Autor: João Ygor Gomes
Gestor Governamental de Carreira na Prefeitura da Cidade do Recife
Membro da Executiva Nacional da Juventude Socialista Brasileira
O Brasil está em chamas! Na epopeia do atraso, a Amazônia é o ambiente da conquista vil, da destruição de povos que desconhecemos, da aniquilação do futuro. Bolsonaro é um mito que promete a morte, uma ode ao ódio que inebria nosso povo desacreditado. Ele zomba de problemas sérios e cria polêmicas sobre questões prosaicas. E, nesse “caroço de angu”, ainda temos uma sociedade mais desigual semana após semana, que não mais produz crescimento significativo da renda do trabalho.
Nas últimas semanas, o Presidente da República provou do veneno destilado por si próprio: desmontou todas as políticas de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas e agora está desprovido do instrumental adequado para combater os incêndios na Amazônia. Não é preciso ser especialista, basta não acreditar que a Terra é plana para saber que o aumento do desmatamento, aquele mesmo denunciado há poucas semanas em levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e ardilosamente negado por Bolsonaro, causa o aumento de queimadas florestais. Com a desestruturação do IBAMA e do ICMBio, torna-se praticamente impossível refrear o avanço de grileiros sobre regiões protegidas. Mas a principal pauta “ambiental” de Bolsonaro tem natureza de “vanguarda do absurdo”: transformar Angra dos Reis (RJ) em “Cancún brasileira” – e evitar ser multado novamente por pesca irregular, claro.
Qual a solução, então? Primeiro, negar que existe um problema. Segundo, acusar irresponsavelmente ONGs de causarem incêndios criminosos para atrapalhar a imagem do país lá fora. Esse é o modus operandi bolsonarista: nega um problema real e cria um factóide como “cortina de fumaça”, com o perdão do trocadilho. Isso já funcionou bem nos últimos meses, conseguiu encobrir muita sujeira. No entanto, quem diria que a pauta ambiental, logo aquela que supostamente atrapalha o desenvolvimento nacional, se tornaria o calo do governo a ponto de obrigá-lo a pronunciar-se em horário nobre na TV? Claro, o personagem Bolsonaro do pronunciamento dessa sexta (23) é uma caricatura de estadista e que acabará sendo lembrado apenas como a versão tupiniquim de um dos Imperadores de Roma: Nero. Essa retórica negacionista do Presidente da República é irresponsável, pois qualifica as políticas climáticas como desnecessárias e estimula a ação dos agentes econômicos predatórios, os quais não pretendem aliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. É madeira ao chão e fogo para erradicar a esperança!
Mas a trama circense de pirotecnia do Governo Bolsonaro, que nada guarda da bela arte circense, parece não ter fim. O Presidente não se contenta em querer indicar o próprio filho para a Embaixada brasileira em Washington, ainda que o rapaz seja incapaz tecnicamente para tal. Não se contenta em atentar contra a liberdade de imprensa ao intimidar jornalistas que apenas cumprem as suas funções profissionais. Nem tampouco se importa em trazer à tona história do “porão” da Ditadura Militar e tratar com desdém o sentimento de alguém que perdeu o pai com apenas 2 anos. O epítome do atraso, na verdade, está expresso na negação da desigualdade e dos seus subprodutos. Negar que há gente nesse país que regrediu ao estágio da fome ou que desistiu de procurar emprego depois de muito tentar é quase como querer apagar essa parcela social da vida real, descartando-a, inclusive, das planilhas dos institutos de pesquisa do país. É querer recontar a história ao seu bel-prazer, desprezando o sofrimento do povo brasileiro.
Parece estranho que estejamos falando sobre desigualdade em um texto de alerta para a tática incendiária de “BolsoNero” na Amazônia. Não há como dissociar as temáticas. Ora, não há redução das desigualdades econômicas caso não haja suficiência de trabalho e de emprego para aumentar a renda. Numa perspectiva catastrófica das mudanças climáticas, como será a vida do trabalhador rural se não houver a terra propícia ao plantio? Como será vida do trabalhador urbano quando itens da cesta básica demandarem importação, pois o nosso setor primário já não produzirá mais na quantidade adequada, fruto do impacto das mudanças climáticas? Se não houver geração de trabalho e de emprego, o principal instrumento de combate às desigualdades, isto é, o incremento na renda do trabalho restará inviabilizado. Os programas de transferência de renda não serão suficientes para preencher essa lacuna no futuro e a desigualdade poderá se aprofundar ainda mais.
E a solução? Diferentemente de Bolsonaro, não adianta defendermos propostas simplistas para contextos extremamente complexos. Existe muita gente competente que estuda as questões ambientais, especialistas com os quais devemos aprender. O que não podemos é aceitar a ideologia do “negacionismo irracional”, que se fundamenta em balbúrdias e que não possui lastro em teses discutidas no seio de comunidades científicas.
Na verdade, a solução é eliminar o foguetório de fakenews e enfrentar os problemas reais de nosso tempo, resumidos na pergunta fundamental: qual o projeto de desenvolvimento nacional do Brasil? O que não dá é bater continência para bandeira americana, de um lado, e acusar a Europa de práticas colonialistas, do outro. O entreguismo internacional e o desmantelo do Estado brasileiro tem um custo e ele acaba por ser cobrado quando nos tornamos marionetes de interesses alheios. Quem com fogo fere, com fogo será ferido. João Ygor Gomes Gestor Governamental de Carreira na Prefeitura da Cidade do Recife Membro da Executiva Nacional da Juventude Socialista Brasileira