O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, atribuiu ao sistema político-partidário-eleitoral “extremamente pulverizado”, com “pouquíssima nitidez programática” e “viciado” pelo financiamento privado de eleições a causa principal da profunda crise política instalada no país.
“É um sistema extremamente pulverizado, com 33 partidos legalizados e outros tantos buscando sua criação; com partidos com pouquíssima nitidez programática, política e ideológica; um sistema viciado que, principalmente pelo financiamento privado das eleições, se tornou corrompido”, afirmou Siqueira.
Ele participou do seminário “Perspectivas do Socialismo Contemporâneo”, na sexta-feira passada (27), no Hotel Praia Sol, em Nova Almeida, município da região metropolitana de João Pessoa.
O evento foi promovido pela Fundação João Mangabeira e contou com a participação do governador Renato Casagrande (ES), dos ex-governadores Márcio França (SP) e Ricardo Coutinho (PB), que atualmente preside a FJM. Também participaram secretários nacionais dos segmentos sociais do partido, economistas e cientistas políticos convidados.
No início de sua manifestação, o presidente do PSB disse que este é um dos “piores momentos dos 34 anos de período democrático”. Para ele, a crise é “essencialmente política e desencadeia a crise social, o desemprego, a recessão econômica, que é mais grave porque afeta a todos os brasileiros e brasileiras”.
Como a crise é partidária, avalia Siqueira, representa um risco ao modelo democrático.
“A democracia é um sistema de partidos, que são as suas colunas. Quando elas balançam, a democracia se enfraquece. Mas isto não é obra do acaso, é obra do mundo da política, da má política”, afirmou.
O seminário é uma iniciativa para refletir sobre a formulação de políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável, a inclusão social, o exercício da cidadania e o pleno exercício das liberdades individuais. As atividades realizadas durante o seminário tiveram como ponto de partida uma análise sobre o desenvolvimento do socialismo e o seu papel nas transformações mundiais.
A crise política é agravada, segundo ele, com a eleição de Jair Bolsonaro, um presidente “que não acredita nas virtudes da democracia, elogia as ditaduras brasileira, do continente e de outras partes do mundo, e também torturadores”. Vitória que resultou do desencanto de grande parcela da sociedade que não foi capaz de escolher os melhores quadros políticos na eleição de 2018.
“Isso é uma situação gravíssima, porque há um risco de a nossa democracia perecer”, acredita Siqueira, para quem ainda há formas de evitar o pior.
E é dos socialistas que o presidente do PSB espera atitude para evitar o avanço do conservadorismo e dos retrocessos impostos pelo atual governo.
“Nós, socialistas, temos a obrigação completa, total, absoluta de jamais desanimar diante do quadro que estamos a viver. Pelo contrário. A perplexidade é o que acontece, mas a atitude é aquela que nós devemos adotar como a medida necessária, eficaz e capaz de reverter esse quadro. Nunca devemos agir negativamente, é preciso levantar a cabeça, dar as mãos e adotar as medidas necessárias”, afirma.
A principal contradição deste momento opõe democracia ao autoritarismo, salientou.
Autocrítica
Diante de partidários, Carlos Siqueira não evitou a autocrítica. “Todos nós, na política, temos algum nível de responsabilidade sobre o que está acontecendo, uns mais outros menos, mas todos têm. A nossa parcela de responsabilidade, do PSB, felizmente, não é a maior neste caso. Há problemas, mas não se compara a outros partidos”, ressalva.
O resultado nas últimas eleições, elegendo três governadores, 32 federais e senadores, confirma, na opinião do socialista, a aprovação do partido.
“Nós não podemos dizer que foi o melhor, mas nas circunstâncias foi bom”, avalia Siqueira, que destaca como exemplo o desempenho de Márcio França na disputa pelo governo de São Paulo. Num colégio eleitoral de 32 milhões de votos, comentou, o ex-governador perdeu por apenas de 300 mil.
Autorreforma
Carlos Siqueira falou sobre o processo de autorreforma, aprovado pelo Diretório Nacional, que se inicia em novembro deste ano com uma conferência nacional. Nela, um text-base será discutido e aprovado para provocar o debate nacional que resultará na atualização do manifesto e do programa partidário, ambos de 1947, e em novas regras internas.
O debate se dará com todos os filiados pelo país, mas também, de forma inédita, com variados setores sociais, desde empresários a trabalhadores, entidades de classe, sindicatos, imprensa, estudantes.
“Diante das falhas do sistema político e da necessidade de recuperar sua legitimidade, o PSB dará o primeiro passo buscando sua autorreforma. A participação de todos os socialistas é fundamental neste processo”, afirmou.
Segundo ele, a iniciativa é uma demonstração de inconformismo com a atual situação, de consciência de que é preciso assumir erros e buscar a mudança.
“A democracia é um sistema de mudanças sem fim. Não tem um momento em que se diz que chegamos no ideal, ela sempre vai precisar melhorar”, defendeu.
