
Foto: Silvio Avila/AFP
Em 11 de abril, há exatos dois meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava que estávamos vivendo uma nova pandemia, a da Covid-19. Nesta data, o número de infectados no mundo era de 118 mil, em 114 nações, sendo que 4.291 pessoas já haviam morrido.
Nesses dois meses, o contágio se alastrou, o número de infectados já chegou a 4 milhões de pessoas, em todo o mundo, e as vítimas fatais alcançaram 280 mil.
Neste 12, celebra-se o Dia Internacional do Profissional de Enfermagem, categoria que está na linha de frente do combate ao coronavírus, superando as dificuldades que são sempre maiores à medida em que a desigualdade social é maior e o investimento em saúde pública menor.
O reconhecimento da OMS de que se tratava de uma pandemia era um alerta claro para que todas as nações adotassem medidas que fossem eficientes no combate da disseminação da doença. “Estamos chamando todos os países para ativar e intensificar mecanismos emergenciais de resposta, buscar casos suspeitos, isolar, testar e tratar todo episódio de Covid-19, além de tratar as pessoas que tiveram contato com ele”, afirmou em abril Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
De lá pra cá, as nações adotaram diferentes medidas de combate, as mais rápidas e restritivas foram determinantes na contenção da evolução do número de casos.
Com problemas de coordenação, gestão e investimentos públicos, o Brasil é atualmente o sexto país com o maior número de mortes por Covid-19 – 11.701 óbitos notificados e 170.021 casos –, atrás apenas dos Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Espanha e França.
O índice de casos confirmados depende diretamente da política de testes adotada em cada país e da quantidade de equipamentos à disposição. Apesar de todos os países dessa lista terem adotado medidas para conter a disseminação da doença, a demora em agir e a postura menos rígida sobre o isolamento social no início da pandemia fez com que os casos disparassem.
A Itália demorou a efetivar medidas de isolamento e se torno rapidamente o epicentro da doença na Europa. Seguindo a mesma linha de descrença dos efeitos da Covid-19, os Estados Unidos viveram uma aceleração do número de casos e acabaram de atingir a assustadora marca de 80 mil mortes provocadas pela doença, evidenciando a negligência das autoridades locais.
Ao relativizar o impacto da pandemia, o presidente Donald Trump contribuiu para esse avanço. Com posições oscilantes, ora estimulou a população a ir para a rua ora defendeu o isolamento. Também contestou análises de especialistas da área da saúde, a exemplo de seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro.
No Brasil o cenário é ainda pior já que o governo federal minimizou a doença desde que os primeiros casos foram registrados.
Inúmeras declarações públicas do presidente menosprezaram os efeitos do vírus e mesmo desrespeitaram a dor de familiares das vítimas fatais que só cresceram desde março.
Repercutiu no mundo a declaração de Bolsonaro ao chamar a Covid-19 de “gripezinha”, e ao afirmar que a imprensa causava “histeria” em sua cobertura.
Abriu ainda uma verdadeira guerra com os governadores por adotarem medidas de isolamento recomendadas pelo próprio Ministério da Saúde. O enfrentamento do presidente com os governantes foi parar na justiça: o STF decidiu pela autonomia dos Estados em promover o isolamento.
O presidente do nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirma que a crise política atual está relacionada ao fato de Bolsonaro não governar e não exercer de modo adequado as atribuições estabelecidas na Constituição Federal.
“O atual Presidente da República não consegue se constituir no líder que o País precisa nessa gravíssima crise política, econômica sanitária e social, preferindo liderar uma facção obscurantista e selvagemente capitalista da sociedade. O Brasil precisa estar à altura de si mesmo, ir além do Presidente que deve renunciar às suas funções conforme proposta dos partidos de oposição”, analisa Siqueira.
Dia Mundial do Enfermeiro
A negligência do presidente diante da crise afeta a população das mais diversas e cruéis formas.
Mas na linha de frente do atendimento aos milhares de pacientes estão os profissionais de saúde.
Hoje, no Dia do Profissional de Enfermagem, a categoria tem enfrentado as mais duras condições de trabalho, seja nos países desenvolvidos seja em países do Terceiro Mundo, como o Brasil. A pandemia colocou em xeque todos os sistemas de saúde públicos e privados no mundo.
Devido à falta de equipamentos, de equipes suficientes e de infraestrutura adequada, o país superou o número de enfermeiros mortos no combate ao Corona da Itália, por exemplo, uma das nações mais castigadas pela crise.
Dados divulgados pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) indicam 98 óbitos e mais de 13.500 casos de infectados.
Os profissionais da saúde estão expostos normalmente a uma grande quantidade de carga viral – termo usado para tratar da concentração do vírus –, mesmo protegidos pelos Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Porém esse não é o cenário pior em que trabalham muitos profissionais do país.
Em alguns estados há relatos de escassez desses materiais de proteção, aumentando ainda mais o risco de contágio e a gravidade dos sintomas. Sem as medidas de proteção necessárias, hospitais podem se tornar também centros de disseminação da doença, preveem os especialistas.
“É uma situação grave, que exige medidas imediatas para evitar o adoecimento em massa de profissionais, que pode ser catastrófico não apenas para os diretamente afetados, mas para o próprio sistema de Saúde”, diz Manoel Neri, presidente do Cofen.