonaro é positivo e compreensível diante das muitas decisões equivocadas e autoritárias que o presidente tem tomado em meio a uma pandemia sem precedentes na história, o partido jamais poderia ser irresponsável e incoerente a ponto de aconselhar seus militantes e amigos a participarem de aglomerações, reiteirou Siqueira.
“Você vai voltar pra casa, vai conviver com seus amigos, vai voltar a trabalhar e poderá estar infectando dezenas de milhares de pessoas. O nosso sistema de saúde, que nunca foi completamente bem estruturado, não suportará”, disse Siqueira, citando a frase “de um autor conhecido”, que afirmou ser a preservação da vida o primeiro dever do revolucionário.
Depois de enumerar algumas atitudes graves do governo Bolsonaro em relação à pandemia e outras “desastrosas” que quase fizeram ruir as relações comerciais com a China e com os países árabes, Siqueira disse que Bolsonaro “não está a fim de resolver problema nenhum”, e os próprios militares percebem isso.
“Bolsonaro tem como único propósito claro, e claríssimo ao meu ver. É a implantação de um regime autoritário’, disse. O socialista citou também outra medida temerária do atual presidente. As portarias que determinavam o rastreamento de munição e armas para impedir o acesso das milícias a armamentos foram revogadas.
Para o presidente do PSB, Bolsonaro quer, na verdade, armar as milícias, as polícias e os cidadãos que defendem como ele um regime autoritário. “Ele defende que a população deve se armar, e qual é a população que ele quer armar?”, indagou.
“São as milícias, são policiais, são os cidadãos que defendem, como ele, o regime autoritário. Ele admite e já declarou isso no passado, e confirma com a sua prática”, afirmou Siqueira, citando o que Bolsonaro disse em uma entrevista quando exercia um de seus mandatos como deputado federal. Ele afirmou na época que o país só mudaria “se nós partirmos para uma guerra civil”, “e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil”.
Para Siqueira, não basta apenas defender o impeachment do atual presidente, “que não entende absolutamente nada”, e que “só cria grandes problemas para o país”. Em primeiro lugar, é necessário reconstruir o sistema político.
“O sistema político brasileiro faliu. É preciso pensar em tirar Bolsonaro, mas é preciso pensar no futuro, A começar pela reconstrução da política em novas bases, e pensando um projeto de desenvolvimento nacional capaz de dar uma nova esperança à população”, disse.
Siqueira defendeu a organização “da mais ampla” frente democrática, partidária e social possível para “salvar” a democracia, vital principalmente numa sociedade com grau de desigualdade “abissal” como a brasileira. “E para isso, você tem que ter a frente mais ampla possível. E não podemos ter uma visão exclusivista de que a,b ou c não pode participar. Isso não me parece correto”, afirmou.
Na opinião de Siqueira, há motivos de sobra para um impedimento pelos crimes de responsabilidade cometidos “reiteradas vezes” por Bolsonaro contra o país. Por isso é necessário que o país responda com os “métodos democráticos”. Os 70% da população que não querem o governo Bolsonaro devem reagir com firmeza para que o processo possa evoluir;
“Os 70% da população não podem se submeter a esse um terço que apoia o Bolsonaro. É necessário que a maioria se imponha, e ela irá se impor”, afirmou.
“Hoje somos 70% e precisamos chegar a 80, precisamos chegar a mais. É ganhando as mentes e os corações das pessoas que têm compromisso com a vida, com a saúde, com a beleza, com a alegria, com o entusiasmo de viver que nós vamos trazer para a política aqueles que renunciam a política, porque esse é o instrumento por excelência de fazer a mudança, de fazer acontecer”, afirmou.