Há 19 meses, o país está sob um governo que busca enfraquecer a democracia e suas instituições e impor uma agenda fundamentalista de extrema-direita que ameaça os avanços conquistados nos últimos 35 anos de democracia no país. Nem a maior pandemia da história atenuou o intento conservador e o discurso de ódio bolsonarista.
O que está em jogo é realmente a democracia que vinha sendo reconstruída e cuja retomada custou a vida de muitos brasileiros e brasileiras.
Diante desse quadro desalentador, a figura de Ariano Suassuna, presidente de Honra do PSB, faz muita falta. Falecido há seis anos, o escritor, romancista, poeta e um dos maiores dramaturgos brasileiros era uma voz contundente e inspiradora para enfrentar as adversidades e seguir acreditando no sonho de construir uma nova sociedade, mais igualitária, diversificada e orgulhosa de sua brasilidade.
Em uma de suas frases notórias, carregadas de sabedoria e caráter, Suassuna disse: “Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”
Suassuna nasceu em João Pessoa, na Paraíba, mas cresceu no sertão e aos 15 anos de idade se mudou para Recife, onde estudou, se formou e ficou internacionalmente conhecido por seu talento e devoção à cultura popular brasileira.
A produção de Ariano, principalmente a teatral, tem como característica a presença do humor, muitas vezes atrelado à crítica social, e de elementos da cultura popular do Nordeste. Ele costumava mencionar o embate desigual entre o Brasil real dos pobres e oprimidos e o Brasil oficial.
Escreveu teatro, romance, poesia e ensaio, com 14 livros publicados e traduções para diversas línguas. Suas narrativas eram inspiradas no sertão nordestino como Uma mulher vestida de Sol, O Santo e a Porca e Auto da Compadecida, seu texto mais conhecido, que ganharia adaptações na TV e no cinema.
Para além de sua obra, o escritor se notabiliou também por seu bom humor e por dar aulas em que dissecava a cultura brasileira, as suas origens ibéricas, a tradição dos violeiros, dos cantadores, das rabecas, dos cordéis. Eram aulas-espetáculo, sempre lotadas. Nas aulas, usava terno preto e camisa vermelha, cores do Sport Club do Recife, time do coração. Brincava que o traje era “sport fino”.
Se apresentava como um defensor da cultura popular brasileira, contra a invasão da indústria cultural norte-americana. “Não troco o meu oxente pelo ok de ninguém!”, disse.
Ariano Suassuna também é reconhecido como um dos mais importantes autores da geração de 1945 do modernismo brasileiro. Ocupou cadeira na Academia Brasileira de Letras de 1990 até o ano de sua morte. Também fez parte das Academias de Letras Pernambucana e Paraibana.
Na década de 1970, articulou o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Suassuna também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.
O poeta e dramaturgo aposentou-se do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989, após 32 anos em sala de aula. Depois, foi Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes de 1994 a 1998.
Em 2007, ele assumiu a secretaria de Cultura de Pernambuco a convite do governador Eduardo Campos, e chegou a ocupar outros cargos até deixar o governo recentemente, em abril de 2014.
Em 2011, foi eleito presidente de Honra do PSB e, durante o mandato de Eduardo Campos como governador de Pernambuco, foi seu assessor especial até abril de 2014.
Suassuna confiava no socialismo como meio para garantir uma vida digna.“Está escrito nos atos dos apóstolos: todos tinham tudo em comum, quando um precisava todos ajudavam e ninguém tinha nada como seu. A meu ver, enquanto houver um miserável, um homem com fome, o sonho socialista continua”, afirmou o presidente de honra do PSB.