Dezenas de convidados lotaram o auditório da Fundação João Mangabeira (FJM) na noite desta quarta (24) para rememorar e homenagear os revolucionários que participaram do Assalto ao Quartel Moncada, em Cuba, em 1953. O movimento, que foi o embrião da Revolução Cubana de 1959 e de todas as revoluções de esquerda que se espalharam nas duas décadas seguintes pela América Latina e países da África (Angola) e Ásia (Coréia do Norte), completa 60 anos no próximo dia 26 de julho.
O evento foi realizado em parceria com a Embaixada de Cuba e contou com a presença de embaixadores e representantes das embaixadas do México, Bolívia, Guatemala, Haiti, Palestina e Jamaica, além do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, do Secretário de Cultura do GDF, Hamilton Pereira, que representou o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e da Deputada Federal Érika Kokai, do Grupo Parlamentar Brasil-Cuba.
Também compareceram lideranças e militantes de partidos políticos de esquerda (PSB, PT, PDT e PSol) e movimentos sociais como o MST, UNE, CUT, CNT, CDR, CTB, SSB, UJS, movimento dos pequenos agricultores, Via Campesina e Movimento de Mulheres do DF. O jornalista Beto Almeida, conselheiro da TeleSur, rede de TV multiestatal criada por Hugo Chaves e compartilhada por vários governos da América Latina, com sede na Venezuela, foi outra presença destacada no evento – a TeleSur completou oito anos no ar em 24 de julho e sua programação é transmitida diariamente pela TV João Mangabeira.
O presidente da Fundação, Carlos Siqueira, também primeiro secretário Nacional do PSB, abriu a cerimônia falando da alegria dos socialistas em sediar a homenagem a esse que é um dos marcos mais simbólicos da Revolução Cubana. “O Assalto ao Quartel Moncada é um exemplo especial de camaradas que nos inspiraram na juventude e inspiram até hoje”, destacou. “Como aconteceu com a Coluna Prestes, no Brasil, a Grande Marcha, comandada por Mao Tsé Tung na China, e tantos outros movimentos visionários que assinalaram o início de grandes transformações no mundo, o Assalto e a revolução que ele gerou em Cuba seis anos depois foi a grande inspiração para nós brasileiros que nos anos 60 lutávamos por transformações, liberdade e justiça social – e toda essa seleta plateia sabe bem do que estou falando”.
Segundo Carlos Siqueira, embora o Assalto ao Quartel Moncada tenha sido uma derrota na época – os revolucionários, entre eles Fidel Castro, foram presos nessa primeira tentativa de derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista –, acabou se transformando em uma grande vitória. Em 1955, quando, como presos políticos, eles foram anistiados, Fidel se exilou no México, onde conheceu Che Guevara e montou o grupo que guerrilhou e derrubou Batista quatro anos depois. “Essa primeira derrota fortaleceu o sentimento de mudança e transformação do povo cubano e, posteriormente, de todos nós”.
Pela importância dessa relação histórica e pelo embargo econômico imposto pelos Estados Unidos ao país desde 1962, ressaltou Carlos Siqueira, é que o Brasil é solidário com Cuba em todos os aspectos, “inclusive em seus erros”, frisou. “E temos que ser permanentemente solidários – com a Revolução Cubana, com o Partido Comunista de Cuba, com seu povo e a sua causa, com tudo, enfim, que impede o avanço econômico e social dessa ilha querida que todos carregamos no coração”.
Pela Libertação dos 5 –O coordenador do Comitê Brasília pela Libertação dos Cinco Cubanos*, Afonso Magalhães, ressaltou que a homenagem ao feito revolucionário do Assalto ao Quartel Moncada é também um ato de solidariedade a Cuba e a solidariedade é sempre um ato de mão dupla. De acordo com Magalhães, Cuba sempre apoiou toda a esquerda brasileira, seus atos revolucionários e sempre recebeu os exilados políticos. “Temos que manter viva a memória dessa transformação primeira e ajudá-los a combater o bloqueio criminoso dos Estados Unidos, em vigor há 50 anos porque Cuba ousou declarar o caráter socialista de sua revolução”, defendeu. “E também temos que fazer um combate diuturno, político e judicial, pela libertação desses heróis cubanos que estão em cárcere sub-humano e sem contato com suas famílias e seu país há quase duas décadas”.
