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O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría, enviou uma carta ao ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, em que sugere ao país aumentar os gastos públicos como saída para a crise causada pela pandemia do coronavírus.
Para Gurría, o Covid-19 é uma “ameaça sem precedentes” para a economia mundial e uma “grande tragédia humana”.
“A pandemia do Covid-19 é uma grande tragédia humana e uma ameaça sem precedentes para a economia global. Gostaria de expressar a solidariedade da OCDE com seu país, seu povo e seu governo”, diz Gurría no texto.
O secretário sugeriu que o governo brasileiro implemente gastos públicos “muito maiores para as empresas afetadas, para fortalecer a confiança do mercado e dos negócios imediatamente” e apoie bancos a facilitar prazos de pagamento para famílias e empresas temporariamente.
A OCDE considera os desafios atuais do mercado financeiro os mais significativos desde a crise financeira global, de 2008, ou a de 2001, após os ataques de 11 de setembro.
“Os negócios são endividados e alavancados em níveis sem precedentes”, afirma a carta. “As indústrias mais expostas empregam milhões de trabalhadores e são a força vital de muitas economias do G20”, continua. O G20 é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia.Um crescimento global previsto para este ano de 1,5%, disse, já soa otimista demais.
Para o secretário, apesar dos esforços globais, é preciso dar uma “resposta fiscal ousada, abrangente e transfronteiriça” para a crise.
“Os custos de uma resposta política ambiciosa e inicial serão diminuídos pelos custos que os países e a economia global enfrentarão se fizermos muito pouco ou atrasarmos. Os ministros das Finanças do G20 e os presidente do Banco Central devem agir com urgência e, ao fazer isso, podem contar com o total apoio da OCDE”.
Gurría afirmou que a incerteza instalada pela pandemia é a maior em décadas. “A razão é que não sabemos o quanto demandará a recuperação dos empregos porque não sabemos quantas ficarão desempregadas ao fim disso tudo. Também não sabemos o que precisaremos para resgatar as milhares de pequenas e médias empresas que já estão sofrendo”.
A OCDE reúne as maiores economias mundiais, como Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Canadá e Reino Unidos. É conhecida pelo apelido de “clube dos ricos”. O Brasil tenta ingressar no grupo.
Impacto econômico no Brasil
Desde janeiro, as análises sobre o impacto do surto na economia do Brasil apontam um cenário cada vez mais negativo. Mas isso tem mudado com rapidez.Inicialmente, em fevereiro, o governo Jair Bolsonaro falava em impacto de menos de 1 ponto percentual no crescimento previsto em torno de 2% do PIB. Na sexta-feira (20), o governo cortou sua projeção oficial de 2,1% para 0,02%.
Analistas e pesquisadores apontam que o Brasil pode enfrentar um recuo da economia, em patamar que lembra a crise financeira de 2008 e a greve dos caminhoneiros em 2018.
Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas, o PIB brasileiro pode recuar 4,4% em 2020.
As expectativas econômicas têm desabado ao redor do mundo. No início deste mês, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) previu que a pandemia poderia custar à economia global até US$ 2 trilhões neste ano (cerca de R$ 10 trilhões).