Para ampliar o atendimento à dependentes químicos, o Sistema Único de Saúde (SUS) vai trabalhar em parceria com Comunidades Terapêuticas, instituições não governamentais de recuperação de usuários de drogas. O anúncio foi feito na abertura do Seminário Nacional realizado pela Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas, na última quinta-feira (1º), em Brasília. O representante do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, admitiu que o SUS precisa avançar no atendimento ao usuário de drogas.
No evento, Tykanori, adiantou os pilares que o Ministério deve atuar atenuar o problema. “Além da parceria com as Comunidades, precisamos capacitar profissionais, ampliar as estratégias de consultórios de rua e oferecer maior número de leitos em hospitais gerais direcionados aos dependentes”, afirmou.
Relator da Comissão Especial, o deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), coordenou as palestras direcionadas ao tratamento e reinserção do usuário na sociedade. Membro atuante no assunto, Carimbão reafirmou a necessidade de reconhecimento do trabalho realizado pelas Comunidades Terapêuticas em todas as regiões do País.
“Acredito que o trabalho realizado pelos Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas e pelos consultórios de rua ajude uma parcela da população. Mas é essencial que esse trabalho seja feito em conjunto com as Comunidades que estão reabilitando boa parte dos usuários”, explica o deputado.
De acordo com o Presidente da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas, Padre Haroldo Rahm, já existe no Brasil 2 mil comunidades com cerca de dez mil voluntários. Para ele, o foco no momento é tentar combater o crack. “Temos hoje um em cada 12 jovens com esse problema. Em média apenas três querem realmente ser reabilitados”. Com 93 anos, Padre Haroldo acredita que o trabalho realizado nestas instituições é o melhor resultado de reinserção social que os dependentes químicos podem ter. “A partir de terapias individuais e de grupo, tarefas de casa e produção de trabalhos conseguimos restabelecer disciplina na vida do usuário. O que permite que ele consiga viver melhor quando sai das casas de acolhimento”.
Para obter um tratamento de sucesso, o diretor do Conselho Federal de Psicologia, Pedro Paulo Bicalho, afirma que não se deve reduzir os usuários a questão de objeto para que não haja perda de cidadania. Segundo ele, é preciso também que haja participação ativa do Estado, na prática de políticas públicas como oferta de empregos e habitação. “É uma forma de fazer com que ex-dependentes criem maiores vínculos dentro da sociedade”, disse.
Especialista em drogas e doutor pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Júlio Adiala, chama atenção para a necessidade de entender quais são os interesses paralelos no uso das drogas. “Para pensarem em um desejo de cura precisam entender que as drogas existem há milhares de anos e que sempre esteve em volta de interesses econômicos, políticos e até mesmo de classes sociais”. Para o especialista, se a Comissão começar a trabalhar em cima de todas essas possibilidades poderá ter um resultado mais positivo na tentativa de prevenção e tratamento.