· O Movimento pela Libertação dos cinco Cubanos luta para tirar da prisão Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, René González (libertado recentemente) e Ramón Labañino, presos há 15 anos nos Estados Unidos, condenados por espionagem. Eles se infiltraram em organizações terroristas que atuavam livremente no país e mataram, mutilaram e feriram centenas de cidadãos cubanos; o objetivo era evitar que mais atos terroristas fossem cometidos contra Cuba a partir do território norte-americano.Para lutar por sua libertação, comitês têm sido criados em vários países e também em diversos estados brasileiros. Em Brasília, 35 entidades sociais, sindicais, comunitárias e políticas constituem o Comitê.
Já o presidente da Associação dos Cubanos Residentes no Brasil, Alexis Isaac, também presente ao evento na FJM, revelou que há mais de 300 mil cubanos morando fora de seu país atualmente, cerca de 80 a 100 em Brasília. “Nós continuamos lutando junto com nossos irmãos da ilha de Cuba no mundo todo, apenas de outra trincheira. E vamos continuar a defender a nossa revolução seja onde estivermos”, assegurou.
A Deputada Federal Érica Kokay, que representou a presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Cuba, senadora Vanessa Grazziotin,lembrou que a vitória do povo cubano é também a vitória do povo brasileiro. “Todos nós aprendemos com Cuba e sua capacidade revolucionária a enfrentar aqueles que querem se impor pela força das armas e do pensamento impositivo”, afirmou. “Devemos ao povo cubano o resgate de valores essenciais como saúde gratuita para todos e o fim do analfabetismo, em suma, a transformação e a capacidade de concretizá-la”.
O Secretário de Cultura do GDF, Hamilton Pereira, disse que a Revolução Cubana, ao apontar para uma construção socialista e mais humanista do mundo, transmitiu essas referências para as lutas sociais no Brasil até hoje. “Fidel, Che Guevara e tantos outros líderes da revolução cubana são pessoas de casa para nós brasileiros, lembrados toda vez que o povo tenta se rebelar e tomar para si a construção do próprio destino. É um laço humano que vai além da política e é indestrutível”, avaliou.
Embaixada de Cuba – Coube ao Embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora, o outro anfitrião da noite, encerrar a cerimônia na FJM. Agradecendo a solidariedade de todos os movimentos ali presentes com Cuba e os cubanos, ele afirmou que o 26 de julho (o Assalto ao Quartel Moncada) foi o início de um pacto do coração que bate até hoje em todo o continente sul-americano pelo socialismo.
“Um punhado de 140 jovens idealistas, em circunstâncias heróicas (55 deles foram assassinados no levante e os demais barbaramente torturados), fizeram a primeira guerra do nosso povo contra a tirania e a ditadura neo-colonial que governava Cuba naquela época”, rememorou. “Isso moldou o nosso conceito de revolução, pregado pelo Comandante Fidel, e que implica em fazer a cada momento o que é preciso fazer, mudar o que é preciso mudar, transformar o que precisa ser transformado”.
Segundo Carlos Zamora, 60 anos depois daquele 26 de julho, a América Latina é outra e muito graças aos valores trazidos pela Revolução Cubana. “Hoje falamos de integração e da importância de construirmos uma unidade a partir da riqueza que é a grande diversidade que nos forma”, comparou. “Estamos todos cientes de que precisamos lograr ter uma voz comum no cenário mundial, portanto, precisamos desse mosaico fortemente unido”.
O embaixador de Cuba acredita que a Revolução Cubana é parte integrante do continente e dessa irmandade e que o futuro do país também depende disso. Nesse contexto, ele revelou que Cuba está em busca de alternativas para alavancar o desenvolvimento econômico do país em meio ao embargo dos EUA, com a prioridade de fortalecer os pequenos produtores. “Nessa luta, contamos não apenas com a solidariedade dos países vizinhos, mas também com seus exemplos e soluções – caso do Brasil, que é referência em agricultura familiar, setor responsável por mais de 70% do fornecimento de alimentos no país”, apontou.
Carlos Zamora concluiu voltando aos heróis do Assalto ao Quartel Moncada: “Por fazerem as transformações que nos permitiram chegar até aqui e estarmos hoje onde estamos, rendemos homenagens a todos esses companheiros que ali lutaram e deram suas vidas e a todos que caíram em todas as revoluções por todo o continente. Viva Cuba e a Revolução!”
A homenagem foi finalizada com uma apresentação especial da cantora Myrlla Muniz, que interpretou canções de Mercedes Sosa e do sanfoneiro Dominguinhos, falecido na terça-feira (23), e também contou com um solo do violonista Fabiano Borges, com músicas do cancioneiro cubano.