Não se espante com o termo não tão usual, pois significa nada mais que a ação ou efeito de altercar, de discutir ou debater acaloradamente. Algo corriqueiro hoje em dia, quando vivemos um momento de muita irracionalidade, sentimento de ódio, preconceito e de uma miopia intelectual, apesar do conhecimento nunca ter sido tão acessível como agora.
O mundo tem se mobilizado contra o racismo, uma chaga aberta na história da humanidade e que infelizmente parece que ainda demorará a cicatrizar. Depende muito de nossas ações, pois não é suficiente não ser racista, temos que ser antirracistas, combater com veemência as injustiças sociais, principalmente as causadas pela questão de raça e cor. Não precisamos conhecer o que aconteceu nos Estados Unidos com George Floyd, para querermos nos mobilizar, pois aqui diariamente acontecem casos como o de João Pedro, Miguel, dentre tantas outras vidas ceifadas.
Mesmo em pleno século 21, no Brasil temos um abismo de oportunidades, renda e instrução. Conforme diagnosticou o Atlas da Violência de 2019, a população negra ainda tem os piores índices de violência, no total 75,5% das vítimas de assassinato em 2017 eram indivíduos negros. Estamos longe de sermos uma democracia racial, em média, os brancos têm os maiores salários e sofrem menos com o desemprego, tudo isto fruto da ausência de um projeto de inserção das pessoas negras na sociedade brasileira, pois foram “libertados” e lançados à própria sorte.
Vivemos em uma sociedade não representativa de seu povo, onde os lugares de poder são ocupados pela minoria privilegiada em detrimento das pessoas negras que representam 55,8% da população brasileira e 54,9% da força de trabalho, segundo levantamento do IBGE divulgado no final de 2019. Se formos esmiuçar estes dados constatamos que pretos e pardos que compõem a população negra do país são maioria entre trabalhadores desocupados (64,2%) ou subutilizados (66,1%) o que nos dá uma noção deste fosso social e econômico. Segundo levantamentos da Organização social TETO Brasil de 2016 (atualmente penso que estes dados não são diferentes), em São Paulo, maior cidade do País, 70% dos moradores das favelas eram negros. O que nos traz uma triste constatação: no Brasil a pobreza tem cor.Se antes da pandemia a informalidade econômica afetava mais a população negra, podemos deduzir que pós-pandemia se tornará muito pior. Portanto é mister que devemos reforçar e ampliar as políticas públicas que combatam o racismo, a discriminação e garantam oportunidades de equidade para a população negra na saúde, educação, cultura, segurança e trabalho, dentre outros.