Infelizmente, não somente o número de mortes tem aumentado a cada dia durante a Pandemia. Cresce, assustadoramente, a quantidade de pessoas em situação de crise de fome no mundo. No Brasil, para se ter uma ideia, segundo o informe “Vírus da Fome” lançado recentemente pela Oxfam Brasil, uma organização da sociedade civil, a estimativa é de que o número de pessoas nesta situação quase dobre, podendo chegar a atingir 270 milhões no mundo e tornar o Brasil um dos epicentros globais. Vale ressaltar que em 2014 o Brasil saiu do Mapa da Fome.
A pandemia catalisou uma realidade já existente: a pobreza e a desigualdade social, segundo os dados levantados, se medidas mais contundentes não forem providenciadas pelos governos para reverter esse quadro, constataremos até o final de 2020 a estimativa apresentada de que teremos 12 mil pessoas morrendo de fome por dia, quantidade maior inclusive do que as mortes decorrentes do coronavírus.
A indústria alimentar no mundo é uma das que mais lucrou mesmo na Pandemia. Os oito maiores fabricantes de alimentos e bebidas pagaram a seus acionistas este ano mais de US$ 18 bilhões, quantia necessária segundo a ONU para acabar dez vezes a fome no mundo. Aqui no Brasil esta é uma triste realidade que demonstra a inércia do Governo federal em socorrer principalmente as pessoas em vulnerabilidade social e econômica, enquanto os bancos privados receberam mais de um trilhão de reais, apenas 10% do auxílio financeiro prometido aos trabalhadores e às empresas, via o Programa Emergencial de Suporte ao Emprego (PESE), foi distribuído até junho. Somados a isto temos a dificuldade em se receber o valor do auxílio emergencial, até o início de julho foi distribuído menos da metade do valor destinado.
Segundo o IBGE, na Pandemia 19 milhões dos 84,4 milhões de trabalhadores no país estavam afastados do serviço, desse total 9,7 milhões estão sem remuneração e 18,3 milhões de pessoas tiveram redução da jornada de trabalho.
Celebramos no dia 26 de julho o centenário do nascimento do meu conterrâneo Paraibano, Celso Furtado, um dos mais importantes nomes da Economia brasileira e mundial, idealizador da Sudene e pioneiro em debater o combate à desigualdade social como forma de desenvolvimento econômico. Celso foi um homem a frente de seu tempo e se hoje estivesse ficaria estarrecido com a desigualdade social tamanha em nosso Brasil, à medida que os 42 bilionários do País aumentaram suas fortunas em US$ 34 bilhões até junho, segundo o relatório “Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid na América Latina e Caribe”, tendo seus patrimônios líquido crescido de US$ 123,1 bilhões, em março, para R$ 157,1 bilhões em julho. A maioria de nossa população se arrisca a ser contaminada para não perder emprego ou para comprar o alimento da sua família no dia seguinte.
Se nada for feito para mudar esta realidade, as nossas expectativas depois da Pandemia, enquanto País, serão desastrosas, com milhões de desempregados, sem direito à moradia e sem nenhum acesso a água tratada e saneamento básico. Temos que distribuir melhor a conta da crise econômica. Ela não pode ser paga pelos mais pobres, temos que taxar as grandes fortunas, reduzir impostos para pessoas em situação de pobreza, elevar as taxas sobre rendimentos de capital e criar impostos sobre resultados extraordinários de grandes corporações.
Ademais, precisamos salvar as micro e pequenas empresas, pois representam 52% dos empregos formais no setor privado e foram as grandes atingidas nesta crise, modificando as condições para se adquirir a ajuda apresentada pelo Governo Federal através do empréstimo, na atual regra grande parte delas não conseguem adquirir o recurso, pois sua condição de dificuldade financeira a torna não elegível ao empréstimo.