O deputado federal Luiz Flávio Gomes (PSB-SP), de 62 anos, faleceu na madrugada desta quarta-feira (1), em São Paulo, em decorrência de uma leucemia diagnosticada no ano passado.
Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, onde realizou transplante de medula em janeiro deste ano. Mas nos últimos dias seu estado de saúde se agravou.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, lamentou a morte de Gomes que “muito embora novato, se revelou um grande quadro político, um parlamentar respeitado, além de uma figura de extraordinário valor humano”.
Em nota, Siqueira afirma ainda que LFG foi um “obstinado pelo combate à corrupção”, “marcou sua rápida passagem pela Câmara com uma intensa e qualificada produção legislativa e despontava como um hábil articulador, respeitado por seu conhecimento jurídico”.
Gomes era doutor em Direito pela Universidade Complutense de Madri, com mais de 60 obras de direito penal, constitucional e combate à corrupção. Antes de chegar ao Congresso Nacional, atuou como agende de polícia, delegado, promotor, juiz de direito e advogado. Graduou-se pela Faculdade de Direito de Araçatuba, em 1979.
Nacionalmente, ganhou projeção ao criar a rede de ensino LFG, especializada em cursos da área jurídica e preparação para concursos, pioneira no Brasil em transmissão via satélite. Em uma década, a rede chegou a dois milhões de alunos distribuídos em mais de 450 escolas em todo o país.
Indignação com a desigualdade
A certeza de que a corrupção é um agravante das desigualdades sociais levou Luiz Flávio Gomes a criar o movimento “Quero um Brasil ético”. A partir daí é que passa a se interessar pela política partidária.
Em 2018, filia-se ao PSB e se elege para o primeiro mandato com mais de 86 mil votos. Segue o exemplo de seu pai, que foi prefeito de Sud Mennucci, cidade de sete mil habitantes, onde nasceu.
Há quase um ano, em um perfil publicado no Valor Econômico, LFG recordou sua infância e juventude na pequena cidade. Lembrou que ainda criança colheu algodão e estudou em escolas públicas. “O primeiro grande livro que li foi ‘Casa-Grande e Senzala’, de Gilberto Freyre, eu tinha 15 anos”, contou.
Aos 19, ele perde o pai – morto a facadas, um mês após completar o mandato na prefeitura. “A morte do meu pai complicou porque ele me ajudava, tive que me virar aos 30 anos”, relatou o jurista, que era o mais velho de seis irmãos.
Mas a perseverança nos estudos garantiu cedo seu ingresso no serviço público, como agente de polícia e depois delegado. Aos 22 anos, tornou-se promotor de justiça e aos 25 anos juiz de direito.
Na entrevista ao jornal, LFG revelou um de seus hábitos prediletos: a leitura, possuía uma biblioteca com 5 mil livros.
Referência jurídica
No parlamento, Gomes foi um dos deputados mais atuantes e com maior produção legislativa, apresentando 132 propostas.
Em pouco tempo, o estreante LFG também se tornou uma referência para colegas, e mesmo para a Presidência da Casa, diante de questões complexas em tramitação.
Como coordenador do PSB na Comissão de Constituição e Justiça, levantara 15 pontos considerados inconstitucionais na proposta do governo para a reforma da Previdência. Não negava a necessidade de uma reforma, mas sem sacrificar direitos dos mais desfavorecidos.
“A proposta do governo tem crueldades com a base da pirâmide, é dura com os médios, que chama de privilegiados. E os bilionários que devem ao INSS, até a embaixada americana deve milhões ao INSS”, criticou à época. “E a turma da cobertura, não chega nela?”
Sua indignação com o aprofundamento das desigualdades sociais o fazia elevar o tom de voz e vociferar contra seus defensores, como o atual ministro da Economia, Paulo Guedes.
Esperança de mudança
Mas a esperança na mudança o fazia encarar sempre novos desafios. Depois da votação da reforma da Previdência, aceitou assumir a relatoria da proposta de emenda constitucional (PEC) de reestruturação dos Tribunais de Contas nas três esferas públicas. Na entrevista ao Valor, ele adiantou que sua “postura teórica” era a de eliminar as indicações políticas nas cortes.
O deputado articulava ainda com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma nova redação para uma PEC do fim do foro privilegiado, o que para ele se tratava de uma “excrescência aristocrata”.
Esteve à frente da criação do Grupo Parlamentar Suprapartidário (GPS), uma iniciativa que, segundo ele, procurava consenso entre deputados de diversas tendências ideológicas para encaminhar a votação de propostas consideradas importantes.
“Tenho esperança de que é possível transformar o Brasil, que não pode mais ser o Brasil do obscurantismo e do atraso, é preciso mudar suas estruturas de poder, com mais democracia, mais transparência e, sobretudo, mais efetividade na função parlamentar”, defendeu, após a primeira reunião do grupo.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional