
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em seu primeiro discurso como 39º presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a democracia, a cidadania, a união e a esperança do povo brasileiro, e fez duras críticas a Bolsonaro, que deixa um legado de destruição no país, disse, logo após assinar o termo de posse em cerimônia no Congresso Nacional.
Em seu terceiro mandato, Lula assume o país com o compromisso de resgatar milhões da pobreza e da fome e de reconstruí-lo para fazer dele novamente “um Brasil de todos e para todos”.
Ele tomou posse como chefe do Executivo ao lado de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira representou o partido na cerimônia realizada no Palácio do Planalto. Uma multidão de centenas de milhares de pessoas acompanhou a solenidade nas ruas da capital federal.
Ao longo de seu pronunciamento no Congresso, Lula disse que hoje a mensagem ao Brasil “é de esperança e reconstrução”. “O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que esta Nação levantou, a partir de 1988, vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes. É para reerguer este edifício de direitos e valores nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços”, afirmou.
Lula afirmou que assume a Presidência da República pela terceira vez “graças à sede democrática”. A frente ampla formada na campanha se consolidou para impedir o retorno do autoritarismo no país, afirmou.
A missão mais importante a partir de hoje, destacou o presidente, será honrar a confiança recebida e corresponder às esperanças de um povo sofrido, “que jamais perdeu a fé no futuro nem em sua capacidade de superar os desafios”. Com a força do povo e as bênçãos de Deus, haveremos de reconstruir este país”.
Segundo Lula, o Gabinete de Transição revelou um diagnóstico “estarrecedor” de destruição de políticas públicas em todas as áreas. “Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção do meio ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública”, disse.
Ao citar o processo eleitoral, Lula defendeu as urnas eletrônicas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em um elogio à atuação da Corte, atacada ostensivamente por Bolsonaro e seus apoiadores, disse que democracia prevaleceu frente “as mais violentas ameaças à liberdade de voto”.
“A decisão das urnas prevaleceu graças ao sistema eleitoral, foi fundamental a atitude corajosa do poder judiciário em especial o TSE, para fazer prevalecer a verdade das urnas sobre a violência de seus detratores”.
Segundo Lula, o que estava em jogo na campanha eleitoral deste ano eram “duas visões distintas: a nossa centrada na solidariedade, a outra no individualismo, na negação da política e destruição do Estado”.
Sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula afirmou que governará sem ânimo de revanche, mas garantirá a aplicação da lei a quem cometeu erros contra a nação. Em seu governo, afirmou, a Constituição será usada para responder aos ataques de adversários inspirados no fascismo. “Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências”.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ele disse ser “urgente” que se criem instâncias democráticas de acesso à informação confiável e de responsabilização dos meios “pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados”. “este é um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta”.
Lula prestou solidariedade aos familiares, pais, órfãos, irmãos e irmãs de quase 700 mil vítimas da covid-19, e disse que a responsabilidade por ‘genocídio’ na pandemia, a qual classificou como “tragédia”, não ficará impune. “Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde. Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista e insensível à vida”.
O presidente empossado reforçou que irá revogar os decretos de ampliação do acesso a armas e munições “que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras”. “O Brasil não quer mais armas, quer paz e segurança para seu povo”, disse. Todas as injustiças cometidas contra os povos indígenas, os quais “devemos respeito e temos uma dívida histórica”, também serão revogadas, disse Lula. “Ninguém conhece melhor nossas florestas nem é mais capaz de defendê-las do que os que estavam aqui desde tempos imemoriais. Cada terra demarcada é uma nova área de proteção ambiental”, reforçou.
Lula afirmou ainda que o país voltará a cumprir a Lei de Acesso à Informação e que o Portal da Transparência terá o funcionamento normalizado. “Os controles republicanos voltarão a ser exercidos para defender o interesse público”, disse.
O presidente exaltou também o Estado Democrático de Direito e citou a expressão surgida no fim do regime militar, que dizia “ditadura nunca mais”. “Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!”, disse.
Lula discursa para a multidão
Após assinar o termo de posse e discursar no Congresso Nacional, Lula seguiu com Alckmin para o Palácio do Planalto, onde discursou novamente, desta vez para uma multidão que o esperava na Praça dos Três Poderes. Lá, ele recebeu a faixa presidencial do “povo brasileiro”, das mais de uma criança, um indígena, um negro, uma mulher, um operário e uma pessoa com deficiência.
Após ter a faixa passada ao som de “Amanhã”, de Guilherme Arantes, Lula se emocionou durante o discurso ao falar de fome e desigualdade. Do parlatório do Palácio presidencial, ele voltou a dizer que irá governar para todos os 215 milhões de brasileiros, inclusive para os que não votaram nele. “Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado”, afirmou.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Lula disse que é hora “de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras”.”A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria”, acrescentou.
O presidente se mostrou emocionado por diversas vezes ao falar do sofrimento do povo brasileiro. “Nesses últimos anos o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando o lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância que tem direito. Trabalhadores e trabalhadoras desempregados, exibindo nos semáforos cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: ‘Por favor, me ajuda’, disse Lula, sem conter as lágrimas.
Ele foi aplaudido e, ao retomar o pronunciamento, tratou de desigualdade de renda, desigualdade de gênero e de raça, desigualdade no mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado, desigualdade no acesso à saúde, a educação e demais serviços públicos.
Segundo o presidente, chegou a hora de “tirar o pobre da fila do osso para colocá-lo novamente no orçamento da União. “Não adianta subir o vidro do automóvel de luxo para não ver nossos irmãos que se amontoam debaixo dos viadutos, carentes de tudo. A realidade salta aos olhos em cada esquina. Minhas queridas companheiras e meus queridos companheiros, reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e brasileiras, sobretudo daqueles que mais necessitam, de acabar outra vez com a fome neste país”, declarou.
Assessoria de Comunicação/PSB nacional