Visão de país
Siqueira disse que se não tivermos uma visão clara sobre as grandes necessidades do país, os socialistas não estarão cumprindo a sua tarefa.
“Cada etapa exige do partido que ele possa compreender e ter a largueza não apenas dos problemas sociais, mas também dos problemas econômicos, fundamentais para sustentar as políticas sociais”, afirmou.
Sem desenvolvimento econômico, a criação de riqueza, crescimento econômico, emprego, trabalho e renda, não há como sustentar as políticas sociais, afirmou.
“O socialismo que nós defendemos é o socialismo para repartir riqueza, não pobreza, esse equívoco é do passado, esse equívoco não é do Partido Socialista Brasileiro, é de outros que fracassaram, e nós, quando chegarmos no poder central, não queremos fracassar”, disse.
Potencialidades
Siqueira ainda falou sobre os inúmeros recursos do Brasil e sua importância para o desenvolvimento. “É um país com potencialidades que pouquíssimas nações possuem. Por exemplo, os três grandes problemas do planeta nos próximo século será alimentação, energético e água. Temos recursos abundantes para resolver a todos esses problemas”, avaliou.
Defendeu, no entanto, que é preciso mostrar à sociedade brasileira essas condições, porque “a população e os governos só mudam quando as pessoas estão motivadas, sabendo é possível promover mudanças”.
A história brasileira dos últimos 50 anos confirma esse potencial de desenvolvimento, segundo o presidente do PSB. “Nesse período o país mudou mais do que nos 450 anos anteriores.”
“O Brasil de 50 anos atrás era um país muito atraso, praticamente agrário, mas desde a Revolução de 30 até hoje levamos o país a ser a oitava economia mundial, chegando a sexta posição. Se tivéssemos dado à continuidade às grandes políticas, com planejamento e capacidade de ver as nossas potencialidades, seríamos um país como a China, que enfrentava condições muito piores em 1949, quando fez a revolução. Hoje, os chineses são a segunda economia, a caminho do primeiro lugar no ranking econômico”, comparou.
O que está faltando para o Brasil avançar, questionou.
“Está faltando que tenhamos consciência disso, que estejamos motivados, que apoiemos e trabalhemos para eleger um governo capaz de fazer transformações sociais e econômicas estruturais, e possa tornar o país uma potência econômica não apenas para alguns poucos, mas distribuindo riqueza e renda para todos aqueles que se empenharam no desenvolvimento”, defendeu.
Ele lembrou da criação de grandes empresas brasileiras como a Petrobrás, a CSN, a Vale do Rio Doce.
“Isso tudo foi possível em dado momento, quando se criou a Petrobrás, que está entre as dez maiores empresas do mundo. Naquele tempo, os americanos e a imprensa conservadora ridicularizaram o governo por criar uma empresa de petróleo num país que não tinha petróleo. Cinquenta anos depois ela é uma das dez maiores empresas do mundo”, afirmou.
Siqueira criticou o discurso liberal que desqualifica o Estado. “É uma grande mentira dos liberais que dizem que o Estado é ineficiente. Ineficientes são eles para melhorar as condições de vida das pessoas. As principais empresas brasileiras são estatais. E isso não é uma invenção”, disse.
“Quem fez a Vale? O Estado. Quem construiu a Petrobrás? O Estado. E a CSN? O Estado. Quem construiu a Eletrobrás? O Estado. Ou seja, todas as grandes empresas nacionais nasceram no Estado, cresceram no Estado. Hoje, as privatizações e os olhos da iniciativa privada, sobretudo internacional, é para ter lucros excessivos e não para servir para os interesses estratégicos do nosso país”, criticou.
Nós não somos um partido estatista, de forma nenhuma, esclareceu Siqueira, e disse que reconhece a importância da iniciativa privada, em todos os níveis, do pequeno ao maior, mas reafirmou que “não podemos entregar as novas empresas estratégicas para beneficiar outros povos que não sejam os brasileiros e outros países que não sejam o Brasil”.
Ele lembrou que a então estatal Vale do Rio Doce foi vendida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por R$ 4 bilhões, dois anos depois, o acionista majoritário que a comprou teve um lucro de R$ 12 bilhões. “Pergunto se isso foi venda ou doação? Em que lugar do mundo se pode entregar uma empresa por esse valor e ter lucro três vezes maior que o preço dela dois anos depois”, questionou.
Portanto, concluiu, essas coisas não podemos aceitar como normais.
Ao final, disse que o desafio do PSB é ter uma visão completa e estratégica do país, aproveitando os exemplos dos nossos governantes e suas experiências exitosas nos Estados.
“Temos os pés no chão, mas a cabeça vai bem mais longe, porque o que nos conduz é o sonho, é a luz do socialismo, que pensa o bem, a igualdade, a fraternidade, que pensa que o mundo pode ser diferente e bem melhor. Se tivermos esse sonho, vamos fazer o que for possível agora e legar às futuras gerações as ideias que recebemos no passado e que sustentam nosso sonho hoje”, encerrou.
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Assessoria de Comunicação/PSB nacional